Basta observar rapidamente as campanhas de Dia dos Pais neste ano para entender como a figura paterna ganhou uma leitura mais atual na propaganda, com personagens mais afetivos e com mais deveres e responsabilidades com relação a seus filhos. Por outro lado, um filme com a mesma temática, por outro motivo, mostrou como a sociedade brasileira ainda precisa avançar em outros aspectos, sobretudo quando o tema é diversidade. Na semana passada a campanha “Pais”, criada pela AlmapBBDO para O Boticário, foi alvo de ataques racistas na web.

Sem forçar nenhuma barra, o filme conta a história da relação entre um pai e seus filhos, em uma família negra comum, nada mais natural, já que a etnia representa mais da metade do país de acordo com dados do IBGE. Em poucas horas o vídeo postado no Youtube recebeu aproximadamente 16 mil “dislikes” e comentários do tipo: “Pouco criativo e racista. Vamos misturar essa família aí” e “por que não tem nenhuma pessoa branca no comercial? Não é (sic) direitos iguais?”.

Depois da repercussão midiática, dezenas de milhares de pessoas saíram em defesa da campanha com mensagens positivas nos comentários do vídeo, além de curtidas na publicação. Em um bate-bola rápido, Luiz Sanches, sócio e diretor geral de criação da AlmapBBDO, falou sobre o assunto:

A marca e a agência esperavam toda essa repercussão sobre o filme de O Boticário para o Dia dos Pais? 

Não. Essa campanha foi criada em parceria com o nosso cliente O Boticário para valorizar o Dia dos Pais. Como em todas as datas comemorativas, criamos campanhas que contam histórias emocionantes das pessoas, das famílias e suas relações. Ao longo da história da marca, já retratamos diversos formatos de famílias compostas por pessoas de diferentes perfis. Por isso, não esperávamos essas reações sobre a questão racial.

O que essa reação negativa de parte do público diz sobre a sociedade brasileira?

 Diz que o país ainda tem um longo caminho a percorrer nessas discussões e evoluir nesses temas. Gostaríamos que essas questões fossem tão naturais que não precisassem ser debatidas.

De que maneira a AlmapBBDO e O Boticário lidam com a questão da diversidade em sua estratégia?

A diversidade não é o tema das nossas campanhas, mas sim a forma como retratamos com naturalidade a sociedade brasileira. O Boticário é uma marca brasileira, para todos. Por isso, todos devem se sentir representados nas nossas peças de comunicação.

Quais são os aprendizados possíveis que se pode tirar deste episódio?

A propaganda é um espelho da sociedade. E tem que evoluir junto com ela. Isso é o que sempre nos inspirou e continua nos inspirando ao trazer as verdades sobre as conexões humanas.

Como você enxerga os pais retratados na propaganda nos últimos anos? O que tem mudado?

Podemos falar pela AlmapBBDO: procuramos sempre retratar as pessoas da forma mais atual e natural possível, fazendo sentido à história que está sendo contada.