Alê Oliveira

Sócio e vice-presidente da RedeTV!, Marcelo de Carvalho cresceu no meio da indústria de comunicação. Seu pai, o publicitário Edro de Carvalho, que foi sócio de Julio Ribeiro na JRM na década de 1970, inspirou sua paixão pela televisão. Marcelo começou a trabalhar no departamento comercial da Rede Globo em meados dos anos 1980. Lá conheceu seu sócio Amilcare Dallevo Jr., com quem adquiriu a Rede Manchete e, em novembro de 1999, inaugurou a Rede TV!. Nesta entrevista, o executivo faz um balanço da trajetória da emissora, que está prestes a completar 20 anos no ar, fala da sua carreira como apresentador e sobre suas expectativas com o mercado. 

A RedeTV! comemora em 2019 duas décadas de atuação. Que balanço você faz dessa trajetória?
Não gosto muito de marcos. Particularmente, detesto aniversário e Réveillon. Nunca dou festa e sempre procuro fugir dessas datas. Espero que não me convençam ou não convençam o meu sócio, Amilcare Dallevo Jr., a fazermos algo. Mas, sem dúvida nenhuma, é um momento de reflexão. A boa é que nós construímos uma das fábricas mais modernas de televisão do mundo. Ninguém é tão digital como a gente. Em termos de conteúdo, temos de entrar em dramaturgia, pois não podemos ter uma programação variada sem ter o gênero na grade. Mas também já disse que jamais serão novelas. Acreditamos que o caminho serão séries e minisséries. É o que domina o mundo. Tivemos uma boa experiência com a Disney, com a produção da série Donas de Casas Desesperadas. Em termos de audiência, faturamento e prestígio foi muito bem, mas agora queremos ampliar. Era para começar neste ano, mas a economia do país nos levou a colocar o pé no freio. Para o futuro, o norte será o digital. Tenho quatro filhos em casa, de 7 a 19 anos, e essa garotada se abastece do conteúdo oriundo do digital.

Como você analisa o atual momento da TV aberta no Brasil?
A empresa que estiver bem situada no digital e com uma capacidade boa de produção de conteúdo vai poder se aproveitar de um novo ciclo, onde você possa rentabilizar melhor os seus investimentos. Não acredito na estagnação do modelo, acredito que você precisa pensar fora da caixa. É um momento entusiasmante, apesar da crise econômica. Teremos mudanças nos próximos cinco anos para melhor. Acredito.

A experiência de muitos anos na área comercial lhe ajudou nesse processo?
Sem dúvidas. A minha experiência na área comercial é anterior ao trabalho na Rede Globo. Sou engenheiro químico de formação e comecei a minha vida vendendo produtos manufaturados, então, vender projetos de comunicação foi uma coisa maravilhosa. Acredito que qualquer empresa do mundo para ser bem-sucedida precisa ter os dois pés no comercial. É o que faz a roda girar.

Em 2010, você estreou como apresentador no programa Mega Senha, como ocorreu essa transição?
Não larguei os meus outros trabalhos. Sou apresentador também. Brinco que os meus dois únicos dias felizes são os que gravo o programa. O resto é só porradaria. Sou de uma geração de executivos que precisou se comunicar muito em convenções, palestras etc. A diferença é que, em vez de falar com dezenas ou centenas de pessoas, você fala com milhões. É muito gratificante. Faço no ar o que gosto. Adoro o contato com o público dentro e fora do estúdio.

Já são dois programas no formato de game show, você acredita que esse é o seu caminho? Tem vontade de fazer alguma outra coisa?
Este é só o meu caminho. Não quero fazer mais nada. E não farei. Não descarto a hipótese de realizar um terceiro formato, mas sempre nessa linha. Já me ofereceram fazer diversas outras coisas, como, por exemplo, um programa de entrevistas similar ao do Roberto Justus, na Record, mas achava aquilo muito chato. Gosto de programa que distribui dinheiro, que tem plateia. Quero que as pessoas se divirtam, torçam e falem bobagem. É disso que eu gosto. Não tenho nenhuma outra pretensão a não ser realizar um programa de sábado à noite que seja divertido e tranquilo.

O investimento na transmissão de eventos esportivos também é uma aposta da emissora? 
A Premier League é o campeonato mais importante sob o ponto de vista de quantidade de jogadores estrelados do mundo. Você tem 130 jogadores que estiveram na última Copa do Mundo. Lamento que haja esse monopólio do esporte. É mais uma das grandes barbaridades do nosso mercado. Mas ainda existe no resto do mundo esportes que você vai lá e garimpa para transmitir com exclusividade na televisão aberta. Nós fomos os precursores da UFC e foi um sucesso. Mas depois a Globo foi lá e fez uma oferta maior para a transmissão. Estamos sempre de olho em formatos em que podemos ser protagonistas.

Em 2018, a Rede TV! criou a própria empresa de conteúdo digital, a Peanuts, como andam os projetos?
A Peanuts engloba o portal, as nossas atividades no Instagram, Facebook, YouTube, enfim, as nossas plataformas digitais. Temos planos de nos associar a mais influenciadores e de montar outros canais de conteúdo. É uma coisa fortíssima, extremamente importante e a gente acha que este é o futuro. Contratamos até um time de criação diferente da televisão para desenvolver conteúdos. O elenco da RedeTV! também deve participar desses projetos, mas não serão os mesmos assuntos da televisão. No jornalismo, por exemplo, você poderá conferir uma matéria na televisão e na internet acompanhar maiores detalhes sobre o assunto. É um mercado muito animador.

O mercado anunciante responde bem a esses projetos?
Sim. A internet, sem dúvida nenhuma, é uma coqueluche mundial. O país está muito aberto a produções para outras telas.

A Rede TV! pensa em ter o próprio serviço de streaming?
É um caminho que precisa ser pensado. Eu, particularmente, não assinaria dez serviços de streaming. Não há dúvidas que o on demand é uma tendência, pois todo mundo quer assistir o que quer na hora que quiser, mas há maneiras mais lógicas de fazer isso do que fazer dez serviços iguais. Por exemplo, as emissoras que fazem parte da Simba poderiam ter um streaming dela. Ou seja, você teria acesso à programação da RedeTV!, SBT e Record em um único lugar. Se você comparar o número de visualizações do streaming com os do YouTube, é uma vergonha. 
A Amazon deverá ser o grande produtor ou comprador de conteúdo no ano que vem. Passando a Netflix. Acho muito arriscado essa história brasileira de dizer que teremos diversas plataformas de streaming. Vai ficar muito caro para o consumidor essa história. Quem for dono do conteúdo terá mais chances.

E como andam os projetos com a Simba, empresa que envolve RedeTV!, SBT e Record?
Atualmente somos remunerados pelo nosso conteúdo na TV por assinatura. De todo o dinheiro que entra, somos obrigados a investir 20% em conteúdo novo. Ou seja, em breve teremos canais e séries novas distribuídos através de operadoras ou de outras plataformas, não necessariamente pelos nossos canais. Em 2019, a Simba deverá ser, contando com os recursos próprios e, eventualmente, alguma coisa de créditos, a empresa nacional com a maior capacidade de investimento em novas produções. Então, nós vamos contratar pessoas, roteiristas, artistas e comprar equipamentos. Teremos uma diversidade maior de conteúdo para o público.

Quais são os próximos projetos e apostas da RedeTV!? 
Não temos um calendário formal de estreias, pois não acredito muito nisso e, também, essas coisas complicam a comercialização. Devemos ter mais telejornais regionais em nossas praças de Minas Gerais e Nordeste. Fechamos com a Formata o reality show Entubados, que nasceu na TV fechada e agora vamos trazer para a TV aberta. O formato consiste em trazer oito influenciadores de primeira linha com um grande apresentador, que ainda não posso revelar quem será. Na semana passada estreamos Tricotando, o novo programa de variedades da emissora. Além disso, estamos sempre de olho em novos campeonatos esportivos. E, melhorando a situação econômica, o próximo passo da RedeTV! é apostar na dramaturgia, que é o que falta em nossa grade de programação.