Desde pequeno, infernizei a vida dos meus pais para ter uma mobilete e a resposta sempre foi “quando você tiver o seu dinheiro você compra o sua”. 

A paixão era tanta, que uma vez, com uns 10 anos, aluguei a mobilete do segurança de um hotel que nos hospedávamos com frequência no interior de São Paulo. Não por acaso, acabei correndo por quatro anos os Campeonatos Paulista e Brasileiro de Motovelocidade e participando de três edições das 500 Milhas de Interlagos.

Participar destes campeonatos me ensinou muitas coisas. Entre as mais importantes, foram a dedicação e a resiliência. Nunca tive resultados expressivos, tirando um primeiro lugar em uma prova do Campeonato Paulista e um quinto lugar em equipes, em uma das edições das 500 Milhas de Interlagos.

Hoje eu vejo que a dificuldade em performar num ambiente tão competitivo e agressivo se assemelha bastante ao mundo corporativo.

Assim como as competições, os cursos de pilotagem que tive a chance de fazer me ensinaram muito sobre mecânica e sobre física relacionadas à performance, mas gostaria de destacar um ponto em particular que eu considero bastante interessante: vocês já tiveram a oportunidade de prestar atenção no olhar de um piloto de motovelocidade quando ele está na pista acelerando?

Ele está sempre concentrado. Olhando muito à frente de onde se está realmente naquele exato momento. E é esse olhar atento e acentuado que me ajuda, como profissional da comunicação, a prever e a me preparar para o futuro.

Vivemos em um momento turbulento e desafiador em nossa indústria, assim como uma corrida de moto. Muitas coisas vão acontecer e você precisa estar bem preparado.

Não só fisicamente, mas intelectualmente e mentalmente. Preparação física não é apenas para te ajudar a chegar ao final da prova, é importante para que a sua cabeça não pense em nada além da próxima curva ou ultrapassagem. Quando você cansa e começa a pensar em outras coisas além da corrida, você cai. E cair a mais de 200 km/h é complicado.

No dia a dia não podemos ou, pelo menos, temos de tentar evitar os tombos mais feios e que causam estragos. Precisamos estar focados.

Para mim, este é o paralelo da resiliência, da dedicação e da preparação das corridas com o dia a dia turbulento das agências.

Enquanto a motovelocidade é uma paixão de infância que me tornou uma pessoa confiante, preparada e atenta, a cultura sneakerhead – outra paixão – também sempre me inspira, me tornando uma pessoa curiosa e antenada.

Nas décadas de 1980 e 1990 não era tão fácil assim encontrar no Brasil os tênis mais legais e diferentes, mas, graças às viagens internacionais dos meus pais, a coisa ficava um pouco mais fácil para meu lado.

O que me despertou o interesse e uma paixão por tudo o que está por trás dos sneakerhead – como a cultura de rua, por exemplo.

Hoje em dia, a internet é uma grande aliada que me ajuda, diariamente, a me atualizar sobre esta cultura e a me antecipar às tendências e aos comportamentos.

Hoje, a cultura dos sneakers vai do skate às marcas de luxo. E esse mix de culturas e marcas permeia diversos universos: desde jogadores da NBA, um menino de 15 anos que vende tênis para celebridades de Hollywood, até músicos famosos.

E essa diversidade e efervescência de cultura é muito parecida com o mundo em que vivemos.
As marcas que hoje atendemos concorrem diretamente com a cultura e não somente com a marca concorrente. E precisamos estar preparados e atentos a isso.

Estes são assuntos bastante distintos, mas que me ajudaram e ajudam até hoje a driblar e compreender melhor os desafios do dia a dia.

Wilson Negrini é COO da Lew’LaraTBWA

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