A ética vai conseguir acompanhar a tecnologia?
Surpresa e admiração. Esse é o sentimento misto que me provocou o verdadeiro tsunami de inovação no SXSW. O maravilhoso é que tudo está voltado para facilitar nossas tarefas diárias, trabalho, vida pessoal e o próprio mundo.
Mas nem tudo são flores. Toda a beleza da tecnologia, como tudo na vida, pode ser deturpada para fins bastante diferentes daqueles para qual foi criada.
É uma delícia ver a Inteligência Artificial gerar verdadeiros concierges domésticos, te lembrando de tarefas ou exercendo seus comandos quase que humanos. Ou interpretando e descrevendo imagens exatamente como um ser humano. Mas é preocupante saber que ela também está viabilizando a manipulação da mente dos menos avisados, infelizmente a maioria do nosso país.
Já existem máquinas que rastreiam e identificam tudo a seu respeito (idade, religião, sexo, estado emocional, satisfação com a vida), e estão aptas a programar uma campanha one to one, com mensagens personalizadas, se utilizando desses dados pessoais. Textos imperceptíveis à checagem humana. Imagine uma mobilização bem coordenada, com segundas intenções, provocando um movimento impensado em toda uma comunidade. Isso pode até ser considerado uma ameaça à democracia de um país.
Na onda do fake news, hoje já se pode perfeitamente alterar imagens gravadas em vídeo de pessoas, com perfeita sincronia do visual e da fala, criando expressões faciais não originais. Imagine o estrago de uma divulgação criminosa de depoimentos de políticos e celebridades nas redes sociais?
A leitura dos sentimentos de uma pessoa por linguagem facial (detectando características de estado nervoso, tenso, ‘dopado”, relaxado) já vem ajudando em muito na prevenção de crimes. Mas há indícios que já começou a ser “trabalhada” no contexto de racismo e tráfego de drogas.
O estudo do DNA chegou num estágio impensável. De uma bituca de um cigarro na rua, fio de cabelo, chiclete mascado ou resquícios invisíveis de pele deixada nos ambientes que circulamos, já permitem que se reproduza. O rosto do indivíduo. Não acredita? Busque Stranger Visions, Hagborg no YT e se surpreenda. Para solucionar crimes, genial. Mas para o mal, me preocupa onde a mente humana pode chegar com essa tecnologia.
Vi experimentos de humanos ensinando sentimentos humanos para robôs, e esses mesmos robôs repassando o conhecimento para outro robô. Oi? Sim, isso mesmo. A realidade virtual te dá a chance e a liberdade de ser outra pessoa (um novo second life, dessa vez mais de verdade?). A questão é como isso pode afetar sua identidade. Será que os humanos serão os cavalos de amanhã?
O estudo do genoma está se desenvolvendo a tal ponto, que num futuro pouco distante já se poderá selecionar embriões com talentos musicais, esportivos ou matemáticos? Aí vem a pergunta: quem vai definir a vida? Religiões, crenças, filósofos, biólogos?
No Brasil, infelizmente, estamos engatinhando no tema Ética, mas me parece que as gerações mais novas vêm com um olhar renovado e esperançoso sobre esse tema. Se são os mais jovens que vêm criando tanta inovação, só nos resta torcer para que eles valorizem a ética tanto quanto a inovação.
Antonio Fadiga é CEO da Artplan em São Paulo