Muito antes de ser cara pintada na década de 1990, eu já sabia que a política faria parte da minha vida de alguma forma. Foi por causa dela que, desde muito cedo, tinha desculpas para sair da sala de aula e passar em todas as salas da escola para fazer algum comunicado. Adorava estar engajada e conectada — à moda antiga, é claro!

Foi por causa da política, já no governo Collor, que participei das manifestações mais genuínas na minha vida: sexta-feira à tarde, eu e minha amiga Cibelle íamos para a porta do Palácio do Planalto esperar o presidente da República descer a rampa e lá o vaiávamos com toda a força. Participei e me envolvi diretamente em vários movimentos em prol da escola pública, da meia entrada estudantil e tantos outros… Mal sabia eu que, de alguma forma, já fazia relações governamentais!

Certa vez, no segundo grau — mesmo proibida pelo meu pai de ir para a passeata, pois estava com o pé engessado — subi em cima do carro de som e fui gritando palavras de ordem. Assim, segui me apaixonando por este universo e, quando chegou a hora de entrar na faculdade, não deu outra: escolhi o curso de ciência política.

Durante a graduação eu sabia o que não queria fazer… Não queria dar aula, não queria fazer pesquisa e só tinha a certeza que queria mudar o mundo! No fundo, eu acreditava que deveria ser agente ativo e não passivo das mudanças no Brasil. E aí escutei falar de lobby, mas naquela época não existia quase nenhuma informação sobre essa atividade. O pouco que existia fazia a gente querer sair correndo em vez de querer ser lobista.

Mais tarde, percebi que eu fazia lobby desde sempre: desde muito nova tentava — e muitas vezes até conseguia — convencer as pessoas do meu ponto de vista, era eficiente em minhas negociações

de que balada ir (acredite, era bem complexo convencer Cibelle a ir às festas que eu adorava) e, de uma forma muito simplista, isso era fazer lobby. E eu gostava muito.

Entendi, então, que minha enorme vontade de mudar o mundo seria o meu impulso para trabalhar com relações governamentais. Como cidadã, eu podia e devia fazer isso dentro da minha carreira, e, por mais incrível que possa parecer, outro dia fui chamada de ingênua. Continuo acreditando, depois de 20 anos de formada, que sou parte deste processo de mudança.

Nessas duas últimas décadas, mesmo com inúmeros casos de corrupção, dos sobe e desce na carreira, das crises quase que diárias na política brasileira, participar de alguma forma do processo político tem feito valer a pena todas as escolhas que fiz até agora. Estar envolvida na tomada de decisão de políticas públicas que impactam a sociedade é um sonho, e percebo que diariamente me inspiro e transpiro por e para um mundo melhor.

Nada é mais gratificante do que ver uma política pública bem feita, eficiente e eficaz. Sério! E aí você deve estar se perguntando: como ela consegue conviver o tempo inteiro com o mundo da política (sim, mais da metade do meu tempo acordada)? É um exercício diário de acreditar que podemos mudar, que cada um de nós tem papel fundamental neste desafio da mudança. Tem horas que me desanimo? É claro! São muitas denúncias, muita corrupção, muita gente que não quer nada… Mas logo conseguimos, por exemplo, influenciar o Congresso Nacional pela causa das doenças raras, realizamos reuniões excelentes para discutir a sustentabilidade da cadeia produtiva do cacau ou o aumento do consumo do suco de laranja, e aí me inspiro mais uma vez e bola pra frente.

E você, está a fim de mudar o mundo?

Anna Paula Losi é diretora da prática de assuntos públicos na Burson-Marsteller Brasil

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