Divulgação

No último dia 10 de abriram-se as portas do festival mais maluco de criatividade do planeta que este ano em suas 20-30 palestras simultâneas mistura mídias sociais, governo, maconha, entretenimento, realidade virtual, saúde, gastronomia, turismo, uma ansiosa salada de tópicos. Somam-se a isso as ativações de empresas como Samsung, Youtube, Google, Capital One, Cisco, Panasonic, Nat-Geo… Países estão representados por  todos os lados, entre eles, o Brasil – com a Apex -, Alemanha, França e Argentina, que trazem startups aceleradas pelos governos para mostrar os protótipos para teste com público ou em busca já de investimentos. Isso sem contar a vida social com eventos de network nas tardes e noites . Ah e também tem a feira de empresas e startups lançando ideias, produtos e questionamentos.

E esta é‘ somente a primeira de três partes do festival que tem continuidade com o de música e de filmes independentes, que este ano lança até produção do  Tom Cruise. É assim que Austin, a relativamente pacata cidade no meio do superconservador Texas, recebe mais de US$ 300 milhões nos 13 dias de festival com mais de 140 mil participantes.

Em meio desse caos organizado, que é o tema do festival este ano, relato a partir de agora, algumas palestras que me chamaram a atenção até este quarto dia de evento.

O super divertido vice-presidente da era Obama, Joe Biden, agora carrega a bandeira de cura do câncer com a Biden Foundation. Com base no seu drama familiar, veio ao SXSW pedir ajuda para pressionar a implantação das medidas que sugeriu durante seus oito anos de governo quando criou o Moonlight Ribbon Panel reunindo renomados cientistas que colaboraram na criação de institutos que geram e compartilham “toneladas” de  dados sobre a doença e que já tem 80 milhões de acessos.  Expressões como “share data” e “collaboration” foram palavras de ordem. Mapeamento do genoma, aprendizado sobre “hábitos” das células canceígenas, compartilhamento de comportamento das 275 novas drogas em teste estão na nuvem do Amazon à disposição tanto da comunidade científica, quanto de desenvolvedores interessados em “machine learning”. A globalizacao de big data trabalhando por um vida melhor.

Outro painel interessante foi o “Redefinindo Luxo Pelas Mídias Sociais”, que trouxe a Levis e Zady para falar sobre “atitude e estilo”. Marcas de luxo precisam ter e principalmente comunicar o que pensam e “sentem” em relação ao mundo. Impacto social, posicionamento político, ética, igualdade entre os sexos, toda a “personalidade” da marca precisa ser clara e divulgada para a sobrevivência na era digital. Para estas marcas são três os elementos que direcionam a escolha pelo consumidor, que compra em busca de vestir ícones de valores internos pessoais. Percepção da marca e seu posicionamento no mundo, tendência cognitiva em que pessoas criam um padrão de julgamento social e psicologia social que gera o sentimento de “pertencer” ao grupo com mesmos posicionamentos sociais. As marcas deixam de ser estéticas e passam a ser bandeiras ideológicas.

INTIMIDADE E DECEPÇÃO

Ao mesmo tempo e do outro lado da cidade estava acontecendo a palestra com Marc Jacobs, que falava sobre intimidade x mídias sociais. O superstar da moda aconselha novas gerações de fashionistas a “pedir ajuda”, “aceitar ajuda” e “não desistir”. Diz que não tem nada que ele não goste nele ou na marca neste momento, que prefere desenhar peças para ajudar as pessoas que a atual administração americana machucou, a vestir o presidente e “primeira família”, dando vazão  ao buzz sobre estilistas globais e boicotes a governantes americanos. Terminou falando que “se o mundo é um palco, a identidade é o figurino” .

Uma das mais esperadas palestras foi a de Ray Kurzweil, o super gênio tech futurista com 21 doutorados honorários e diversos livros e filmes sobre  sua “Singularity”, a teoria da superinteligência artificial. As filas para a palestra foram as maiores até agora e ele foi entrevistado no palco pela filha, que é cartunista. Para decepção geral, a entrevista girou em torno do livro que a filha Amy escreveu sobre as três gerações de mulheres da famíia.

Interessante, interativo, mas desviando do interesse geral do público presente. Nos poucos momentos focados nele, Ray diz que 2029 é  o deadline para que os supercomputadores “pensem” como seres humanos. Mostrou poesias, música e pinturas feitas por inteligência artificial,  processo realizado por reconhecimento de padrões de artistas indicados pelos programadores e pela hierarquização das informações por meio de algoritmos. O mesmo processo de aprendizado utilizado por nós, seres humanos.

Se fôssemos comparar, teríamos à disposição a inteligência criativa de um jovem de 16 anos.

Ray Kurzweil é considerado uma dos 16 revolucionários que construíram a América. Foi homenageado por três presidentes americanos e recebeu a Madalha Nacional de Tecnologia, tipo o Oscar do mundo tech.

*Natasha de Caiado Castro é sócia e VP de planejamento estratégico da Wish