A Clara, minha filha, tinha acabado de fazer seis meses quando eu voltei a trabalhar.

Na minha volta, participei de uma reunião com uma antropóloga para um briefing de uma campanha de um cliente da agência.

No começo da reunião, a antropóloga fez uma pergunta inesperada para a turma que estava na sala: “Quem aqui poderia falar sobre a última vez em que se sentiu apaixonado?”.

Eu não tive dúvidas e fui a primeira a responder: “Faz exatamente 45 minutos que eu me senti apaixonada. Ela sorriu, e eu continuei: “Foi hoje pela manhã, quando saí de casa e dei um beijo na minha filha”.

Até hoje, depois de 8 anos, ainda saio de casa apaixonada por ela. A Clara é, com certeza, minha maior fonte de inspiração.

Ela é uma criança curiosa, e eu tenho de confessar que as crianças sempre me inspiraram. É através do olhar delas que eu vejo “um mundo melhor no futuro”.

As crianças me inspiram a não ter uma atitude arrogante diante do desconhecido. Ensinam-me a olhar para o outro e aprender coisas novas.

As crianças me inspiram a dançar, a interpretar, a cantar sem medo de parecer ridícula.

A verdade é que elas despertam a minha criatividade e a vontade de querer fazer.

São elas que me inspiram a brincar mais e a me desenvolver sendo mais observadora e criativa.

A criatividade das crianças passa por ver o erro como um processo de aprendizagem; a mudança para o crescimento é encarada naturalmente.

Assim como muitos, eu estou vivendo uma mudança no meu trabalho.

Eu conecto pessoas, preciso saber reconhecer uma grande ideia e transformá-la em um bom negócio para o cliente e para a agência.

Por isso a inspiração vinda das crianças nunca foi tão importante para mim quanto agora.
Hoje, o brincar – ou, como dizem alguns, o “hackear” – é fundamental para encontrar novas possibilidades para o futuro da agência.

Estamos vivendo uma nova era. Mas para as crianças estamos apenas vivendo a realidade do dia a dia.

Um exemplo disso é que para elas não existe a transformação digital que está pautando as nossas conversas.

Para elas o digital é o hoje, o agora.

Mesmo assim, a transição do analógico para o digital ainda impacta o meu trabalho, não só pela entrada de novas tecnologias, mas também porque essa transição muda a nossa forma de pensar e de nos comportar.

A curiosidade virou a palavra de ordem. O “erro” está sendo valorizado e visto como uma nova forma de aprender.

Nunca foi tão importante o olhar para o outro e saber trabalhar junto.

Nessa transição não tem espaço para quem não quer se adaptar e se tornar um agente da mudança.

Na minha opinião, o olhar curioso das crianças é a melhor referência para o novo mercado da comunicação que está surgindo, temos sempre alguma coisa nova para aprender.

Novos meios, novas formas de transmitir a mensagem, novas plataformas, um novo mindset estão transformando o negócio das agências e dos clientes.

Sem querer, a pergunta da antropóloga fez com que eu percebesse que a minha paixão era também minha inspiração para me reinventar e chegar até aqui.

Esse é o melhor momento da minha carreira. Sei que eu posso participar dessa transformação toda usando o que temos de melhor e mais humano: a curiosidade, a criatividade e a paixão por conhecer o outro.

E é por isso que faço questão de estar perto das crianças. Elas se divertem e aprendem em um piscar de olhos aquilo que penamos para processar.

A Clara tem muito a me ensinar. E eu sou muito grata por isso.

Cris Pereira Heal é diretora executiva de atendimento da FCB Brasil e VP do Grupo de Atendimento