Renato Zandoná, group creative director da AKQA (Divulgação)

Renato Zandoná, group creative director da AKQA, agência do Grupo WPP, concedeu entrevista ao PROPMARK para falar sobre o atual momento do mercado publicitário.

No bate-papo, o criativo da agência que foi destaque brasileiro no Cannes Lions do ano passado fala sobre o festival, casa da AKQA, prospecção de novos clientes, entre outros temas.

Cannes foi cancelado. O que muda pra vocês, já que em 2019 a AKQA Casa foi a grande agência brasileira do festival?

Continuamos trabalhando da mesma forma que antes. Como a AKQA não trabalha com ideias específicas para Cannes, mas trabalhamos para que todo job tenha uma excelência criativa capaz de ser inscrito em festivais, o dia-a-dia acaba sendo o mesmo.

O que mudou mais neste momento foi trazer um foco maior para as novas necessidades dos nossos clientes, e um cuidado constante com o nosso time interno nesses dias tão estranhos que estamos vivendo.

A Casa da AKQA ficou famosa no mercado publicitário de São Paulo. Como está o local em tempos de pandemia? Vocês estão 100% em home office? (se puder mandar fotos, agradeço)

Kaitiano e sua equipe são os únicos no escritório da AKQA (Divulgação)

Hoje estamos 100% em home office desde o dia 13 de Março, sem previsão de volta. A Casa está completamente vazia, se não fosse pelo Kaitiano e sua equipe, cuidando da segurança do estúdio. [FOTO DO KAITIANO]

Para poder entender melhor o que seriam nossos próximos passos dentro da Casa, estamos em contato com outros estúdios da AKQA no mundo que já viveram o que estamos vivendo hoje e já estão dando passos para uma completa abertura, como a AKQA Shanghai, Tokyo e Denmark.

Também estamos com algumas conversas externas para encontrar uma forma de disponibilizar a Casa para a comunidade. Aliás, queria aproveitar este espaço para convidar interessados em nos ajudar neste projeto, a mandar uma mensagem no email paulo.ventura@akqa.com

Como está a prospecção em tempos de pandemia? Os clientes que eram parceiros seguem?

Parte dos nossos principais clientes continuam com muito trabalho pela sua relevância no momento atual. Outros clientes estão sendo mais cautelosos, segurando alguns projetos, mas já projetando planos e campanhas para uma possível volta a “normalidade”. 

Mas o que todos estão em busca é do novo, de soluções inovadoras e desformatadas. Até porque a importância e a relação com as midias mudou. 

Desde que entramos em quarentena, lançamos alguns projetos que conversam com a realidade atual, como a campanha de Google e projetos que desconstroem o formato tradicional, como o movimento #ExisteAmor, de Milton Nascimento e Criolo, e a plataforma phygital da Nuvem Air Max, da Nike.

Pelo fato do mundo todo estar enfrentando o mesmo problema, muitos clientes tem vindo pra AKQA, por conta da conexão entre nossos estúdios pelo mundo, pra entender como as marcas e consumidores estão reagindo em países com momentos diferentes.

Estamos vivendo um momento de grande incerteza e toda estratégia deve ser revista diariamente, já que hoje a visibilidade do futuro é muito pequena.

A AKQA vem se destacando com trabalhos musicais. Em tempos de pandemia, isso é uma vantagem? Já que o consumo de música, aparentemente, cresce em tempos de distanciamento.

As pessoas estão vivendo a mesmice de uma rotina dentro de casa. Os dias são iguais. Na TV, uma pandemia global no meio de uma crise política e econômica. Alguns estão há semanas vivendo sozinhos em casa, enquanto outros estão vivendo sem nenhuma privacidade em uma casa com muitos familiares. Ansiedade, medo. O que elas mais querem é uma novidade no seu dia, um escape da realidade, um assunto novo, algo interessante pra assistir e desconectar desse mundo.

O entretenimento é esse escape da realidade. 

E quem nunca trabalhou com projetos musicais agora sente a necessidade desse tipo de conteúdo pra sua comunicação. O grande ponto é como ser relevante quando todas as marcas continuam fazendo a mesma coisa. Estamos vendo uma chuva de lives, com marcas abraçando essas iniciativas de qualquer forma, super mal posicionadas.

A Nike, com a campanha de Air Max 2020, poderia muito bem ter soltado os lançamento do Djonga, MC Soffia e NGKS em seu perfil nas redes sociais. Mas a criação de uma plataforma digital que se conectava com o mundo real, por uma experiencia de augmented reality que vc acessava da janela de sua casa, que trouxe essa surpresa pro consumidor, respondendo a expectativa do público por inovação e ineditismo.

Falando especificamente do mercado publicitário, qual a pior coisa que a crise provocada pela Covid-19 trouxe? E a melhor?

São tantas coisas. Hoje está tudo é muito incerto. Muitas marcas se contraíram. Outras foram muito oportunistas. Budgets congelados do lado dos clientes, equipes infladas e sem trabalho do lado das agências. É uma crise sem precedentes que ainda não sabemos como e quando vai acabar.

Por outro lado, estamos sendo forçados a inovar. Em tudo, não só inovação na entrega final, mas no processo todo. Na forma de criar, de produzir. Inovar no formato, na mídia. Na forma de apresentar, na forma de discutir uma ideia com seu time e com o cliente. A crise derruba quem não se reinventa, mas acelera o crescimento de quem faz diferente. Estamos muito longe da nossa zona de conforto, e isso pode ser benéfico, em algum lugar, pro nosso mercado.

Quais as principais mudanças que ficarão no pós-covid19?

Espero que a gente consiga manter a empatia pelo próximo. Entender que o que eu estou sentindo hoje pode ser diferente do que você está sentindo. E que hoje você pode estar bem, mas talvez amanhã não seja um dia bom pra você, e tudo certo. Ou que não seja um dia bom pra minha internet, e todo mundo vai entender porque amanhã pode ser a sua internet que vai falhar. Calls com latidos de cachorro, calls com barulho de obras no apartamento de baixo, ou crianças entrando em quadro e todo mundo parando a reunião, acenando oi pra elas. No final somos todos humanos, e vamos passar por isso juntos.