A resiliência e a plasticidade
Recentemente participei de um evento em que aprendi a diferença entre resiliência e plasticidade que, para mim, foi uma revelação de grande utilidade. Nos últimos tempos, nunca escutei com tanta frequência a palavra resiliência nas explanações e justificativas de como precisamos saber nos adaptar a um contexto desafiador.
Assim como a água corrente, que sempre acaba por encontrar um caminho para continuar seguindo seu curso, estamos sendo todos estimulados a buscar alternativas que nos permitam superar obstáculos de toda ordem e magnitude. Saber ser resiliente é, sem dúvida, uma competência necessária para se sobreviver a uma situação que impõe condições de adversidade, desde que essa situação seja temporária, ou seja, os fatores que a determinaram deixem de existir e o ambiente volte ao seu normal.
Em sua definição nos dicionários, resiliência é a propriedade que alguns corpos apresentam de retomar à forma original, após terem sido submetidos a uma deformação elástica. Importante notar que a resiliência não é um estado constante, definitivo, mas sim uma condição que se assume momentaneamente, para então retomar a sua forma original.
Em tempos passados, era bastante comum termos de enfrentar um período em que as coisas fugiam do seu normal, quando então, ser resiliente nos permitia, da mesma maneira que a água, continuar a fluir. Quantas vezes, nessas ocasiões, ouvi afirmações tranquilizadoras como: “não se preocupe, é só uma turbulência” ou “essa é apenas mais uma crise, mais à frente a gente volta ao normal” – e assim exercitávamos nossa resiliência para, em seguida, retomar a vida, tal como sempre tinha sido.
Hoje as condições de temperatura e pressão não estão apenas provocando uma alteração temporária no contexto, mas determinando uma mudança profunda na ecologia dos negócios, nas relações, na sociedade latu senso. A expressão “o novo normal” já é corriqueira nas análises do ambiente macroeconômico, é certo que nunca mais voltaremos ao antes. Podemos nos preparar para voar em constante turbulência, e crise é a sensação permanente de precisar encarar, a cada dia, uma realidade em que nunca se pode relaxar.
Por conta de tudo isso, para mim, o aprendizado sobre a plasticidade tem sido de enorme utilidade, uma revelação encantadora. Plasticidade é a propriedade de, uma vez exposto a uma determinada situação nova e desafiadora, mudar, se moldar e assumir um novo formato, que vai proporcionar ao corpo a capacidade de prevalecer frente às condições a que será exposto.
Não se trata de uma variação momentânea, esperando que o ambiente volte ao seu normal para também retomar sua forma original. Plasticidade é ser novo, é se reinventar, adquirir outras competências, saber ler o que está acontecendo a sua volta e aprender as respostas certas: plasticidade é transformação.
Para muitos, o conceito da época que estamos vivendo é o da resiliência. Da minha parte, incorporei fervorosamente a plasticidade como minha meta, definitivamente esses não são tempos para adaptação, a minha crença está na evolução.
José Eustachio é chairman da Talent Marcel