Adriano Matos: “Um bom trabalho de Mobile precisa ter relevância”

O vice-presidente de criação da agência Grey Brasil, Adriano Matos viverá mais uma importante experiência no Festival Internacional de Criatividade Cannes Lions. Após ter conquistado o inédito Grand Prix de Mobile no ano passado, com o case Detector de Corrupção, para o Reclame Aqui, o profissional agora terá a missão de ser o representante brasileiro no júri da categoria em 2019. Nesta entrevista, Matos, que está indo para a sua décima edição do festival, comenta que ideias mais simples podem ser o caminho para driblar os desafios financeiros que a indústria apresenta, que espera ver uma diversidade de soluções, sobretudo, em uma tecnologia que é tão variável de país para país.

ESTREIA COMO JURADO
Minha relação com o festival é antiga. Estou indo este ano para a minha décima edição do Cannes Lions. Acredito que o único lugar que ainda não pisei dentro do Palais é a sala do júri. Acompanhei o Cannes Lions se tornar mais abrangente desde a época onde Print tinha um protagonismo gigantesco. Fiquei muito honrado com o convite.

GP DE MOBILE 2018
É uma grande responsabilidade fazer parte do júri de Mobile após ter ganho o Grand Prix do ano passado. Imagino que deva existir uma certa expectativa sobre a minha pessoa lá dentro. Mas, para mim, o desafio será o mesmo. Nunca gostei de viver de passado. O que aconteceu está em minha trajetória profissional e me honra bastante. Daqui para frente a batalha é em Cannes 2019.

POTENCIAL
Para ser muito sincero, vi poucos trabalhos brasileiros na categoria mobile até o momento. O que me surpreende um pouco. Talvez, o Brasil não tenha uma quantidade tão grande de trabalhos, ou as pessoas ainda vão me acionar. Porém, Cannes Lions é um palco onde muita coisa se desvenda por lá. Muitas surpresas acontecem. Não são raros os Leões de ouro do país que a gente se surpreende por nunca ter visto antes. Com isso, o Brasil pode surpreender, pois tem uma potência criativa grande.

VALE FICAR DE OLHO
Sem querer puxar sardinha para o meu grupo, mas a Grey Nova York desenvolveu para a Volvo um projeto de mobile chamado Longest drive, que me impressionou muito. Durante todo o período do Super Bowl, a marca desafiou as pessoas a manterem seus olhos somente em seu comercial. Quem desviasse o olhar do filme, que contava com reconhecimento facial, perdia. Isso acabou virando um game e durou mais de nove horas. O vencedor ganhou o direito de dirigir o novo sedã da marca por dois anos. Acredito que isso é um uso de mobile bem interessante.

EXPECTATIVA
Espero ver muita diversidade de soluções, sobretudo, em uma tecnologia que é tão variável de país para país. Enquanto a rede 4G está substituindo as redes de wi-fi em países mais desenvolvidos, no Brasil, o nível de conexão é ‘meio g’. O uso de mobile em Tóquio é muito diferente, por exemplo, do que em Quixeramobim. Isso não faz com que países com menos capacidade financeira sejam menos capazes criativamente. Um ótimo exemplo disso é a Colômbia, que ganhou o Grand Prix de Inovação, em um país onde metade da população não tem internet. O Japão não poderia ganhar esse GP de inovação, pois lá eles não têm este problema.

IDEIAS MAIS SIMPLES
Acredito que esse é o caminho por conta das dificuldades e dos desafios financeiros que a indústria apresenta. Estamos vivendo, globalmente, um mundo onde as verbas estão migrando das grandes produções previsíveis para as pequenas ações digitais. Acredito que as ideias mais simples estão vencendo mais prêmios por conta dessa readequação. O poder da ideia precisa superar as limitações financeiras do mercado.

FUTURO MOBILE
Acredito que em algum momento vamos relembrar como as ações que ganharam prêmios estavam só no celular. No futuro, uma smart mochila ou um relógio podem ganhar prêmios em Mobile, pois os wearables estão crescendo muito. Vamos nos surpreender com a evolução e a quantidade de possibilidades que a tecnologia wearable vai trazer. Ela é uma tecnologia naturalmente Mobile.

RELEVÂNCIA
Um bom trabalho de Mobile precisa ter relevância. Acredito que se Waze, Google Maps ou Uber tivessem se inscrito no Cannes Lions, seriam Grand Prix de Mobile. E o que todos esses apps têm em comum? Relevância para o consumidor.