O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) relevou este mês que, pela primeira vez, os estudantes negros são maioria dentro das universidades públicas. Na terminologia oficial do instituto, eles são a soma dos universitários pretos e pardos e representam 50,3% do total.

Entretanto, mesmo sendo maioria na universidade pública, a população negra ainda está sub-representada, já que equivale a mais de 50% da população brasileira. Além disso, negros representam quase 55% da força de trabalho. Porém, mesmo sendo maioria, a desigualdade faz com que o caminho da base até o topo tenha que passar por uma janela estreita de oportunidades: só 30% dos cargos de comando no país são ocupados por negros.

A comunicação vem se esforçando para mudar tal realidade. Iniciativas de agências e de players do mercado tentam, de maneiras diversas, equilibrar a balança e demonstrar também nos escritórios desses espaços uma imagem mais parecida com a realidade do Brasil. Em novembro, estas ações ganham força.

Na Ogilvy, o comitê de diversidade SOMOS Ogilvy iniciou o mês com a campanha interna “Novembro Negro”, enfatizando o que é esperado do futuro para uma publicidade mais plural e igualitária, com oportunidades de crescimento e desenvolvimento para todos e todas. Desde 2017 o SOMOS tem um papel importante dentro da agência, atuando no pilar de educação corporativa e convidando os funcionários e funcionárias para discussão e reflexão de diferentes pautas.

Post de Samantha Almeida, head de conteúdo da Ogilvy Brasil

Para o mês da Consciência Negra, foram preparados três papos abertos para toda a agência, com os temas: “Racismo Reverso e Branquitude”, “Apropriação Cultural e Afroconveniência” e “Representatividade e Black Money”. Na última semana do mês haverá a participação do artista musical Rincon Sapiência para dar continuidade às conversas os colaboradores e colaboradoras.

O comitê também preparou uma curadoria de materiais, documentários, textos, vídeos e imagens de cantores, youtubers, atrizes e atores negros chamado de “Tela Preta”, que consiste na exibição desses materiais em um ambiente da agência. Ao passar pelo espaço, as pessoas podem interagir com o tema e se aprofundar no assunto.

Segunda edição do painel Enegrecendo a Propaganda na Y&R (Divulgação)

Na Y&R há a crença de que a ideia de Novembro Negro e a celebração da cultura e história da população negra deve se espalhar durante todo o ano, e não ficar restrita somente a um mês. “Então em 2019, ano em que solidificamos a nossa área que pensa diversidade dentro da Y&R, nós desenvolvemos algumas atividades: recebemos a reunião inaugural da plataforma Co.esão que promove as questões de raça e etnia através de capacitação e mentorias. Tivemos uma palestra com Luana Génot, fundadora do ID_BR e do movimento Sim a Igualdade Racial, na reunião anual do VMLY&R Group que realizou ações locais e globais”, conta David Laloum, presidente da agência.

A Young também fez uma celebração do Dia da Mulher Negra, Caribenha e Latino-americana com uma feira para mulheres empreendedoras. “Enviamos dois colaboradores, Felipe Silva e Leonardo Ribeiro, para dar aulas na edição baiana do Conexão Negra, projeto de capacitação do MPT [Ministério Público do Trabalho] para jovens negras e negros”, afirma.

O executivo segue: “recebemos o Estúdio Nina para apresentar uma pesquisa sobre a relação das mulheres negras e brancas com a limpeza da casa, e como isso impacta no comportamento e consumo dessa população. Assinamos o Pacto Pela Inclusão Racial do Ministério Público. Definimos metas internas por área para o próximo ano para contratação de profissionais negros em diversos níveis hierárquicos da agência. Recebemos a segunda edição do painel Enegrecendo a Propaganda, criado pelo nosso diretor de PR e líder de diversidade, equidade e inclusão Jeferson Martins, que recebeu profissionais do Google, Folha de São Paulo, Ogilvy, Batekoo, Black Influence, Outra Praia e Mandata Quilombo para discutir questões de empregabilidade da população negra na indústria de comunicação. Também lançamos nosso programa de mentoria para profissionais negros que terá início em 2020”, revela Laloum.

Perguntado sobre o que a agência está fazendo para formar mais líderes negros, ele explica que um dos movimentos é fortalecer as relações entre e com a comunidade dentro da agência. “Temos um grupo de afinidade chamado AfroYoungers onde são discutidas as necessidades desse grupo dentro do nosso negócio. Um próximo passo é entender como podemos potencializar a carreira de cada um desses profissionais através das necessidades mapeadas”, comenta.

Comitê de diversidade da Africa. (da esq. p/ dir.) Primeira fileira: Letícia Millião e Gabriela Silva / Segunda fileira: Mayara Senna e Camylla Eiro/ Terceira fileira: Camila Fidellis, Angerson Vieira, Asaph Luccas, Juliane Shizuko e Lucas Gregório Nunes (Divulgação)

A agência Africa também conta com um comitê de diversidade, o time de Raça do Pangeia. Na última semana, a gerente de gestão de pessoas, Camila Fidélis, abriu o mês da Consciência Negra explicando um pouco mais sobre o significado histórico do dia 20/11 e a importância de, cada vez mais, ocupar a agenda com discussões sobre representatividade e protagonismo negro. Logo após a abertura, a agência recebeu a empresária, consultora, autora e fundadora do Fórum Protagonismo Feminino Alexandra Loras, que palestrou e se aprofundou sobre conceitos como racismo institucional, a importância da representatividade negra e feminina na comunicação.

Na última segunda-feira (18), também aconteceu o Café com Insights, papo promovido pelo time de Insights – Inovação e Pesquisa Criativa – com o objetivo de inspirar as pessoas sobre o negro, sua cultura e comportamento no audiovisual. Afrofuturismo, Afrodiáspora, Afroconsumo e Ativismo foram alguns dos conceitos trabalhados no dia. Outras atividades também estão previstas como uma mesa de discussão com profissionais do mercado da comunicação e uma visita guiada ao Museu Afro Brasil com os interessados.

A agência revela que está colocando de pé a Escola Africa, um projeto que trará programas de desenvolvimento individuais, com mentorias e aulas para jovens negros. “Nosso objetivo é que esses jovens iniciem aqui como estagiários, alavanquem suas carreiras por meio do programa e cresçam dentro da própria agência. Também estamos criando um banco de currículos específicos para vagas estratégicas, além de firmar contratos com instituições e consultorias que irão ajudar a turbinar o banco”, diz a empresa.

Kellen Julio, gerente de comunicação interna e diversidade da Globosat (Divulgação)

Além das agências, todo o ecossistema da comunicação fortalece a luta por igualdade neste período. Na Globosat, Kellen Julio, gerente de comunicação interna e diversidade da empresa, pensa nas ações. “A estratégia da Globosat para aumentar o número de colaboradores negros foi elaborada pautada em três pilares: através da promoção de conversas e debates sobre o assunto para que a cultura da diversidade faça parte da organização de maneira orgânica; da construção de iniciativas com os próprios colaboradores, como o grupo de afinidade étnico-racial (grupo de trabalho interno sobre diversidade); e através de parcerias com consultorias especializadas no assunto”, revela.

Para comemorar o mês da Consciência Negra, a área de diversidade da empresa, o SER, o grupo de afinidade étnico-racial e o Diáspora Globosat prepararam uma série de eventos para abordar diferentes temas que envolvem a questão racial. Kellen revela que, pensando em trazer mais diversidade para a empresa, a área de Recursos Humanos, através do SER e a área de Aquisição de Talentos, fechou uma parceria com a EmpregueAfro, uma consultoria de RH focada em diversidade étnico-racial, para o programa de estágio. “A empresa acredita que o estágio é a porta de entrada para a transformação de realidades de muitos jovens no início de suas carreiras”, comenta.

Além de diversos eventos promovidos em novembro, a empresa trabalha conteúdos sobre a questão étnico-racial no LinkedIn e nas redes sociais da companhia. “No primeiro, por exemplo, estamos postando artigos de colaboradores negros para aumentar a discussão sobre o assunto”, explica mencionando este exemplo.

Emoji do Twitter (Divulgação)

Já o time do Twitter também trabalhou para fortalecer as pautas do período. Assim como fez nos últimos anos, a rede social disponibilizou um emoji especial para estimular o debate sobre o mês da Consciência Negra na plataforma, visualizado para quem tuita com as hashtags #ConsciênciaNegra, #VidasNegras, #MêsDaConsciênciaNegra, #CelebroMinhaNegritude e #DiaDaConsciênciaNegra durante novembro.

A plataforma também apoia a campanha de doação de livros criada pela ativista e acadêmica Winnie Bueno. Em 20 de novembro de 2018, Dia da Consciência Negra, Winnie usou sua conta no Twitter para encorajar pessoas brancas a comprar um livro para ativistas negros. Após diversas respostas positivas, nasceu o projeto que desde então já doou mais de mil livros para pessoas negras. A partir desta terça-feira (19), a iniciativa se transformou na campanha #PedeUmLivro, com apoio do Twitter e do Geledés – Instituto da Mulher Negra.

A rede social também promoveu um Twitter Voices com nomes da comunidade negra:

O Google diz que em novembro o interesse por racismo mais que dobra. Na média, há 120% mais interesse de busca pelo tema no mês citado que na média dos outros meses do ano. Além dos números, a empresa revela que teve como uma das principais iniciativas de 2019 aqui no Brasil o lançamento de um programa de estágio focado em aumentar a representatividade de grupos sub-representados.

O Next Step foi lançado em janeiro e 21 estagiários começaram a trabalhar na empresa por dois anos a partir de agosto. Ao longo do programa, além do desenvolvimento de habilidades profissionais dos estagiários, um curso intensivo de inglês dentro do próprio escritório foi oferecido. Uma rede de suporte composta por diversos grupos de Googlers oferece coaching e mentoria para esses jovens.

A gigante da tecnologia também idealizou o Black Ads Academy, um projeto que tem como objetivo criar novas habilidades e oportunidades para jovens negros no mercado de publicidade. Com o apoio dos parceiros Black Rocks, Indes, Co.esão, a empresa treinou 100 jovens negros, entre 16 e 20 anos, para concluir a certificação em Google Ads – Rede de Pesquisa.

Na segunda fase, 47 jovens que passaram na certificação participaram de uma formação em Gerenciamento de Campanhas na Goobec. Nas próximas fases, eles ainda farão uma visita guiada em uma das agências de publicidade parceiras do Google, além de terem um papo sobre o mercado e carreira com um profissional sênior da agência. Na quarta – e última – fase, que acontecerá no início de 2020, os jovens passarão por um acompanhamento profissional, de inovação e empreendedorismo liderado pela Black Rocks.

O Google também promoveu a hashtag #PresençaNegra no Twitter para dar visibilidade a histórias da negritude do Brasil.

Já o Facebook realiza diversas ações que vão desde treinamentos até o que eles chamam de “Grupos de Afinidades” ou FBRG (Facebook Resource Groups), que focam em comunidades que são, tradicionalmente, menos representadas. Os Grupos de Afinidades do Facebook estão construindo comunidades e apoiando o desenvolvimento profissional em todo o mundo. Só na América Latina, por exemplo, há grupos como Black@FB, Women@FB, Pride@FB, para a comunidade LGBTI+, e Differently Abled@FB, para a comunidade de pessoas com deficiência.

Esses grupos são responsáveis ​​pela criação de várias iniciativas para promover a inclusão na região. O Black@, por exemplo, já liderou diversas oficinas de orientação no Brasil, em parceria com ONGs como o Projeto Meninas Negras, o Indique uma Preta, o More Grls e a Estação Hack do Facebook. A empresa também afirma promover palestras com especialistas para discutir com os funcionários temas como racismo estrutural e racismo histórico no Brasil.

Vale destacar também que todo funcionário do Facebook passa por dois treinamentos chamados “Managing Bias” e “Be the ally” para que possam identificar e combater preconceitos inconscientes que eles e seus colegas possam ter. Os treinamentos fornecem aos funcionários linguagem e ferramentas comuns para lidar com preconceitos – conscientes ou inconscientes – e espaço para que construam a inclusão no local de trabalho, buscando garantir que todos tenham as mesmas oportunidades dentro da empresa.