"A tendência vai ser produzir cada vez mais", diz Cecilia Mendonça
Cecilia Mendonça: “Capturar a atenção do público é o nosso principal desafio”
Construir e gerar uma conexão cada vez maior com o público é um dos desafios da The Walt Disney Company na América Latina. Uma das últimas produções regionais, a série Soy Luna, mostra que a companhia está no caminho certo. A história foi um sucesso em diversos países do mundo e abre passagem para mais uma produção original, Bia, que, desta vez, traz a primeira protagonista brasileira da companhia. Nesta entrevista, Cecilia Mendonça, vice-presidente e diretora-geral dos canais Disney Channel na América Latina, revela os desafios de produção e de estar presente em diferentes plataformas. Segundo a executiva, a maneira de consumir conteúdo mudou tanto que o trabalho hoje não é apenas produzir para uma grade de programação. A brasileira fala também sobre a comemoração dos 90 anos de Mickey Mouse – o personagem mais emblemático de Walt Disney – e, ainda, sobre a construção de novas franquias, diversidade e da aproximação com o mercado brasileiro.
Como tem sido o trabalho de produção da The Walt Disney Company na América Latina?
Desde que lançamos o Disney Channel tínhamos o interesse em gerar conteúdo local para criar maior conexão com o público. Então, estreamos o canal com os programas Zapping Zone e Disney Planet. Foi incrível começar um projeto de canal para TV paga com shows ao vivo, como fazíamos com o Zapping Zone. E por muitos anos foi nosso carro-chefe de produção local, que tinha versões no Brasil e América Latina. Depois, eventualmente, passamos a comprar outros conteúdos latinos e observamos uma oportunidade. Mas foi com a série Violetta, uma coprodução com a Europa, que começamos a ingressar na área da novela juvenil. Porém, era diferente, pois nós comprávamos e tínhamos de editar algumas partes. A série foi um sucesso tanto na Europa como na América Latina. Foi uma grande aposta. Abrimos uma porta para gerar conteúdo que também complementa o que os Estados Unidos faz muito bem, que é sitcom.
E tudo isso gera a construção de novas franquias?
Com as séries Violetta e Soy Luna construímos as primeiras franquias fora dos Estados Unidos. Para os pequenos, o programa Junior Express também foi uma franquia local de sucesso e continua sendo, pois estamos gravando agora a quinta e última temporada. A série O11ze também é um projeto inovador, então, continuamos apostando e queremos crescer com os conteúdos locais. Estamos, cada vez mais, aprendendo com o que criamos. Queremos que os nossos projetos sejam bem-sucedidos, que sejam um sucesso, que cumpram com os nossos padrões de qualidade, gerem conexão com o público e, assim, possamos construir novas franquias.
Que análise você faz deste crescimento?
O canal cresceu muito e essas produções foram responsáveis por isso. Nenhum dos três canais, Disney Channel, Disney Junior e Disney XD, seriam os mesmos sem as produções locais. O que me deixa muito feliz e orgulhosa é saber que em um território que fala uma outra língua, que tem culturas diferentes, conseguimos criar conteúdos relevantes. E tudo segue o nível de qualidade e os valores da marca Disney. Então, isso é algo que nos deixa muito orgulhosos.
Qual a importância do Brasil para a companhia?
O Brasil tem uma importância enorme, inclusive, em nossa nova série, Bia, que estreia em 2019, teremos a nossa primeira protagonista brasileira. A atriz Isabela Souza, que fará a personagem principal, veio da série Juacas, que foi uma coprodução com o Brasil e também está com sua segunda temporada. Gosto muito de ouvir o público nas redes sociais e entender o que os fãs falam sobre os nossos projetos. O impacto de Isabela no Brasil é incrível. Então, apostamos que Bia terá um antes e depois para a Disney no Brasil e, consequentemente, o mesmo impacto na América Latina.
A produção de Bia vem aproximar ainda mais o conteúdo da América Latina com o Brasil?
Quando começamos a pensar em quais conteúdos vamos produzir, e tudo isso ocorre in house, não paramos para pensar que o protagonista deve ser mexicano, brasileiro ou argentino. A história, antes de mais nada, precisa ser uma boa história. Então, depois de Violetta e Soy Luna, começamos discutir sobre qual história queríamos contar. Primeiro, achamos super-relevante encarar o mundo das redes sociais, pois é superatual. Então, queríamos contar mais sobre esse universo que traz muita coisa boa e, ao mesmo tempo, muita coisa ruim. É importante mostrar esses dois lados e falar sobre as consequências do que é realizado na internet. Depois, começamos a construir o universo da nossa protagonista, que é a Bia, uma menina criativa, jovem e otimista. Teremos também uma história de amor entre irmãs, bem à moda Frozen. Enfim, pegamos todos os ingredientes para construir uma história de sucesso. O Brasil é superimportante, mas não acredito que
apenas o protagonista faz o sucesso ou a conexão com determinado país, mas isso ajuda. Para essa produção trouxemos um grupo de atores de vários países e a Isabela se destacou e ganhou o seu lugar. Depois da atriz escolhida, voltamos na história para trazer elementos da cultura brasileira para o personagem. A recepção do público brasileiro está sendo ótima e eles estão muito felizes.
O atual cenário econômico do país tem sido um desafio?
O cenário econômico do Brasil e da América Latina de alguma maneira sempre vive em crise. Somos uma companhia internacional, então, seguimos com os nossos planos, continuamos com as nossas produções e, no caso do Brasil, ainda temos de cumprir com a cota de produção local, que é algo superimportante e que damos muito valor em gerar mais conteúdo para o país. Na verdade, a situação econômica é caótica, mas continuamos trabalhando e a ideia é seguir investindo em cada vez mais conteúdo.
A Disney vem apostando cada vez mais na diversidade em suas histórias. Este é o caminho?
A diversidade e a inclusão, corporativamente falando, sempre foram algo muito relevante dentro da companhia e é algo que de verdade a gente cuida. Agora, chegou o momento de sair da corporação e colocar isso em nossas produções e contar essas histórias. Então, com os novos projetos, e tendo a oportunidade, pois também não podemos forçar essas coisas, vamos contar histórias que sejam relevantes dentro do universo que criamos e construímos. Isso dará margem para o aparecimento de personagens incríveis, que vão ajudar cada vez mais o nosso público a lidar com situações do dia a dia. Dentro dessa conversa social, o que me deixa muito feliz, é receber o carinho de muitos pais e crianças que aprenderam a superar momentos e a encarar a vida de uma outra maneira sabendo que os sonhos podem se tornam realidade. Queremos mostrar a superação com otimismo, que todos somos iguais. Essa é a marca que queremos deixar.
E quais são os desafios de produção?
Capturar a atenção do público é o nosso principal desafio. Temos de ser mais amplos e democráticos para estar em todas as plataformas em que o consumidor deseja assistir os nossos conteúdos. O investimento em produções locais é parte das estratégias da companhia, mas elas não são apenas locais, primeiramente, elas são regionais; depois, internacionais. Já provamos que o nosso conteúdo local possui relevância global, pois criamos fenômenos culturais em diversos países que não falam espanhol. Então, os grandes desafios como produtores de conteúdo são as histórias que contamos. Acredito que não temos limite.
Em 2018, o personagem Mickey completa 90 anos, quais são as ações que a companhia preparou para essa data?
A companhia inteira está preparando muitas atividades. Cada país está preparando um evento para o dia do seu aniversário, que será em 18 de novembro, mas durante todo esse período o público vai poder acompanhar várias iniciativas e ações de marketing. Dentro do nosso canal vamos transmitir um especial que virá dos Estados Unidos, mas, infelizmente, não teremos um conteúdo local especial sobre isso, mas vamos apoiar todas as iniciativas de marketing, que serão muito interessantes.
O que você enxerga como tendência no mercado?
A tendência vai ser produzir cada vez mais. A maneira de consumir mudou, então, hoje as plataformas são tão diversas e variadas, que o nosso trabalho não é apenas produzir conteúdo para uma grade de programação. O conteúdo de duração variada vai crescer dentro das nossas plataformas. Continuo achando que para construir uma franquia, algo que a Disney é especialista, você precisa ter um pouco mais de profundidade e uma duração maior para contar histórias. Mas, ao mesmo tempo, abrimos espaço para contar histórias de dez episódios ou, até mesmo, de dez minutos. Com cada vez mais plataformas internacionais, o que produzimos em qualquer lugar do mundo terá de ser relevante em qualquer outro país.
Quais são os próximos passos da Disney na América Latina e Brasil?
Teremos muitas coisas para 2019. Nossas duas novas apostas regionais serão Bia e Nivis, amigos de outro mundo, que também traz um protagonista brasileiro, o Vinicius Campos. É uma série que vai misturar live-action e animação. É a primeira produção deste porte na América Latina. Além disso, teremos novas temporadas de Junior Express e O11ze. E diversas outras novidades em termos de séries, filmes e desenhos em todos os nossos canais.