A cultura da nova gestão em tempos de crise
A atual situação econômica do Brasil é de estagnação. A crise econômica de 2016 não é mais apenas uma hipótese e, sim, parte integrante da agenda em toda pauta de reunião de empresários do país e também fora dele.
As expectativas de recuperação da economia brasileira têm melhorado lentamente, mas ainda não será em 2017 que o país deverá sair da crise. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) prevê, em seu último relatório, publicado no final do último mês, que o Brasil terá o pior desempenho entre o G20 (grupo das maiores economias do mundo) em 2016 e em 2017.
Em 2016, as empresas e seus negócios entraram em um processo de congelamento, com os novos possíveis projetos sendo postergados e outros, muitas vezes já em curso, sendo cancelados. Na contramão disso tudo, as despesas só aumentaram em decorrência da inflação, da desvalorização da nossa moeda, dentre outros fatores político-econômicos não menos importantes.
Diante disso tudo, o foco agora passa a ser em gestão. São nesses momentos de crise, como o atual, que a necessidade de implementação de processos de governança se tornam cada vez mais evidentes, garantindo a aplicação dos recursos disponibilizados para os projetos em andamento e proporcionando maior fluidez durante a sua execução.
Os cenários de crise são as melhores oportunidades para se aprender e, muitas vezes esse aprendizado começa com a restruturação do seu modelo de gestão. Frente a esse desafio, algumas mudanças de mindset podem ser preponderantes para chacoalhar as empresas nesses períodos de adversidade e altíssima necessidade de inovação:
Abaixo ao ego! A cultura empresarial exerce grande influência na governabilidade das empresas e no gerenciamento dos times envolvidos em um projeto. O contexto hierárquico tradicional é bastante comum, com os colaboradores apenas absorvendo as ordens que vem do topo. Mas, cada vez mais, os lideres precisarão encontrar uma abordagem mais produtiva e positiva, livres das obsessões de ego, para promover o desenvolvimento de ideias e a construção de um time e, principalmente, de um ambiente mais forte.
Enquanto os gestores estiverem “amarrados” pelo seu ego, as ideias mais promissoras, os planos e as iniciativas mais efetivas serão sempre subprodutos de egos envaidecidos, afetando significativamente a performance e o resultado final de seus projetos e de suas realizações. A organização hierárquica precisa ser redesenhada, longe dos arquétipos tradicionais, para que se possa criar ambientes de compartilhamento de ideias e objetivos, com as pessoas cada vez mais empoderadas de sua capacidade, de seus papeis e de suas responsabilidades. Os gestores do novo tempo adotarão um modelo de gestão de “portas abertas”, permitindo aos colaboradores que ofereçam opiniões e formas de trabalhar diferentes, livres das “caixinhas” engessadas dos organogramas tradicionais, muitas vezes limitantes da capacidade de criação, participação e evolução com os seus respectivos times.
Torna-se urgente a busca por oportunidades que possam otimizar esses ativos individuais, estimulando os diferenciais que possam agregar elementos inovadores à governança das empresas e, por consequência, a execução de seus projetos. É preciso encontrar um caminho que evidencie claramente como propósito central o abandono gradual dos apegos, que estimule o interesse das pessoas pelos demais, permitindo uma interação mais verdadeira e transformadora com o mundo. O desafio aqui é vencer o medo e o controle excessivo, para efetivamente pensar grande, com mais fluidez e com mais qualidade.
Se não se pode medir, esqueça! Palavras e discursos não ajudam, por si só, a mudar uma realidade. O que realmente transforma são as ações que podem ser medidas e quantificadas. O acompanhamento e a análise dos dados se torna absolutamente fundamental para que haja uma maior assertividade na tomada de decisões por parte dos gestores. O cruzamento de dados entre projetos, por exemplo, permitirá aos gestores a identificação de melhores práticas na gestão, seja no mapeamento dos pontos falhos que se repetem ao longo do tempo ou no aumento significativo nas taxas de sucessos em decorrência de determinadas ações. Nos dias de hoje, o recado é simples e direto: se não se pode medir, não faça. É preciso estabelecer planos e metas que as equipes possam cumprir.
Conecte-se com as pessoas! Uma empresa terá mais chances de sucesso se estiver bem conectada com o que motiva o seu cliente. Um dos maiores pecados de um gestor, principalmente na condução de seus projetos, é não se atentar a importância de uma boa comunicação com o seu cliente e com a sua equipe. Muito mais importante que um cronograma, é o fato de se estabelecer uma relação de confiança e de credibilidade entre todos. Parte importante no processo de construção desse ativo está relacionado à humildade – a melhor maneira de se consertar um problema é ter a franqueza e a hombridade de reconhecer o erro e procurar resolvê-lo o quanto antes. Ao mesmo tempo os acertos e o alcance das metas devem, de verdade, serem comemorados e compartilhados. Momentos assim mantêm a motivação do time e fortalecem a relação.
Descomplique e compartilhe! Em momentos como o atual, planejamentos descomplicados que possam diagnosticar claramente a situação da empresa e de seus projetos passa a ser o tipo de ação mais indicada. Planos podem – e devem – ser revistos caso aconteça alguma mudança de cenário. Empresas como um modelo de gestão mais rígido e acomodada passam a ter menos chances de sucesso e, até mesmo, de sobrevivência em épocas de crise como agora. O planejamento deve ser sempre implementado e comunicado a todos os níveis da empresa e as pessoas precisam sentir o comprometimento da gestão e do time do qual faz parte.
Com a crise, nascem novas necessidades, seja por experiência, flexibilidade ou facilidade em lidar com as mudanças. Enfrentar os desafios como automotivação, foco e estratégia podem ser o grande segredo para adaptar-se mais facilmente às mudanças e, ao mesmo tempo, se preparar melhor para novas oportunidades. E aí, você já está pronto para adaptar-se?
Vinicius Debian é atualmente Sócio-Diretor de gestão e negócios da produtora digital the goodfellas