50 anos depois

O mês era agosto, no tempo em que fazia frio em São Paulo. Cheguei para o almoço, como faço até hoje, cinco minutos adiantado. Armando Ferrentini chegara mais cedo. Estava pertinho. O Diário Popular ficava no Centro Velho da cidade. Ao seu lado, nosso amigo e padrinho de um relacionamento que começava naquele momento e nunca mais terminaria, Oswaldo Assef. No piano, Moacyr Peixoto, que, nas noites de São Paulo, tocava com seus irmãos Araken e Cauby na boate Claridge do Claridge Hotel, comecinho da Avenida 9 de Julho.

Feitas as apresentações, feito o pedido – comi um inesquecível steak poivre –,‒Armando vai direto ao assunto. Convida-me para escrever regularmente no suplemento Asterisco, que era publicado nos fins de semana pelo Diário Popular. O Armando era o diretor comercial do jornal e seu irmão, Nello, o editor. “Madia, disse o Armando, o Brasil precisa de um marketing de verdade…”. O Asterisco, com o passar dos anos, evoluiu para Caderno Propaganda & Mar- keting, e hoje é a consagrada publicação PROPMARK, integrante da Editora Referência, ao lado da revista Propaganda e da revista Marketing. Publicações onde se construiu a história da propaganda e do marketing do Brasil. E assim seguirá por no mínimo mais 50 anos.

Conversamos bastante e eu acabei topando. E o Armando propôs mandar um repórter me entrevistar para uma matéria de apresentação no domingo seguinte, e a primeira coluna no outro domingo. Meses antes fora contratado pelo d r. Olavo Setubal para montar o primeiro departamento de marketing de um banco no Brasil; o do, na época, Itaú América. Publicada a entrevista no domingo, e mesmo antes da publicação do meu primeiro artigo, quando chego na segunda para trabalhar no Itaú tem um recado em minha mesa para conversar com o dr. Olavo. Entro em sua sala, me pede para sentar, e me passa o jornal com minha entrevista toda marcada a tinta vermelha, com exclamações, interrogações e muito mais. Um dos diretores do Itaú viu a matéria e indignou-se…

Doutor Olavo me olha e pergunta: “Madia, você falou tudo isso que está aqui e fez todas essas críticas aos bancos e demais instituições do mercado financeiro?” “Sim, dr. Olavo, é o que eu penso, e é assim que pretendo trabalhar como principal responsável pelo marketing do banco, e na construção da imagem do Itaú. Foi o que o senhor me disse e pediu. Que seu sonho é ser o principal banco do Brasil. E o caminho é esse. Sou assim e não sei fazer diferente”. Ele olhou para mim, sorriu, o que não era exatamente de seu estilo, e me disse: “contratei a pessoa certa”.

E assim se passaram 50 anos. 50 anos onde todos os fins de semana tenho a oportunidade de entrar na casa, cabeça e coração de milhares de empresários e profissionais. No desempenho da missão que o Armando me confiou e tenho procurado cumprir à risca: coletar, organizar, analisar, extrair lições e aprendizados do que de melhor e mais atual acontece na gestão das empresas em todo o mundo, na administração moderna e em sua ideologia, o marketing, conforme nos ensinou Peter Ferdinand Drucker.

Hoje, pela força das circunstâncias, pelo apreço, carinho e respeito do Armando, pelo apoio de todos os editores que passaram por este PROPMARK, tenho o orgulho e felicidade de assinar a coluna de marketing mais longeva de todo o mundo.

Esta, que você, todas as semanas, nos homenageia com sua leitura, como acaba de fazer agora. Muito obrigado.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)