A segurança dos jornalistas
É impossível não comentar sobre o que vem acontecendo a jornalistas nos arredores do Palácio do Alvorada, em Brasília. Diante da ameaça constante e crescente por parte de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro aos profissionais de mídia, o Grupo Globo, a Folha de S.Paulo, o UOL e a Band decidiram retirar seus repórteres da saída do Palácio do Alvorada. Esses jornalistas acompanham a chegada e saída do presidente do local, onde também, separados por uma grade, bolsonaristas se amontoam, gritam palavras de ordem e agridem a imprensa.
Eu me pergunto se essa gente não tem mais o que fazer. Vão cuidar da sua família, fazer o necessário isolamento social por conta da pandemia da Covid-19 e ter um pouco mais de respeito pelo trabalho da imprensa. Sinceramente, nunca vi uma situação como essa. Não entendo por que um presidente eleito precisa de manifestações a seu favor a todo momento. A situação chegou a uma situação extrema, de total insegurança, que motivou o vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo, Paulo Tonet Camargo, comunicar a decisão ao ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, por meio da seguinte carta:
“São muitos os insultos e os apupos que os nossos profissionais vêm sofrendo dia a dia por parte dos militantes que ali se encontram, sem qualquer segurança para o trabalho jornalístico. Estas agressões vêm crescendo. Assim informamos por meio desta que a partir de hoje nossos repórteres, que têm como incumbência cobrir o Palácio da Alvorada, não mais comparecerão àquele local na parte externa destinada à imprensa. Com a responsabilidade que temos com nossos colaboradores, e não havendo segurança para o trabalho, tivemos de tomar essa decisão”.
O general Augusto Heleno se manifestou após alguns dias, dizendo que os jornalistas podem voltar a cobrir com tranquilidade a saída de Jair Bolsonaro do Palácio, mas devem ‘fingir que não ouvem’ ofensas dos manifestantes. Ou seja, a situação só piora. Não é de se espantar que os apoiadores do presidente se sintam no direito de atacar os jornalistas.
Eu acho que os veículos estão certíssimos em abandonar a cobertura no local. E torço para que outros sigam a mesma linha. Afinal, para que dar audiência para o ‘circo’ montado ali? Na maioria das vezes, o que assistimos são palavras de ataque do próprio presidente a profissionais, chamando os jornais de ‘bosta’ e mandando repórteres calarem a boca. Oras, isso não é postura de um presidente da República. Falta, no mínimo, um pouco mais de educação. O que, aliás, parece faltar a muitos dos integrantes do governo, vide o vídeo da polêmica reunião ministerial de 22 de abril que veio a público e estarreceu a sociedade com a quantidade de palavras de baixo calão. Palavrões não são crime, é verdade, mas a falta de decoro é total.
Outro dia li o comentário de uma colega jornalista que vive na gringa dizendo que acha que a imprensa brasileira está cobrindo mal a pandemia. Eu discordo dela. É por meio dos veículos que a população está sendo informada diariamente sobre a evolução da doença, com análises e alertas de especialistas. Não é à toa que o jornalismo profissional, que estava em baixa nos últimos tempos, voltou a ser valorizado. Em contrapartida, e felizmente, as fake news viraram alvo de investigação no STF (Supremo Tribunal Federal).