“A melhor forma de combater fake news é com true news”

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Debate sobre fake news foi realizado nesta segunda-feira (26), em São Paulo

O InovaBra Habitat sediou nesta segunda-feira (26) o debate “Jornalismo. Fake News. Pós-Verdade”, que teve a ESPM como parceira. A iniciativa abordou os efeitos de conteúdos deliberadamente falsos ou inverídicos e teve as presenças de Urá Machado, secretário-assistente de redação da Folha de S. Paulo, Denilde Holzhacker, professora de relações internacionais da ESPM, e André Fran e Rodrigo Cebrian, roteiristas e sócios da BASE#1 do documentário “Fake news, baseado em fatos reais”. A medição foi de Emmanuel Publio Dias, da ESPM e Strata RP.

Ale Oliveira

Emmanuel Publio Dias (ESPM) conduziu debate no InovaBra Habitat

Na Folha de S. Paulo, uma série de iniciativas busca minimizar o problema, como forma de valorizar o jornalismo de qualidade. As duas linhas principais são criar mecanismos ativos para combater fake news, dentre elas as checagens através do serviço Folha Informação e de parcerias com players como a Lupa, e a atuação para garantir que as informações sejam bem-apuradas e corretas. Nos dois casos, não há novidades, já que o veículo sempre atendeu leitores para saber se algo era real ou não, e uma das premissas da Folha é a verdade. A diferença é que, agora, o inimigo parece mais forte.

Para exemplificar, citou uma matéria do Washington Post sobre como as mentiras se tornam verdade nos Estados Unidos (veja aqui).

“Se as pessoas quiserem notícias reais, precisam assinar veículos sérios de comunicação”, diz Machado (Folha)

“Se eu falar que o jornal vai criar uma série de mecanismos para desmentir informaçaões falsas e que isso resolveria a maior parte da vida das pessoas, estaria mentindo. Não sou otimista nesse combate às fake news, porque não vejo as pessoas mudando seus víeses de informação. Elas tendem a acreditar naquilo que reforça seu pré-conceitos. No veículo, se nos concentrarmos em não piorar essa situação, temos a melhor forma de ajudar a melhorar”, afirma Machado.

Para ele, a melhor forma de combater fake news é com true news. “Na minha utopia, as pessoas vão progessivamente perceber que ambiente das redes sociais é tóxico para informações, e se quiserem algo real, precisam assinar veículos sérios de comunicação. Não adianta receber na internet um link de veículo, porque teremos cada vez menos certeza que aquele print screen pertecence a uma Folha”, reflete.

Denilde Holzhacker (ESPM) trouxe o ponto de vista acadêmico sobre o fenômeno, e explicou a dificuldade de enfrentá-lo. “A primeira informação que a pessoa recebe tende a ser vista como correta. E quanto mais ela é repetida, mais credibilidade ganha. Uma das formas de enfrentar é repetir informaçaõ várias vezes, por isso, é difícil mudar a opinião das pessoas sobre algo que elas já acreditaram. Os estudos mostram que com a quantidade de informação que temos, é difícil distinguir o que é real do que é falso. Ele usa algum sistema que, na prática, repete suas crenças”, avalia.

Ale Oliveira

Denilde Holzhacker (ESPM): Como romper bolhas da informação é uma das grandes discussões sem resposta

Por conta desse sistema, as pessoas estão desconsiderando as opiniões de especialistas e reforçando informações que recebem de seus grupos mais próximos. “Há uma preocupação sobre como essa notícia falsa chega no indivíduo, muda processos eleitorais e a visão sobre políticas públicas”, diz Denilde.

Segundo ela, as grandes questões de hoje sobre fake news são como fazer as pessoas sair de suas bolhas de informação e quais seriam os processos para diminuir o impacto das notícias falsas na formação da opinião pública. São os grandes dilemas, para os quais, reconhece a acadêmica, ainda não há respostas.

Uma possível solução, diz, passaria pela educação midiática em um mundo com muitas informações, algo ainda pouco discutido no Brasil. “As pessoas preciam reaprender a ler e entender o que sai na mídia. Desde a escola, entender o que é. E separar suas convicções do que é fato e realidade. Outro fato é a educação digital, como se comportar nas redes sociais. E sociedade civil e governos também estão discutindo as informações que trafegam pelo WhatsApp e como os algoritmos criam essas bolhas”, afirma Denilde.

Ale Oliveira

Rodrigo Cebrian e André Fran: documentário descobriu rede de fake news na Macedônia

  

André Fran e Rodrigo Cebrian, da Base#1, e produtores da série da Globonews “Que mundo é Esse”, fizeram um longo experimento retratado em documentário no qual identificaram um centro de produção de fake news na Macedônia, que foi capaz de influenciar informações que circularam pelos Estados Unidos. O “negócio”, mostraram, se revelou lucrativo por conta do número de acessos que resultaram em anúncios nos sites, via AdSense, do Google. Veja trechos do documentário abaixo:

https://www.youtube.com/embed/ymzJ9Zu2k3M

“Nossa experiência de jornalismo indo até à fonte de verdade, mostra a vantagem desse  tipo de ação em um mundo da banalização da tecnologia, em que todos podem produzir conteúdo e que poder da grande mídia foi diluído”, afirmou Fran.