A importância dos grupos intencionais e das microcomunidades para brasileiros
Pesquisa da Koga/Dojo mostra que um em cada quatro brasileiros se sente sozinho, mas 50% já participam de microcomunidades com pessoas que não se conhecem
Em novembro do ano passado, a Organização Mundial da Saúde declarou o sentimento 'solidão' como uma questão de saúde global. Depois disso, o cenário ganhou tons mais complexos quando estudos reforçaram que a qualidade e a profundidade das ligações que são estabelecidas entre as pessoas impactam no estado físico e mental.
Vivek Murthy, uma das principais autoridades médicas dos Estados Unidos, disse que sentir-se sozinho equivale a fumar 15 cigarros ao dia se for colocado na balança de 'prejuízos à saúde'.
Entretanto, a busca e o relacionamento entre pessoas pelos chamados "grupos intencionais" vêm se destacando como uma forma de balancear essa equação, atraindo mais e mais adeptos. Diante dessa nova realidade, a pesquisa chamada de 'Queridos estranhos' ouviu mais de 1.500 brasileiros para mensurar tais comportamentos, dinâmicas e sentimentos, além de segmentar os diferentes papéis que esses grupos ocupam na vida de seus participantes.
A pesquisa foi desenvolvida pela Koga, unidade de estudos comportamentais da Dojo.
De acordo com o estudo, um em cada quatro brasileiros declara se sentir sozinho na maior parte do tempo. Entre as principais razões, os participantes indicaram não conseguir se abrir de verdade ou agir genuinamente em grupos familiares ou de amigos; não sentir pertencimento nesses ambientes; não se sentir ouvido, entendido ou acolhido; ou perceber altos níveis de ansiedade diante das relações.
Grupos intencionais
Ao contrário das grandes comunidades, baseadas em macrotemas como esportes, religiões, fandoms ou movimentos sociais, os grupos intencionais têm como base algo mais restrito e com maior profundidade de troca, envolvimento e reciprocidade entre todos os participantes – sendo compostos, em média, por 12 indivíduos.
Atualmente, 50% dos brasileiros já participam de algum grupo intencional e, apesar de parecerem microcomunidades exclusivamente virtuais, como grupos de WhatsApp ou redes sociais, 45% dos grupos intencionais acontecem principalmente de forma presencial.
O impacto no sentimento positivo é expressivo: 85% das pessoas que participam de um deles dizem estar mais felizes e 87% dizem que integrá-los os fez perceber que não estão mais sozinhos. Além disso, 74% dos brasileiros que cultivam essa forma de relação afirmam que ela é tão ou até mais importante para o seu bem-estar do que as ligações que têm com seus amigos de longa data.
Sabrina Abud, pesquisadora da Koga, explicou como que as marcas têm o poder não apenas de promover a conscientização sobre a importância das trocas intencionais, mas também de facilitar o acesso das pessoas a esses grupos.
"Afinal, 70% dos brasileiros que ainda não participam de um grupo intencional gostariam de fazê-lo, mas não sabem como procurar ou ainda não encontraram um grupo com o qual se identifiquem. Para os outros 50% que já participam de um grupo intencional, as marcas também podem contribuir com recursos chave, ajuda especializada e disseminação do tema discutido", disse.
Os quatro papéis
Os grupos intencionais podem ter diferentes significados e, de acordo com o levantamento, tendem a assumir quatro papéis principais na vida de seus participantes.
O chamado de 'Seta' (38,9%) é aquele que fortalece um pensamento em comum e incentiva seus integrantes a se movimentarem juntos, em uma mesma direção. Já o 'Lupa' (31,8%) é o que ajuda a tornar mais visível o que antes não estava sendo percebido, gerando um espaço confortável e seguro para confissões e trocas mais sensíveis entre pessoas.
Com 17,8%, o grupo 'Fonte', como o próprio nome diz, funciona como fonte de informação e entretenimento a respeito de um tema específico, gerando trocas leves sobre paixões ou questões em comum – e, com isso, laços mais fortes de conexão.
Por fim, o 'Escudo', a partir da identificação, gera segurança para que seus participantes se sintam à vontade para dividir pensamentos e experiências, os fortalecendo contra preconceitos sociais e pressões externas.
Quem não participa (e por quê)?
A pesquisa identificou que o interesse do brasileiro em estar em um desses ambientes é massivo. Se 50% deles já participam, 70% de quem não está em nenhum grupo intencional hoje têm vontade de participar de um.
As principais razões para a ausência estão em três elementos centrais: Acesso: desconhecimento dos grupos ou de como encontrá-los, sendo que 43% ainda não encontraram um grupo que realmente gostassem e 37% não sabem onde procurar; Vergonha: receio de se expor, especialmente diante de desconhecidos (29% não participam de grupos porque tem vergonha ou medo); e Tempo: 21% não participam de nenhum grupo apenas porque dizem não ter disponibilidade de tempo.
Entre algumas possíveis soluções para as questões listadas estão a criação do próprio grupo intencional, com base em seus interesses e necessidades; o uso das redes sociais para busca e teste diante dos assuntos de preferência; a utilização inicial do anonimato, disponível em alguns casos; e a conscientização sobre a importância desse tipo de troca para uma melhor qualidade de vida.
Nesse cenário, inclusive, as marcas são bem-vindas: 70% dos brasileiros que ainda não participam de nenhum grupo intencional dizem que, se uma marca ou instituição viabilizasse a criação de um grupo sobre um tema do seu interesse, estariam abertos para conhecer.