Abigraf manifesta insatisfação com campanha do Itaú

O comercial do Itaú em que um bebê dá gargalhadas ao ver seu pai rasgando um extrato bancário gerou forte reação do setor gráfico brasileiro. Em janeiro, a Abigraf (Associação Brasileira da Indústria Gráfica) encaminhou uma carta à presidência e vice-presidência do banco, relatando equívocos presentes no filme. No último dia 8, dirigentes da entidade reuniram-se com vice-presidente e diretor do banco para expor a insatisfação do setor.

A entidade argumenta que o discurso sustentado no comercial, de que a suspensão dos extratos impressos pelos clientes contribuiria para “um mundo mais sustentável”, não condiz com as características da produção de papel e celulose nacional. Por meio de sua campanha “Imprimir é dar vida”, a Abigraf sustenta que, no Brasil, nenhuma árvore nativa é derrubada para a produção de papel, uma vez que 100% desse insumo tem como origem florestas plantadas.

Além da visita ao Itaú, pelo menos 10 entidades ligadas à cadeia da comunicação impressa, juntamente com a Bracelpa (Associação Brasileira de Celulose e Papel) e as federações das indústrias Firjan e Fiemg, dos estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais, encaminharam cartas aos diretores do banco solicitando uma revisão conceitual da peça. “Não podemos aceitar que uma instituição do porte do Itaú preste esse desserviço à sociedade, transformando o papel de imprimir em vilão. Principalmente quando sabemos que o principal objetivo dessa campanha é a busca da redução de custos operacionais”, argumenta o presidente da Abigraf, Fabio Arruda Mortara.

“Somos a favor do estímulo ao consumo consciente de qualquer produto, mas isso tem de ser feito a partir de informações corretas e esclarecedoras e por meio de mensagens que não prejudiquem empresas que, como essa instituição financeira, também estão comprometidas com a preservação do meio ambiente e operam a partir dos princípios da sustentabilidade de suas operações”, declarou a Bracelpa, em comunicado. “Além disso, a imagem do extrato bancário sendo rasgado para diversão do bebê, acompanhada da frase ‘use papel para o que realmente vale a pena’, desvaloriza o papel, um produto tão presente e necessário na vida de todos os seres humanos”, acrescenta. A entidade ainda indica que, em 2010, 43,5% de todo o papel que circulou no país foi encaminhado à reciclagem pós-consumo, indicando que uma abordagem que incentivasse o ato poderia ampliar esse número. Ao final, a Bracelpa solicita uma revisão e alteração imediata das informações contidas no comercial.

Outro lado

O Itaú respondeu diretamente à Elizabeth de Carvalhaes, presidente executiva da Bracelpa, com nova carta. No documento, o banco agradece a gentileza da entidade em contatá-los e apresentar seu ponto de vista em relação ao tema, esclarecendo seu posicionamento: “Há mais de 10 anos, abraçamos a causa do uso consciente como uma importante vertente de sustentabilidade em nosso negócio. Acreditamos que nossa melhor contribuição para um mundo sustentável é conscientizar e inspirar as pessoas a construírem relações mais sustentáveis com o dinheiro e com tudo que tenha correlação direta ou indireta com os nossos negócios. O uso consciente do papel se encaixa nessa perspectiva. Trabalhamos com gráficas que possuem a certificação FSC e, em 2010, certificamos também a nossa própria gráfica”, pontua a carta.

“Continuaremos utilizando o papel no nosso negócio e também enviando correspondências impressas, seguindo sempre a filosofia do uso consciente. Ao oferecermos a opção de envio de informações somente por meio digital, atendemos também a pedidos de muitos clientes de não mais receber estas correspondências impressas. O filme agora está em uma segunda fase, na qual reforçamos justamente a agilidade e segurança na opção digital dos extratos. Agradeço novamente sua preocupação e esteja certa que o objetivo de nossa campanha é contribuir, de fato, para relações mais conscientes e sustentáveis com nossos clientes”, finaliza o documento.