Acabaram banalizando a palavra influenciador, afirma KondZilla
Konrad Cunha Dantas começou a carreira como estagiário na área de finalização de comerciais de 30 segundos e se tornou dono da principal produtora de clipes de funk do país
A KondZilla é a principal produtora de clipes de funk do Brasil e foi a responsável por revelar artistas como Kevinho, Mc Kekel, MC Fioti, Lexa, MC Dede, Jottapê, Mila, MC Hollywood, MC MM, entre muitos outros.
O canal do Youtube da KondZilla atualmente conta com mais de 65 milhões de inscritos e leva o título de maior canal do YouTube Brasil e da América Latina, além de ser o sétimo maior canal de música do mundo. Além dos videoclipes de milhões de acesso, a produtora também é a criadora da série Sintonia, lançada pela Netflix em 2019. A série já conta com três temporadas.
Atualmente, a produtora e gravadora agencia mais de 100 artistas e é comandada pelo diretor de criação, produtor e empresário brasileiro Konrad Cunha Dantas (33), conhecido pelo mesmo nome que leva a empresa, KondZilla.
Antes de se tornar produtor, Konrad atuava no meio publicitário como finalizador de comercial de 30 segundos. Hoje, a KondZilla é um case publicitário, com campanhas para empresas como Nubank, Orloff e Yoki, e indicações em prêmios como Cannes (2017).
"Eu queria chamar a atenção do mercado publicitário porque queria ser um realizador audiovisual", afirmou Konrad.
Recentemente, a KondZilla anunciou uma sociedade com a Humanz no Brasil, que tem como objetivo democratizar o marketing de influência no país. A parceria tem como objetivo oferecer oportunidade para jovens com mais de mil seguidores que vivem na periferia ou que moram fora dos grandes centros urbanos de produzir conteúdos para marcas.
A KondZilla se tornou um case de sucesso quando o assunto é lançamento de cantores. Como você enxerga essa trajetória?
A KondZilla nasce ajudando a potencializar a voz de um monte de talento de periferia e hoje a gente tem a oportunidade de fazer a gestão 360º em cima das coisas que eu acredito. E hoje eu só invisto 100% nas coisas que eu acredito. Se eu tiver dúvida, se alguém tentar me convencer de alguma coisa que para mim não faz sentido, eu não faço investimento, eu não coloco nosso time para se dedicar naquele projeto. Hoje, eu só faço o que eu acredito e tenho essa oportunidade de produzir e investir só em coisas que façam sentido para mim. Então, não ter sócio me dá essa chance de fazer tudo o que está dentro do meu coração e tudo o que eu acredito, acho que é essa a palavra.
Como o relacionamento da KondZilla com as marcas começou e como isso impactou a empresa?
Na verdade, a empresa começou porque eu queria chamar a atenção dos anunciantes. Então em 2011, 2012, eu queria chamar a atenção do mercado publicitário porque queria ser um realizador audiovisual. Naquele período, a função que mais tinha prestígio no Brasil era diretor de TVC, diretor de comercial de 30 segundos para veicular na TV, então como eu não estudei na FAAP, Belas Artes, ESPM, no ECA, eu queria chamar a atenção de algum jeito. Assim, zero preconceito quanto a isso, inclusive eu quero que quando eu tiver filhos e eles queiram trabalhar com comunicação eu tenha a oportunidade de ajudá-los a estudar nesses lugares, mas eu não estudei e eu iria competir com toda essa turma, então eu procurei um jeito de chamar a atenção dos anunciantes e encontrei os clipes de funk para isso. Se a gente pegar uma entrevista minha de 2016, eu já estava falando que eu iria juntar o funk com a publicidade. Estamos em 2022, passaram-se aí seis anos. Eu fico mega feliz em ser reconhecido em fazer isso, mas não é algo que começou de agora, é algo que começou em 2011/2012, e em 2016 eu tive a primeira oportunidade de falar que eu iria fazer isso, mas antes de começar a trabalhar com clipe de funk, eu era finalizador de comercial de 30 segundos, eu já trabalhava na indústria da publicidade como estagiário. Então eu entrei na publicidade antes de entrar no funk.
Os influenciadores se tornaram comuns nas publicidades, vídeos etc. Como você enxerga isso?
Se a gente recortar só essa palavra 'influenciador', vamos ver que é muito amplo. Se o influenciador não tiver impacto social, eu não sei se tem que ser chamado de influenciador. Acabaram banalizando essa palavra. Essa pessoa ajudou a mudar a vida de alguém? Não. Então é influenciador de quê? Para comprar um bem de consumo? Então não é influenciador, é um marketing de influência, é diferente. Para mim, os maiores influenciadores do Brasil hoje se chamam: Preto Zezé, Djamila Ribeiro, Emicida, Celso Athayde, Nina Silva, essas pessoas são influenciadores e estão ajudando a transformar o Brasil. Alguém que dança uma música para alguém comprar algum tipo de produto é marketing de influência.
Como você trabalha com a economia criativa e qual é o impacto dela no seu dia a dia?
Eu nasci no digital produzindo entretenimento para o digital, música, conteúdos, séries. Essa é a natureza da empresa, economia criativa eu já faço há 15 anos.
Você acredita que a Economia Criativa perdurará por quanto tempo? Será o, digamos, 'modelo do futuro'?
Acho que é um pouco confuso quando fala de modelo, mas acredito que o digital, o entretenimento e a produção de conteúdo para distribuir em qualquer veículo da internet é um caminho irreversível.
Hoje, existem muitas plataformas e tendências que surgem nelas. Como você vê esse movimento?
Hoje, quem dita a tendência é quem entrega o maior alcance para a base de público. Isso muda quando a plataforma começa a querer cobrar que o produtor pague pela entrega do conteúdo. Vamos pegar todas as plataformas que já foram a número um de consumo, de tempo de uso que o usuário ficou dentro daquele aplicativo, por exemplo. Elas já foram a número um e deixaram de ser quando começaram a cobrar para aumentar o alcance da entrega. Isso não mudou ao longo desses quase 15 anos de experiência, não mudou essa característica da plataforma que é número um e da plataforma que caí do número um para o número 10. A plataforma que respeitar isso, vai continuar sendo a número um, como é o TikTok hoje em dia, mas amanhã eu não sei mais.
Você anunciou a parceria com a Humanz recentemente, como ela deve impactar a vida das pessoas que serão ajudadas?
Na pandemia, a gente enxergou que precisava trabalhar com outros talentos de periferia que não eram cantores. Eu acho que o papel da Humanz dentro das periferias do Brasil e essa nova fase da KondZilla é mostrar essa pluralidade de talentos, que a favela não tem apenas jogadores de futebol e funkeiros, tem um monte de outros talentos. Não tem como eu distribuir no Spotify, por exemplo, o trabalho de alguém que não é cantor, a não ser que aquela pessoa experimente cantar ou, de repente, faça um podcast que é um produto que o Spotify vem investindo. Mas se for pensar em produção de conteúdo no geral, tem um milhão de outros tipos de talentos, então a Humanz vem para conectar o mercado publicitário com esses criadores de conteúdos e a KondZilla faz muito bem esse papel de agregadora, que é plugar o produtor de conteúdo, seja conteúdo de música ou audiovisual, com o canal. E a Humanz está fazendo esse papel para plugar o anunciante com o produtor de conteúdo, então a Humanz é uma agregadora também.
E quanto ao mercado em si? Como essa parceria deve impactar o setor?
A Humanz é uma oportunidade do mercado publicitário ser mais assertivo por ser uma plataforma de inteligência artificial para marketing de influência. Eu preciso comunicar com a nova dona de casa, eu ouvia muito falar sobre isso no meu primeiro projeto publicitário. Meu primeiro projeto publicitário na Conspiração, que eu fiz em 2016 foi para conectar a Nestlé com a nova dona de casa, que não era mais só a mulher de 45 anos com dois filhos e sim a nova dona de casa, que era uma menina de 18 anos que tinha acabado de sair da casa dos pais e foi morar sozinha. Então, de repente, eu tenho que falar com a mulher de 18 anos que acabou de sair da casa dos pais, e através da Humanz eu consigo identificar qual é o talento que conecta com esse target. A gente consegue ser muito assertivo na faixa etária, no gênero, na geolocalização, então tem projetos que são regionais, tem projeto que faz mais sentido contratar um influenciador que, na teoria, é menor, mas ele tem uma taxa de conversão maior porque o engajamento dele é maior. Tem muita gente que tem 20 milhões de seguidores que não converte venda, no final das contas a gente está conversando aqui de vendas, conversão de venda. Então a Humanz vai ajudar os anunciantes a conectar com talentos de marketing de influência que vão conseguir converter na venda, porque não adianta a pessoa ser só famosa e ter vários seguidores.