A mesa de sinuca
Nos últimos tempos, um pensamento recorrente tem instigado minha curiosidade: por que as empresas que se pretendem inovadoras incluem na decoração dos seus escritórios uma mesa de sinuca revestida, preferencialmente, de feltro vermelho, em substituição ao tradicional verde? No lugar mais nobre, em destaque, no ambiente de trabalho, lá está a mesa de sinuca reinando entre previsíveis cadeiras, mesas e poltronas.
Movido pela minha curiosidade, fui pesquisar na web a origem do jogo de sinuca, ou bilhar, se preferir, na expectativa de encontrar algo que pudesse me ajudar a decifrar o significado da sua adoção, tão frequente, no ambiente corporativo das empresas atuantes na nova economia, nas startups e congêneres. Fracasso total, não descobri nada de revelador.
De acordo com minha pesquisa, a origem da sinuca data da era do homem primitivo, porém, teria sido no século XV, no que chamamos hoje Continente Europeu, que teria assumido seu formato mais próximo do que conhecemos hoje. Nada de relação com algo místico, ou simbolismos de disputa entre machos, guerra ou qualquer outra expressão da natureza humana. Apenas uma forma prosaica de passar o tempo.
Recorrendo minha memória, recordei que há alguns anos toda casa bacana tinha um salão de jogos e uma mesa de sinuca, nesse caso, forrada de feltro verde, que, por alguns poucos meses, era o centro das atenções, até cair no desuso e passar a ser utilizada como suporte para aquelas tralhas que queríamos tirar do caminho. Novamente falhei em identificar alguma conexão que respondesse minha curiosidade sobre a mesa de sinuca no ambiente corporativo.
Na minha necessidade de encontrar uma explicação, cheguei mesmo a pensar que algum fabricante de mesas de sinuca poderia ter montado um conluio com decoradores e arquitetos, com o intuito de convencer seus clientes sobre a importância de incluir esse indispensável objeto na montagem dos seus escritórios, mas no final me pareceu um plano sofisticado demais para ser levado a cabo.
Lamento confessar, mas continuo corroído pela curiosidade, impotente em encontrar uma razão do porquê de uma mesa de sinuca de feltro vermelho no meio do escritório. Poderia ser uma forma de se mostrar contra as convenções? Não, muito primário. Seria a senha para ser aceito no clube dos modernos? Não, muito superficial. Talvez possa ser uma tentativa de criar um clima de descontração? Não, muito clichê.
Realmente eu acredito que as empresas, verdadeiramente inovadoras, que estão quebrando paradigmas, adotando modelos de relação com o trabalho menos formais e gerando ideias, soluções e produtos, que estão mudando nossa maneira de viver, não precisariam desse tipo de recurso fácil, de um artifício cenográfico, elas são o que são, porque assim são. Então volta o pensamento: o que aquela maldita mesa de sinuca forrada de feltro vermelho está fazendo lá?