Ao pensar nas minhas fontes inspiradoras, recorri ao dicionário para compreender a extensão da palavra inspiração. E me encantei com o que li: “força criadora de origem transcendente e sobrenatural; iluminação súbita e geralmente genial, que tem efeito animador e estimulador da criatividade do artista”. 

E então lembrei-me de uma frase que cresci ouvindo. “O grande sofrimento do Criador: tirar tudo de um nada qualquer, e depois ser julgado por qualquer um que nem com todos os tudos do mundo seria capaz de fazer um simples quase”, escrita pelo meu avô, Hélio Ribeiro, ator, jornalista e radialista.

Foi então que percebi que pessoas me inspiram. Primeiro ele, meu avô materno, apaixonado por poesia. Lembro-me do brilho que vinha dos seus olhos quando colocava o ponto final em uma das suas.

A lembrança dessa época nos fez editar seus três livros e, assim como ele desejava, não os vendemos, mas doamos todos os exemplares para asilos.

Marília Pêra é outra pessoa que sempre me inspirou e será fonte eterna de inspiração. Versátil, insubstituível e inesquecível. Uma mulher fantástica que tive a oportunidade de conhecer trabalhando. E mais: que mostrou para mim a mais nobre qualidade de um artista, a humildade.

A magia dos musicais da Broadway, em Nova York, os antigos musicais de Hollywood, especialmente com Fred Astaire e Gene Kelly, e os movimentos leves e precisos do bailarino russo Mikhail Baryshnikov também são fonte de inspiração para mim.

A dança, na verdade, sempre fez parte da minha vida. Gosto de ficar observando minha gata, Sarah, uma persa linda, se mover de um jeito leve e fazendo movimentos perfeitos. Quem pode dizer que a maneira como ela caminha não é dança?

Gosto ainda de ver toda a força contida no trabalho da Deborah Colker e também de acompanhar o trabalho da Regina Miranda, bailarina, coreógrafa e diretora teatral, incansável em fazer com que a dança e o teatro brasileiro sejam mais e mais profissionais e atinjam o nível de produções internacionais.

Mas nem só pessoas são fontes de inspiração. Assim como a Broadway, que transforma a vida de tanta gente, não importa se espectadores ou artistas, o Teatro Tablado, no Rio de Janeiro, traz boas lembranças e faz com que eu me sinta em casa. O lugar é uma espécie de santuário para mim, onde passei dois anos estudando e outros muitos trabalhando. Amo estar ali, amo as histórias fantásticas do passado e do presente e as que ainda poderão ser contadas. Fora que é muito inspirador ver pessoas que passaram por lá conquistando seus espaços no mercado de trabalho.

Outro lugar que sempre carrego comigo e traz também ótimas lembranças é Itaipava, na Região Serrana do Rio. Um lugar calmo, silencioso e mágico. Meu canto de meditação, o lugar onde consigo parar para pensar na vida.

Temos uma casa de família lá, projetada pela minha mãe, o que faz com que Itaipava ganhe um ar ainda mais especial. É lá que me refugio nos fins de semana, sempre acompanhada de pessoas queridas que, mesmo em meio ao dia a dia atribulado, são também são fontes de inspiração para mim.

Bem, agora que chego quase no final desse texto, vejo que parar para pensar no que me inspira me fez perceber com clareza que sou inspirada por pessoas que admiro, por gente que acredita em paixão, humildade e em entrega.

Percebo ainda que todas essas pessoas deixaram alguma marca em mim, mesmo que algumas eu só tenha admirado na tela do cinema ou em cima de um palco.

Assim como vejo que mesmo os lugares que admiro são também reflexo das pessoas que passaram e passam por eles.

Ariane Rocha é atriz, bailarina e coreógrafa. Fundou o canal de YouTube Aturando

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