O dia 8 de março foi há pouco mais de um mês. Mas, para algumas agências, a luta pelos direitos das mulheres segue mais viva do que nunca.

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Algumas empresas do mercado encaram que março é, basicamente, o ano todo. Na Ogilvy, por exemplo, o trabalho de igualdade de gênero não pode ser datado, conforme explica Patricia Fuzzo, chief talent officer latam. “O maior exemplo da preocupação da Ogilvy Brasil com igualdade é que hoje temos um quadro muito equilibrado entre homens e mulheres nos mais diferentes níveis hierárquicos, incluindo a liderança”, destaca.

No dia a dia da agência também há programas que apoiam e incentivam o trabalho das mulheres. “Um dos momentos que ela mais precisa da agência, por exemplo, é quando retorna da licença maternidade. Não queremos perder esse talento, e sim que ela volte tranquila ao trabalho. Por isso, temos o programa chamado Amamentáxi – que incentiva a amamentação e permite que a mulher vá e volte para a sua casa, na hora do almoço, para ficar com o bebê, sendo que o custo do táxi é pago pela Ogilvy”, conta Patricia.

“Acreditamos que um quadro equilibrado, com mulheres e homens atuando lado a lado, com direitos iguais, é importante também para o resultado do trabalho. […] Lembrando que a Ogilvy Brasil é a única agência a ser premiada duas vezes com Leão de Glass em Cannes – essa categoria incentiva agências e clientes a desenvolverem campanhas que falem da igualdade de gêneros. Em 2017, ganhamos Glass com Meninas Fortes, de Nescau, e no ano passado fomos novamente premiados com The Dress for Respect, de Schweppes”, acrescenta.

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A BETC/Havas se orgulha em dizer que foi uma das primeiras agências a assinar o WEP’s (Women’s Empowerment Principles) – pacto global da ONU Mulheres que visa o empoderamento feminino no mercado de trabalho. Para Silvana Souza, diretora de RH da agência, o tema deve fazer parte da pauta cotidiana, pois ainda falta muito para se chegar à igualdade de direitos. “O primeiro passo é falar a respeito”, alerta.

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“Recentemente estudamos sobre equidade salarial para o projeto de uma cliente da casa. As descobertas são assustadoras. Por exemplo: por estatística, para uma mulher ganhar o mesmo salário que um homem, ela precisa entrar no mercado de trabalho 10 anos mais cedo. A responsabilidade de evoluir e mudar o nosso mercado é de todos nós”, comenta Andrea Siqueira, diretora executiva de criação da BETC/Havas.

Na WMcCann as iniciativas voltadas para participação feminina e igualdade de gênero são diretrizes globais do McCann Worldgroup, que definiu na América Latina e Caribe uma estratégia em torno do tema da diversidade e inclusão com três objetivos: promover maior liderança feminina em todas as áreas – com ênfase na criatividade; promover uma cultura organizacional baseada em uma consciência inclusiva, buscando um impacto nas estruturas e no produto para os clientes; e construir alianças que permitam alcançar os objetivos anteriores. “Podemos dizer que a WMcCann é uma agência, predominantemente, feminina. Nossa equipe é 55% feminina e 45% masculina. Nos cargos de liderança, são 52% de mulheres e 48% de homens. Não existe diferença salarial na agência”, explica Antonieta Stefano, diretora de RH da WMcCann.

“Na diretoria, contamos com uma VP de planejamento (Luciana Padovani), quatro diretoras de negócios e uma diretora de RH, além da diretora de criação Ana Castelo Branco. Aliás, a área da criação tem metas estabelecidas de aumento da participação feminina. Triplicamos o número de criativas em um ano, passando de 7% para 21 % – são 14 criativas em um universo de 68 publicitários. A meta é atingirmos 35% de participação feminina em 2020 na área da criação”, destaca Antonieta.

Além disso, a WMcCann tem uma Comissão de Diversidade e Inclusão para implementar iniciativas sobre o tema dentro da agência. “Foi formado um Comitê de Diversidade e Inclusão, com oito funcionários voluntários, que estão desenvolvendo projetos nesta área. Uma das primeiras propostas, em fase avançada, tem foco no segmento de Educação”, ressalta a diretora de RH.

A Havas Health & You se orgulha de ter uma agência com maioria feminina. “Temos representatividade de gênero em todas as áreas, inclusive na criação e na liderança. Sou uma das poucas diretoras executivas de criação do mercado, e na minha posição, meu papel é garantir que todas as mulheres do meu time tenham voz. Hoje elas são 60%”, comenta Laura Florence. “Não dá para pensar que em 2019 alguém não tenha entendido que a falta de diversidade nos times e culturas de verticalização de poder seja um atestado de óbito para agências e qualquer tipo de negócio. Estamos falando de resultados, não de caridade”, complementa a criativa.

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O programa Entre, da Publicis, ganhou boa repercussão no mercado. Domenico Massareto, CCO da agência, comenta que uma das grandes conquistas da iniciativa foi criar “consciência cultural” na empresa. “Todo mundo enxerga o problema e todo mundo está mais sensível para colaborar”, analisa.

Ester Silva e a Aline Nakahara foram alunas da primeira edição do programa e hoje trabalham na agência. “Aprendo todos os dias e é sempre interessante”, destaca Aline. O programa, que faz parte da plataforma Publicis Plural, objetiva capacitar e desenvolver universitárias que almejam a criação. O intuito é avançar na promoção da equidade de gênero na área.

“Deixamos o perfil de todas as alunas da primeira turma abertos para o mercado. Se alguém quiser entrar em contato, o currículo está lá à disposição. […] Quando terminamos a primeira turma, tínhamos 11 das 30 alunas trabalhando em agências. A gente assumiu que isso era uma coisa para o mercado”, elucida Massareto.

David Laloum, presidente da Y&R, ressalta que a agência tem um calendário anual de atividades que trazem luz para as questões das mulheres em vários momentos. “As atividades mais próximas são palestras internas do projeto Invista Como Uma Garota, que traz dicas e consultoria de vida financeira para mulheres e do Prazer Ela, projeto de Mari Stock que discute a potência feminina, e como ela pode ser aplicada no ambiente de trabalho. Além disso estamos inserindo em nossa comunicação interna informações sobre assédio e disponibilizando canais de acolhimento”, enumera o executivo.

Em 2019 a agência teve duas mulheres contratadas em cargos de liderança estratégica (board) e 64,2% de todas as contratações feitas desde fevereiro na criação são femininas. “Nosso mercado ainda está longe do ideal para termos um reflexo igualitário da sociedade. Tanto em termos de ocupação como remuneração. Entendemos que é nosso dever colocar energia para que esse quadro mude”, comenta.

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Já a VML conta com cerca de 170 colaboradores, entre as duas operações – SP e RJ -, sendo que quase 50% são mulheres. Muitas delas são gestoras de suas áreas – respondendo por equipes multidisciplinares. A agência também tem grande preocupação com a questão da equidade salarial e, atualmente, está em elaboração de programas de mentorias, em diferentes áreas.

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“Acho que apesar de estarmos num mercado que fala de inovação discutindo e não agindo sobre diversidade de gênero e raça é contradizer tudo isso. Como faz para ser inovador, efetivo, empático, eficiente sem considerar mulheres, negros, LGBTQ no time? Enquanto essa conversa não for prioridade nas reuniões de liderança, o barco só vai afundar. Sempre vem na minha cabeça a imagem do Titanic: enquanto o navio afunda, os homens brancos tomam champagne no salão nobre”, finaliza Laura Florence da Havas Health & You.