Agências unem gerenciamento de carreiras e conteúdo
Dos palcos de stand up e de vídeos na internet para publi posts, campanhas e conteúdos em TV e streaming.
O caminho que alguns criadores de conteúdo digital têm trilhado é paralelo, de certa forma, à evolução das agências que cuidam de suas carreiras.
Mais do que gerenciar a parte artística, a fluidez entre plataformas e as necessidades de um mercado ávido pelo conteúdo desses criadores fez com que empresas fossem ampliando sua expertise e alcance.
Uma dessas companhias é a Non Stop Produções, que nasceu muito focada em shows e hoje atua no gerenciamento e planejamento de carreira de talentos artísticos para plataformas como TV, teatro, cinema e redes sociais. Entre os mais de 15 artistas no casting estão os humoristas Whindersson Nunes e Tirullipa, e o youtuber Luccas Neto, do canal Luccas Toon.
Ao longo do tempo, a empresa, que nasceu com sócios vindos da música e do teatro, foi ampliando o escopo de atuação e passou a ter gerenciamento de carreira, produção de conteúdo, venda de shows, publicidade, marketing e assessoria de imprensa. As capacidades foram agregadas de acordo com as oportunidades de mercado e com a visão estratégica do futuro dessa indústria.
Aos poucos, a percepção de que poderia cuidar e gerar negócios para os talentos em todas as frentes, inclusive na publicidade, negociando imagem e anúncios em suas redes sociais, por exemplo, fez com que a Non Stop abrisse oportunidades e negócios para si e para seus agenciados.
Alex Monteiro, um dos sócios da empresa, comenta a importância desse olhar específico. “O criador de conteúdo digital nasce no quarto dele. Vivendo esse mercado percebemos que tínhamos de criar toda uma estrutura de produção de conteúdo, de publicidade, de assessoria para suprir as necessidades. E outra coisa é que eles têm a autenticidade como característica. Não adianta colocá-los na mão de uma produtora que vai entregar o texto pronto. Precisa ter quem entenda essa dinâmica”, comenta.
Como produtora de conteúdo artístico, a Non Stop viu no mercado a necessidade de ter produtos com a cara dos influenciadores, e não somente a cara deles em produtos prontos. A partir disso, um time artístico interno passou a desenvolver projetos e vender a grandes players, movimentando em torno de R$ 9 milhões.
Entre os cases nesse braço estão dois com Nunes: Adulto, para a Netflix; e Viajando a trabalho, para o YouTube; e dois com Carlinhos Maia: Contando Stories, para o Instagram; e Uma Vila de Novela, para o Multishow.
No recorte de publicidade, a agência já trabalhou com marcas como Oi, Magazine Luiza, O Boticário, Colgate, Sorriso, Sony, McDonald’s, Disney, Net- flix, Bibi Calçados, Rommanel, Badoo, CVC e Snaptube.
Com movimentação estimada em R$ 15 milhões, esse lado da empresa tem Whindersson Nunes como principal nome, mas também vê outros talentos em destaque, como Gessica Kayane, que reúne diversos publiposts no Instagram usando o humor que a tornou conhecida.
EXPANSÃO DE UNIVERSO
Já a Mynd fez quase o caminho inverso e chegou depois ao agenciamento. Hoje como grupo especializado em música, marketing de influência e entretenimento, a empresa constrói estratégias 360° conectando marcas, consumers e fãs.
Fátima Pissarra, diretora-geral da Mynd, conta que desde o início, como Music2 representando a Vevo, a empresa foi desenvolvendo outras expertises e aperfeiçoando a resposta a todo esse universo. “Continuamos fazendo projetos de música para marcas, cuidando de artistas e contratação para marcas… fomos crescendo em volta da música”, conta.
Quando a Mynd nasceu, ela lembra que havia um gap no agenciamento de artista. Quando uma marca ligava, o empresário pouco sabia o quanto passar de orçamento. “O empresário muitas vezes se baseia por show. Mas será que na publicidade o mesmo artista é o maior tanto quanto em quantidade de pessoas nos shows? São outros fatores. É um outro mercado, outras pessoas, e está mais relacionado à conexão com as marcas. O know how foi crucial. Já tínhamos anos de mercado”, diz.
Hoje a empresa conta com aproximadamente 70 funcionários e teve um faturamento na casa de R$ 60 milhões em 2019. Atendendo música e entretenimento, a Mynd tem no portfólio, no universo da música, Leo Santana, Ludmilla, Kevinho, Luisa Sonza, Pabllo Vittar, Lucas Lucco, Ferrugem, Mumuzinho, Preta Gil e Negra Li; e influenciadores como Kéfera e Lore Improta.
Somente a equipe de vendas conta com 12 profissionais dedicados a explicar quem são os talentos e a credibilidade construída pela empresa em gestão, desenvolvimento de carreira e produção de conteúdo.
Para a executiva, ainda há muito espaço nessa indústria, especialmente em nichos. “Tem muita gente precisando de ajuda e crescendo rápido. Há muitos nichos para trabalhar, desde regionalmente, a temas específicos como maternidade e área financeira, por exemplo. Nós mesmos, na nossa demanda, verificamos oportunidades, mas não dá para abraçar tudo.”
REGRAS BÁSICAS E EXPANSÃO
Toda essa ampliação de serviços apenas é possível por fatores como a aproximação natural de influenciadores e marcas. Para as empresas, essa relação tende a ser aperfeiçoada oferecendo vantagens para todos os envolvidos.
Para manter esse crescimento sustentável e saudável, as empresas avaliam que o conhecimento e o respeito pelas características do criador de conteúdo, somados ao entendimento de mercado, são peças fundamentais para criar um produto original e impactante.
Ter uma produção feita de forma colaborativa também é requisito para diminuir ruídos e otimizar resultados. Outro ponto importante é zelar pelo influenciador e manter a coerência. “Hoje nosso trabalho também é grande em recusar proposta que não sejam adequadas ao influenciador, precisamos protegê-lo. É preciso fazer isso. Não podemos vender por vender, é preciso entregar o resultado, ou o influenciador ser temporal”, fala Monteiro.
Em expansão, ambas começaram 2020 com novas ideias e projetos. A Non Stop vai apresentar outro braço da casa relacionado ao estritório aberto em agosto de 2019 em Portugal.
Em alguns meses a empresa deve lançar um trabalho de produção de conteúdo publicitário, integrando talentos brasileiros e portugueses. “Percebemos que o mercado está como quando iniciamos nosso trabalho no Brasil, ainda pensa muito no ator de televisão. Mas o jeito de se comunicar na internet é único. E tem de ser do influenciador. Ele sabe como fazer e precisa estar ativamente participando da criação e da produção”, conta Monteiro.
Já a Mynd lançou no fim de janeiro o projeto Banca Digital. A ideia é que marcas potencializem o alcance e a frequência de suas campanhas.
O formato reúne grandes contas de entretenimento do Instagram e oferece o espaço para marcas participarem das conversas mais virais da rede.
A iniciativa transforma campanhas em postagens no feed e nos stories desses perfis que misturam informação, humor cotidiano e memes. O projeto é liderado por Murilo Henare dentro da Mynd, que está à frente do perfil Miga Sua Loca no Instagram.
Fazem parte do novo projeto “revistas virtuais” de 11 perfis, entre eles Alfinetei (12 milhões de seguidores), Sou Eu Na Vida (8,9 mi), Choquei (7,3 mi), Nazaré Amarga (6,9 mi) e Miga Sua Loca (2,4 mi). Com tamanho alcance, muitas marcas queriam contratá-los, mas havia um receio por não saber quem fazia.
Segundo Fatima, o alcance potencial é estimado em 121 milhões de impactos diários. “Não vivemos de agenciamentos, vivemos de projetos”, comenta sobre o trabalho da agência.
Monteiro lembra o início da Non Stop, voltada para shows, ao perceber tudo que envolvia esse segmento e de como havia campo. “Não foi planejado. O crescimento foi necessário.”