2018, antes de 2050
O título deste artigo deve ter te intrigado. É óbvio que 2018 vem antes de 2050, oh colunista! Sim, mas o futuro distante é sempre mais atraente para previsões e devaneios. Desde a época de Flash Gordon e Jetsons, a gente adora sonhar com carros voadores, teletransporte e viagens intergalácticas.
O dia seguinte ou mesmo o ano seguinte é sempre menos charmoso, refletindo a crueza da situação, que nem sempre melhora na simples virada de calendário. Aproprio- me desse tema inspirado pelo report do Singularity University Global Summit 2017, evento que ocorreu em São Francisco recentemente. O encontro reuniu mais de 1.600 participantes de todo o mundo, com forte participação de brasileiros.
Como sabemos, a Singularity se destaca mundialmente ao tentar antever tendências e ajudar seus seguidores a acompanhar os movimentos da sociedade e do mercado. Daí o interesse.
As timelines dos mais antenados ficaram repletas de comentários sobre as tendências apontadas no resumo do encontro, divulgado pela Singularity. De fato, há insights muito interessantes sobre o futuro dos negócios e da sociedade, em geral. Vamos a alguns deles.
Em 2030, mil dólares vão comprar poder computacional equivalente ao cérebro humano. Em 2050, mil dólares vão comprar poder computacional equivalente a todos os cérebros humanos juntos. Entre 2022 e 2025, o mundo inteiro deverá estar conectado por uma internet onipresente, envolvendo humanos e máquinas.
As próximas duas décadas serão diferentes de qualquer coisa que vivemos nos últimos cem anos. Podemos prever empregos que serão absorvidos pela tecnologia, mas não podemos prever quais empregos vão surgir a partir da tecnologia.
A dificuldade é a velocidade com que isso está ocorrendo. Veículos elétricos têm 90% menos moving parts do que veículos tradicionais, o que vai fazer seu custo reduzir drasticamente nos próximos cinco anos. Na China, todos os táxis serão elétricos até 2020. As cidades vão mudar significativamente com a popularização dos veículos autônomos.
Em vez de wearables, deveremos ter mais insideables (equipamentos integrados aos nossos corpos). A saúde e, consequentemente, a vida, serão cada vez mais um problema de engenharia de softwares.
No futuro, nós teremos muito mais máquinas do que humanos. Em 2020, 85% das interações com os clientes será através de máquinas. O ensino deverá passar por uma transformação revolucionária. O futuro da educação deverá ser learning by doing.
Organizações não mudam até que todas as pessoas mudem. Líderes exponenciais não tentam mudar o mundo. Eles tentam mudar a si mesmo. 75% dos millennials privilegiam a comunicação por texto. 30% deles já não possuem o ícone do telefone na tela principal dos seus smartphones. Por outro lado, 20% de todas as buscas em dispositivos móveis já são feitas por voz.
Existem empresas produzindo carne de frango e gado sem matar nenhum animal. A partir da célula animal. Já se projetam fazendas urbanas, verticais. Estamos em plena transição da era industrial para a digital, da mesma forma que anos atrás houve a da era agrícola para a industrial. Só que muito mais rápido.
Existem 2,6 bilhões de smartphones no mundo. E nove vezes mais dados somente nos últimos dois anos. Robôs serão considerados uma opção natural de força de trabalho. Assim como hoje consideramos funcionários e terceiros. Os maiores problemas do mundo são também as maiores oportunidades de negócio.
Bem, termino por aqui essa grande lista de previsões e constatações geradas pela Singularity. E o que devemos fazer com isso? Heráclito já dizia: “A única coisa que não muda é que tudo muda.”
Acho que devemos ficar antenados no futuro, mas agir pensando no amanhã. 2018 é mais importante do que 2050! Talvez a principal mudança atual seja a de nos mantermos leves e ágeis, prontos para mudar, mudar e mudar, sem se apegar aos status quo.
Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro (Federação Nacional de Agências de Propaganda) (alexis@fenapro.org.br)