Abilio, a lenda
TV Manchete, ao vivo. 17 de dezembro de 1989. Depois de sete dias de cativeiro, sequestrado, Abilio aparece. Policiais, ele, Bresser Pereira, Furquim e o Cardeal Arns.
“Fui libertado na tarde de domingo e retornei à minha rotina”, diz Abilio. “Pelo menos era o que eu pensava. Faço aniversário no dia 28 de dezembro. Durante pelo menos dez anos mantive o hábito de deixar São Paulo logo após o Natal e passar meu aniversário e o Réveillon em companhia de amigos no Arco-Íris (barco). Provavelmente um marinheiro da embarcação caminhava pelo convés… o barulho de seus passos acima de minha cabeça devolveu à minha memória sons que escutava no cativeiro”.
Minha mãe, Julieta Madia de Souza, estava hospitalizada no Sírio. No quarto em frente, a mãe do Armando Ferrentini. No mesmo andar, Cidão Diniz lutava contra um câncer. Todo o fim de tarde, comandada por Floripes e “Seo Santos”, os irmãos visitavam Cidão. Menos Abilio.
“Em 1978, meu pai decidiu fazer a partilha. Como se fossem capitanias. Deu uma delas a cada filho. Filho mais velho, havia trabalhado duro para construir o Pão de Açúcar. A tarde da briga em que se selou o rompimento da família foi um dos meus piores momentos…”.
Baixinho, gordinho, filho único até os sete anos, Abilio sofreu com os moleques do Glicério. “Em pouco tempo me transformei em saco de pancadas”. Um dia acertei a conta com o pior deles. “Você não é capaz de imaginar o prazer que senti em revidar depois de tanto sofrimento”.
Abilio significa “aquele que não é vingativo” ou “criador de abelhas”. No caso dele, criador de abelhas. Poucas com ferrão, mas, essas poucas… Que abelhas! Nas poucas horas vagas vertem mel de excepcional qualidade e incomum doçura. Mas, apenas, nas horas vagas, que repito, são poucas.
Abilio fala com Deus e acredita ser ouvido. “Rezo o tempo todo. Só, nadando, correndo ou na musculação. Com Santa Rita chego a ter mesmo uma relação de amizade sincera e camarada. Como se fosse alguém de carne e osso para quem dou um telefonema”.
Resort Penha Longa, Sintra, 30 minutos de Lisboa. Abilio, família e convidados a dedo comemoram seus 80 anos. Entre 21 e 23 de abril de 2017, seus 300 convidados celebraram sobre o tema saúde e longevidade, com a mentoria e palestras das maiores autoridades no assunto. Nas pausas noturnas, Marisa Monte e Roberto Carlos. E o encerramento com Fernanda Montenegro.
Agora, na minha frente, Abilio na capa de Forbes. Diz: “Não podemos parar”. E ensina os seis pilares: 1 – Controle do estresse; 2 – Atividade física; 3 – Alimentação saudável; 4 – Autoconhecimento; 5 – Espiritualidade; e 6 – Amor.
Abilio vendeu seu sonho. De forma desesperada, lancinante, quase sexualmente explícita, tentou resgatá-lo de todas as maneiras. Pelo sonho valia tudo. Até sujeitar-se a esperas em recepções e não ser atendido, e ainda passar vergonha. De nada adiantou. Começou, depois dos 70, um ou muitos novos sonhos.
“Costumava dizer aos meus amigos que jamais dava seta em meu carro porque não tinha de prestar contas a ninguém sobre que direção estava tomando… Humildade, essa a palavra-chave que melhor traduz meu processo de mudanças pelo que passei nos últimos anos”.
Abilio Diniz, a lenda. Agora, octogenário. Parabéns, Abilio.
Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing