O meu avô, o doutor Sully, é uma inspiração para mim. Um cabra que veio do Norte, mais precisamente de Belém, e que, há muitos anos, depois de migrar para o Rio de Janeiro, chegou em Brasília ainda na fase de construção da nova capital. O ano era 1957. 

Em meio à terra vermelha, aos caminhões para lá e para cá, à poeira intensa no ar, doutor Sully comia o pão que o diabo amassou e cuspia tijolo todas as manhãs.

E, assim, ele fez parte da construção da cidade que eu amo.

Fez uma família inteira acreditar no sonho dele e de JK.

Lutou, venceu e, infelizmente, faleceu no dia do aniversário da cidade, 21 de abril.

Foi quase um combinado, um feriado para que todos pudessem fazer uma despedida especial para ele.

Para mim, foi uma das pessoas mais criativas do mundo, cuja história de vida gostaria que inspirasse mais pessoas além de mim.

Outro exemplo de pessoa que me inspira vem de fora da minha família. Uma amiga em comum nos apresentou, e, a partir daí, o Anderson França, mais conhecido como Dinho, um jovem idealista, se tornou uma fonte de inspiração para mim.

Conheci Dinho como um morador da Maré, no Rio de Janeiro, querendo construir uma agência digital na favela para impulsionar os moradores com conhecimento e também colocar a comunidade em um outro nível de comunicação.

“Que cara doido!”, pensei. “Ele está querendo mudar o mundo a partir de uma comunidade, isso só poderia acontecer no cinema”.

A conversa foi impressionante, papo bom, ideia fora do comum. Eu me propus a ajudá-lo. 
Pouco tempo depois, Dinho encontrou realmente a sua vocação, ele começou a escrever.

O seu primeiro texto fez sucesso no Facebook, tinha o título O dia em que fui no Olympe, no qual ele narra, com uma acidez que lhe é peculiar, a visão de um suburbano em um dos melhores restaurantes do mundo.

Ele explodiu, empreendeu, fez sucesso, escreveu livro e hoje é um dos roteiristas da Rede Globo. 
Dinho é o cara mais corajoso que eu conheci na minha vida, e só anos depois tive a coragem de dizer isso para ele pessoalmente.

Pensando na força do meu avô e na coragem do Dinho, me dou conta de que o que realmente me inspira, na verdade, são as pessoas.

As suas histórias, que narram batalhas, enfrentamentos e conquistas.

A vida me faz pensar que o que existe de mais valioso é aquilo que podemos levar para a cadeira de balanço.

O mundo é um universo de histórias possíveis e, a cada manhã, escolhemos algumas delas para viver.

Relembrando as batalhas, enfrentamentos e conquistas desses dois personagens da minha história, me dou conta de que o que realmente me inspira são as pessoas e as suas histórias
Não sei se nada disso te inspira, mas, de minha parte, só posso te desejar boas histórias e terminar esse texto sem um ponto final.

Mateus Braga é diretor-executivo de criação da Isobar Brasil