'A Jovem Pan não faz ativismo, faz jornalismo', diz CEO Roberto Araújo
No lugar de Antônio Augusto Amaral de Carvalho Filho, o Tutinha, executivo garante que o grupo 'cortou excessos'
Após a crise com a polarização das eleições presidenciais, a Jovem Pan fez uma série de mudanças. À frente da presidência desde janeiro, Roberto Araújo, que assumiu no lugar de Antônio Augusto Amaral de Carvalho Filho, o Tutinha, afirma que o grupo cortou excessos.
“A gente continua sendo crítico, independente, porém, tentando que os comentaristas adjetivem menos e falem mais dos atos das pessoas”, disse ele. Com demissões de comentaristas e contratações de novos, a emissora também trocou o comando comercial, com a vinda de Alexandre Barsotti (ex-Band), e contratou André Ramos (ex-CNN) como diretor de jornalismo e esporte.
“Tem muita negociação em andamento com mais gente para reforçar, dar mais peso e relevância.”
Qual foi o seu papel ao assumir a presidência da Jovem Pan em janeiro?
Meu papel foi o de assumir também uma parte institucional, eu já era CEO há alguns anos. O Tutinha fica no Conselho de Administração e continua como sócio. Mas não muda muita coisa no dia a dia. Porém, agora eu falo mais pela empresa.
Como está sendo o reposicionamento após o período das eleições?
Já durante as eleições fizemos vários editorais dizendo qual era o posicionamento da Jovem Pan e não de alguns comentaristas da emissora. No próprio dia das eleições, em 30 de novembro, às 17h, soltamos um editorial dizendo que qualquer que fosse o resultado ele tinha de ser aceito. Houve muitos excessos de todos os lados durante as eleições, virou um Fla X Flu, e falamos que era hora de deixar o próximo governo trabalhar para mostrar a que veio ou a que ficou. A gente cortou as pontas, considerando que era um novo momento, de a bola ficar mais no chão, tiramos alguns excessos, tanto do lado da direita quanto da esquerda, porque a Jovem Pan sempre teve os dois posicionamentos, de ter comentaristas dos dois lados para discutir. A gente continua sendo crítico, independente, porém, tentando que os comentaristas adjetivem menos e falem mais dos atos das pessoas.
E houve renovação da equipe também?
Sim, mas, nos últimos sete ou oito anos, dá para dizer que essa é a quarta ou quinta renovação. A Jovem Pan está sempre se renovando, se reinventando. Não há nada de diferente do que já não tenha acontecido no passado. Em 2014, por exemplo, o Reinaldo Azevedo comandava Os Pingos nos is. Depois entrou a Joyce, que saiu e deu lugar para o Felipe Moura Brasil. Daí entrou o Augusto Nunes, que saiu agora.
Como o mote Jornalismo independente se traduz nos dias de hoje?
Há 80 anos a Jovem Pan adotou esse mote e sempre foi reconhecida por ele. Quando a gente fala de jornalismo independente, geralmente se refere à política. Se o governo fizer coisas boas, qualquer que seja ele, será aplaudido. Se fizer coisas que a gente não concorda, vamos criticar. Sem estar relacionado a quem quer que esteja no poder, isso que é ser independente. Nunca na história da Jovem Pan, qualquer que fosse o governo, tinha nem apoio total, porque não é papel do veículo de comunicação apoiar ninguém, nem crítica total. A Jovem Pan não faz ativismo, faz jornalismo.
E qual o balanço que você faz desses três meses à frente do grupo?
O reposicionamento está indo bem, os números já estão aparecendo. Como sempre, cai a audiência em janeiro, porque alguns programas estão fora do ar, como o Pânico, por exemplo, que fica de férias. Programas de esportes também têm uma audiência grande e quase não há campeonatos no início do ano. Houve uma queda mais acentuada neste ano, porque pós-eleição todo mundo teve um pouco de overdose. Mas agora em março já reagiu. No YouTube, já subiu a audiência de novo, são 28,5 milhões de usuários únicos. No cabo, já ocupamos a segunda colocação novamente entre os canais de news (atrás da GloboNews e à frente da CNN). As pessoas acham que a Jovem Pan já cresceu muito nesses últimos anos quando se transformou na maior rede de rádios, maior canal de news na internet e o segundo no cabo, mas isso é só o começo do que a Jovem Pan quer em termos de crescimento.
Quando o canal de TV a cabo foi lançado e como funciona a distribuição?
Ele foi lançado em setembro de 2021. Desde o começo, o sinal está aberto nas parabólicas. O pessoal do interior sempre teve à disposição o canal de graça. Mesmo nos canais a cabo ele faz parte dos canais de graça. Sempre foi um sinal aberto, apesar de ter distribuição no cabo, na parabólica, desde setembro está disponível nos canais fast da Samsung. Está passando na Samsung Plus também. Faz menos de um mês que estamos com distribuição internacional em alguns canais dos Estados Unidos, da América Latina e Canadá. Estamos aumentando a distribuição.
Quais são as plataformas do grupo atualmente?
No Brasil, as pessoas podem acessar a Pan Flix, YouTube, cabo, satélite, Samsung Plus, em breve também Pluto e Prime Vídeo, que estão em fase final de implantação. Nos EUA, estamos em alguns canais de televisão. No YouTube, já há algum tempo 6% da audiência é internacional.
A maior audiência vem do rádio?
A Jovem Pan é um caso típico de ser realmente multiplataforma. Entre 70% e 80% da audiência é espelhada. O que você está ouvindo no rádio, está passando na televisão, no cabo, em alguns programas específicos para cada plataforma. A audiência também é díspar. No cabo, a Jovem Pan tem 120 afiliadas, atende praticamente duas mil cidades no Brasil. No YouTube, em média, atinge 30 milhões. É bem distribuído.
E qual o objetivo da nova rádio, a Jovem Pan News, FM 76.7?
Na verdade, não é uma nova rádio, houve uma migração do AM para FM. O AM em São Paulo praticamente não funciona mais. Pelo menos agora nossa audiência vai conseguir ter acesso à rádio Jovem Pan News, o sinal do 76.7 é perfeito, chega a ser até melhor do que o 100.9. A Jovem Pan News é 100% notícia e a 100.9 é a Jovem Pan que todo mundo conhece, que tem notícia, música, variedades e esportes.
Como você define hoje o público da Jovem Pan?
Como a gente está em vários canais de distribuição, temos públicos distintos. Quando se falava só em rádio, há oito anos, tinha um público mais velho, 30+. Já com o YouTube, enxerga 18 a 30 anos muito forte, que não tinha antes. Ou seja, rejuvenesceu a audiência. E tem alguns programas, como o Pânico e a parte musical, que rejuvenescem mais. Dá para dizer que temos um pouco de cada público. Um programa de análise, política, por exemplo, atrai um público mais velho. Temos público para todos os gostos e tipos.
Como está a parte da programação em vídeo, tendo em vista o aumento do consumo no Brasil?
No YouTube, a Jovem Pan foi a precursora com notícias em vídeo na plataforma. A gente investe muito em vídeo. A gente deve, no próximo ano, praticamente dobrar o investimento nos nossos estúdios. Atualmente, temos cinco estúdios e devemos chegar a nove estúdios de TV.
Quais oportunidades de mídia você enxerga atualmente?
O mercado de mídia está em altíssima disrupção e a Jovem Pan surfou nessa onda lá atrás. Ela percebeu que não era uma empresa de rádio, mas sim de conteúdo. O rádio era uma forma de distribuir o conteúdo. A Jovem Pan aproveitou todas as oportunidades que estavam se abrindo graças à inovação e à disrupção. E vai continuar sendo assim. A gente acha que o nosso conteúdo tem de acompanhar o ato de consumo das nossas audiências. Ninguém consome o dia inteiro uma coisa só, um tipo de conteúdo. É preciso entender a jornada das audiências, que são distintas.
Como está a receita com publicidade?
Em relação ao primeiro trimestre do ano passado, ela ficou estável. Normalmente, janeiro e fevereiro também têm uma sazonalidade, período em que o faturamento é mais baixo. Agora, ela começa a subir de novo. O mercado está um pouco mais retraído do que o ano passado, mas a gente continua otimista.
E de onde vem a maior receita?
Como a nossa distribuição de conteúdo é ultrafragmentada, a nossa receita também é fragmentada. Por exemplo, tem um grande pedaço que vem de plataformas digitais, tem branded content, tem de tudo. Esse Fla X Flu que a gente viveu, adoram atacar a Jovem Pan, acham que realmente estão acertando, mas a Jovem Pan é muito fragmentada também nas receitas.
Que tipo de conteúdo tem maior audiência?
Temos alguns campeões de audiência, como o Jornal da Manhã, o Linha de Frente, que tem crescido muito, e Os Pingos nos is que, desde que foi criado em 2014, é líder de audiência no rádio. Agora, a gente está indo buscar audiência em outros horários que consideramos que também devemos estar na liderança. Quando a gente lançou o cabo, em setembro de 2021, dissemos para as operadoras que era uma versão beta e vamos mexer no que for possível. A gente não tem compromisso com o fracasso. A programação da Jovem Pan nunca vai ser estática, porque os produtos ficam velhos, evoluem.
Essa crise com o Fla X Flu que você citou, quando foram muito atacados por causa da política, melhorou?
Vem melhorando, porque a Jovem Pan não costuma responder a ataques. Ela foi muito criticada porque, quem vem crescendo, está incomodando muito. Foram criadas muitas narrativas falsas do que é a Jovem Pan.