"A vida não é pagar boleto", diz Marcos Piangers

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Depois de muitas discussões sobre geração de leads, análise de dados, estratégias para conquistar o consumidor, o Fórum E-Commerce Brasil 2019 fechou sua primeira noite com uma palestra menos analítica e mais inspiradora. Conduzida pelo publicitário e escritor Marcos Piangers na noite da última quarta-feira (17), a apresentação relatou características do nosso tempo e de como os hábitos modernos afetam nosso modo de vida e, consequentemente, a comunicação das marcas.

“A gente fica o tempo todo se abastecendo com essas ilusões do que realmente importa, trabalhando finais de semana, trocando o sorriso dos nossos filhos pelos sorrisos de outras crianças e famílias no Instagram, a gente reclama que não tem tempo para nada, mas fica jogando Candy Crush até às 3h da manhã. Essa é a nossa geração. Os nossos filhos veem e dizem: não entendo nada disso”, diz o palestrante.

Autor do best seller “O Papai é POP”, o publicitário enfatiza em suas apresentações a importância dos filhos e de como eles conseguem fazer com que seus pais relembrem o que realmente importa. “Uma criança vem na nossa vida e questiona o tempo todo nossas invenções, nossos formatos, o tempo todo perguntando: ‘por que você tem que trabalhar até a meia-noite, pai?’. O que a gente responde?  Gerar leads, diminuir meu custo por aquisição… A gente responde: ‘preciso ganhar dinheiro, filho. Preciso pagar boleto’. A geração obcecada pelos boletos e a gente está passando isso para os nossos filhos. Que a vida é nascer, crescer, pagar boletos e morrer. ‘Um dia você vai pagar boleto, filho. Vai pagar bastante boleto, trabalhar com um negócio que você odeia e aí você vai morrer, filho. É assim que é a vida’. E é isso que a gente tá ensinando para os nossos filhos. Nossos filhos que acham que a gente é herói. Seu filho acredita mais em você do que no Google”, diz Piangers.

Para o escritor, a única resposta que um filho aceita é: trabalho com coisas que tem propósitos e significado. “O porquê é o nosso propósito. Aprendi com as minhas filhas a entender por que eu trabalho, por que faço o que eu faço.

“Nossos escritórios têm massagem, puff, pebolim pra você trabalhar mais e mais e você não consegue entender por que muitas vezes está infeliz. É porque você não consegue entender o que tem de valor na vida. A vida não é pagar boleto. A vida tem a ver com conexão humana, com valorização de amigos, de família, a vida tem a ver com agradecer sua mãe por tudo que ela fez por você”, exemplifica mostrando o vídeo a seguir:

“A gente esquece que lead é gente, é pessoa. Quando você vira máquina e começa a chamar tudo de conversão, a achar que todo mundo é robô, você perde o contato com a sua essência”, alerta. “Essa é a geração que se sente mais deprimida e suicida. A gente tem um problema e não falamos sobre isso”, comenta. Na sequência, ele mostrou o vídeo abaixo e comentou: “está prontinho o lead para vocês”.

“Mas seu filho não precisa de iPad ou telefone. As crianças são pequenos cientistas que exploram o mundo com as mãos. A gente precisa desenvolver primeiro neles a capacidade de humanidade, empatia, paciência, de interação tátil e humana antes de interação digital. Seu filho acha tudo legal, sei disso porque tenho filho”, comenta o publicitário. “Primeiro, a gente precisa desenvolver a humanidade. Depois o digital”, completa exibindo o vídeo abaixo.

As aptidões do futuro, diz Piangers, não tem a ver com algoritmos, mas com habilidades humanas. “Tem a ver com você ter a capacidade de ter pensamento crítico, criatividade, gerenciar pessoas, ter inteligência emocional, flexibilidade cognitiva para lidar com essas transformações. Você precisa desenvolver em você aquilo que é humano para lidar com o que é técnico”, explica. “Vocês estão aqui, no maior evento de e-commerce do Brasil, pensando: ‘o que eu posso copiar das outras empresas para fazer aquilo igualzinho todo mundo tá fazendo?’. Porque, basicamente, passamos 20 anos na escola repetindo os padrões e ganhando nota boa se a gente repetisse corretamente. As crianças chegam felizonas na escola e na quarta série já estão assustadas”, lamenta.

Hoje, ressalta o escritor, os jovens empreendedores estão fundando empresas que não têm chefe. “Ao invés de ir num lugar e copiar o que todos estão fazendo, eles olham para aquilo que incomoda e fazem completamente diferente”, diz. Entre os exemplos citados, Piangers menciona o caso da empresa Dobra, que faz carteiras de papel. Quando eles começaram a receber mensagens do tipo: ‘ei, se é dobrável e é de papel, não vou comprar, vou fazer na minha casa’. O que fizeram? Disponibilizaram os moldes da carteira que foram baixados por milhares de pessoas. “Ganharam 35 mil engenheiros de produto”, diz Piangers elogiando a atitude humana da empresa.

O publicitário ressalta que a situação não é nova. Em 1917, o fundador da revista Forbes, Bertie Charles Forbes, disse: “empresas são feitas para produzir felicidade, não montanhas de dinheiro”. “O que a Nike faz? Vende tênis? Também, mas eles inspiram o atleta que tem dentro da gente e se você tem um corpo você é um atleta. E eu sempre fico emocionado quando vejo as campanhas”, menciona ao mostrar o vídeo abaixo, onde a empresa anunciou a parceria com Justin Gallegos, primeiro atleta com paralisia cerebral a ser apoiado pela marca:

“A vida é maior do que pagar boleto, ROI, maior do que lead, conversão. A vida é abraço, é um pouco de tempo a mais para você conversar com a sua mãe, a vida é ‘desculpa, pai’, a vida é eu te amo, a vida é passar mais tempo com nossos filhos e passar valores para que eles cresçam e sejam um pouquinho melhores do que a gente e menos obcecados por estar o tempo todo ocupados, pagando boletos e o tempo todo consumindo. Tudo que eu aprendi foi com minhas filhas”, finaliza o escritor exibindo o vídeo abaixo: