Coincidência ou não, Christian Luis, 43, nasceu no mesmo mês (outubro) que o artista espanhol Pablo Picasso e no ano de sua morte, 1973. Possuem, além das datas, algo mais em comum: a arte. Guardadas as proporções, Chris, sócio e diretor de pós-produção da Sagaz Filmes, tem a pintura como hobby. O interesse pode ter surgido a partir da influência de sua família, repleta de artistas. Ele não sabe dizer ao certo quando tudo começou. “É difícil mensurar um tempo, já que na minha família pintar era algo muito natural e fazia parte do nosso cotidiano. Estávamos sempre produzindo ou acompanhado minha mãe em suas produções artísticas”, diz.

 

O avô – chamado de Ernesto pelos brasileiros e de Hanz Ernest na Alemanha – veio para o país fugido da guerra. Era artista, escultor, mas chegou sem falar o idioma e se virou como pintor de objetos e casas. A mãe de Chris faz esculturas e pinta com tinta a óleo. Quando criança, ele tentava pintar com a mãe, mas não tinha paciência de esperar a base da tinta óleo secar de um dia para o outro. Quando enveredou para o mercado da produção, alguém lhe falou sobre a tinta acrílica, foi então que desabrochou seu interesse pela pintura. “Eu comecei a pintar no fim da década de 1990, quando tinha uns 24 anos. Nessa época, tive acesso à tinta acrílica e foi com o uso dela que consegui desenvolver minhas telas. Achei uma forma de me expressar”.

 

Começou com figuras abstratas até se encontrar pintando “suas cabeças de negros”. Seu pai é filho de negro com japonês. “Acho bonito, os rostos, as formas dos negros me inspiram bastante. Boca grande, cabeça grande e nariz achatado”. O desenho foi ganhando traços bem característicos. Personalidade marcante. Desde 2001 já pintou cerca de 30 telas, que estão distribuídas entre a Sagaz, sua casa, onde possui um ateliê, e a de familiares. Não se desfaz das telas, diz ter ciúmes.

 

Christian vê total sinergia entre hobby e seu trabalho. “Desenvolvo layouts que envolvem combinações de cores, diagramações criativas, todos fazem parte das minhas composições e animações. Sou um apaixonado por conhecimento, pesquisa e treino. Toda forma de arte me impacta e fascina. Para pintar uma tela, geralmente tenho um processo criativo em que começo pelos estudos prévios de formas, depois de cores da base e das interferências dessas cores. Quando inicio a pintura, tudo vai se transformando. Muito do que concebi está lá e um tanto ganha forma na inspiração do momento”.

 

E inspiração é o que não falta, seja no ambiente profissional ou no familiar. O irmão mais velho também é entusiasta da pintura, prefere a óleo e com temas mais reais, menos gráficos. A mulher é atriz, o sogro, musicista. “Ele tem um ouvido incrível e toca violão, viola”. Ao que tudo indica, a arte deve alcançar mais uma geração: o filho de quatro anos do casal acompanha a mãe estudando e falando de teatro… “Ele me observa desenhando, pintando, estudando, além das cantorias e dos ‘shows’ que fazemos juntos. Acredito que tudo isso o influenciará com o passar dos anos”.

 

Se Fernando Pessoa estiver certo, no que diz respeito à arte se basear na sensibilidade, essencialmente na sensibilidade, há uma explicação para a experiência que Chris teve em 2009. “Pintei uma tela com uma cabeça extremamente andrógina: do olho esquerdo sai um mosaico de cores que ultrapassa a cabeça e se expande por trás dela”. No fim daquele ano, ele sofreu um “AVCI” (em decorrência de uma ablação cardíaca), perdeu a visão e permaneceu por duas semanas na UTI, até voltar a enxergar com certa dificuldade. “Por conta da lesão, eu tinha um brilho intenso do lado esquerdo da minha visão, exatamente o olho que eu havia pintado. Depois de alguns meses, um dia eu estava em casa e me dei conta de que aquela tela tinha exatamente esse brilho, penso que foi uma premonição eu ter pintado essa tela meses antes ou somente uma delicadeza do destino”. Hoje, completamente recuperado da lesão, enxerga perfeitamente e continua a pintar.