As séries, sem dúvida, caíram no gosto dos publicitários e são fonte de inspiração para a maioria dos criativos. Mais que entretenimento, elas ajudam a criar reflexões sobre formatos e conteúdos que, depois, desembocam em insights para as campanhas publicitárias que vemos na TV. Pedimos a alguns dos principais nomes do mercado para mencionar suas séries favoritas e explicar de que forma elas impactam suas ideias e seu trabalho. Confira o que eles disseram:

Ricardo Chester – diretor de criação da AlmapBBDO

Não estou assistindo a nenhuma série no momento, mas posso responder comentando o impacto da última série que assisti: a primeira temporada de Atlanta, que ganhou o Globo de Ouro da TV americana em 2016. São dez capítulos que não chegam a trinta minutos cada. A série passa voando. São capítulos aparentemente não interligados que revelam a realidade dura enfrentada pelos negros da classe média baixa nos Estados Unidos. Dificuldades que se vê não apenas da falta de dinheiro, mas, principalmente nas questões raciais, ainda bem sentidas na sociedade americana, como a série faz questão de escancarar. Mesmo revelando com precisão um cenário bastante difícil, os capítulos ainda conseguem trazer muitos momentos de bom humor, cultura rap na veia e entretém sem embarrigar. É possível que você assista aos dez capítulos na sequência, uma meia-maratona de sofá, digamos assim. Sobre aprendizados e inspirações diria que Atlanta reforça o que já se sabe, tanto no entretenimento quanto na publicidade: quando se retrata a vida de maneira insinuante e verdadeira, a chance de conexão aumenta. Nisso, Donald Glover, que dirige e atua na série, parece dominar com maestria. Li outro dia que ele se transformou na maior figura do pop atual nos Estados Unidos. Ao final dos dez capítulos você vai concordar que não se trata de qualquer exagero.

Divulgação

Flavio Waiteman – sócio e CCO da Tech and Soul

This is us. Empatia é o sentimento de se colocar no lugar de outro. Me coloco, muitas vezes, no lugar dos redatores de séries e com espanto vejo o quanto são bons e talentosos. “De onde tiraram essa ideia?”. Pois bem, você escrever sobre assassinato. Um policial. Uma cidade com seus costumes. É relativamente rico em argumentos. Agora, experimente escrever sobre uma familia de classe média, uma dona de casa e um mestre de obras com seus 3 filhos durante suas vidas comuns sem assassinatos, grandes momentos históricos e nenhum artificio de narrativa fantástica. Apenas a historia de pessoas comuns. Esse desafio se chama This is us. É eletrizante desde os primeiros segundos. É emocionante até o meio do episódio. É cruel como a vida. É catártico como são alguns momentos das nossas famílias. As várias emoções vão acontecendo apenas com boas idéias escritas e interpretadas sobre seus personagens. Quem foi que disse a obesidade não pode ser, em si, uma vilã e capturar uma pessoa doce e cativante em suas mãos cruéis. E o que são super poderes contra o vilão do vício em medicamentos, por exemplo. E assim vai o redator de This is Us com uma caneta em uma mão e o nosso coração na outra escrevendo mais um episódio.

Divulgação

Felipe Luchi – sócio e CCO da Lew’LaraTBWA

Eu gosto especialmente das séries que mostram o lado sombrio dos seus personagens. Não só sombrio, mas ambíguo. A primeira série que me pegou por esse motivo foi Sopranos. Depois vieram outras, como Breaking Bad, por exemplo. Nesse momento acabei de assistir a segunda temporada de Ozark, e adorei. Acho que o mais legal do surgimento da cultura de séries é a densidade dos personagens, é incrível como são bem construídos. E acredito que tem um efeito direto na publicidade. O consumidor está se habituando a histórias complexas, densas, ricas e menos maniqueístas. E isso afeta a maneira como eles julgam a propaganda, claro. Também afeta a expectativa que possuem sobre conteúdo. Se uma marca se aventura nessa área, é bom saber que a competição é grande.

Divulgação

Gabriel Araújo – global CCO da Ogilvy & Social.Lab Belgium

A série que estou assistindo no momento chama-se O Método Kominsky. Trata-se da história de um professor de teatro interpretado por Michael Douglas e do seu agente (Interpretado pelo brilhante Alan Arkin) que perde a esposa e tem que decidir o que fazer da vida agora. A série é uma reflexão divertida sobre a vida, o envelhecimento e o que vem com ele. Quando olhamos e comparamos com nossa profissão, o ritmo é perfeito, o texto é incrível, com piadas ácidas, provocações, sarcasmo, tudo na medida certa para gerar diversas emoções. Principalmente o riso. Tem todos os elementos que a gente precisa na hora de criar um bom roteiro. Uma aula.

Divulgação

Wilson Mateos – vice-presidente de criação da Leo Burnett Tailor Made

Entre as séries que mais me inspiram, está Vikings. Bem, as metáforas com nosso mercado são inúmeras. E nem vou falar de disputas sanguinárias pelo butim, alianças frágeis ou a proliferação das tatuagens. Meu ponto é mais este aqui: enquanto todo o mundo escandinavo saqueava o mesmo lugar ano sim, ano também, Ragnar Lothbrok descobre uma maneira de navegar para o lado oposto. Era uma traquitana simples, mas que representou uma quebra de paradigma colossal para aquela civilização. Novos horizontes, novas possibilidades, novos desafios. Mas é claro que as lideranças estabelecidas ficaram totalmente contra a mudança, chegando a ameaçar a vida de Ragnar. “Afinal, pra que mudar, se já estamos bem indo sempre pra aquele lado?”. Pois é, já faz milhares de anos que a inovação dá medo e incomoda.

Divulgação

Bruno Regalo – sênior creative art director da TBWA Chiat Day

Tenho assistido algumas sérias e muitos documentários, mas a última que realmente fez diferença no meu dia-dia foi “Abstract”. Muita gente assistiu, (e se não assistiu, pare tudo e vá ver), e foi inspirador ver a criatividade e o design como ponto central na vida de diferentes grandes ícones em diferentes indústrias: o legado de Paula Scher e a Pentagram,o brilhantismo de Tinker Hatfield dentro da Nike, Bjarke Ingels, Christoph Niemann, entre outros grandes nomes com histórias incríveis. Uma boa produção dividida em 8 episódios que prendem rápido sua atenção e fica impossível não assistir todos episódios de uma vez.

Divulgação

André Kassu – sócio e CCO da CP+B

Um dos motivos que me faz ver séries é que na propaganda, muitas vezes, a meta é a perfeição um mundo ideal das relações, o dito aspiracional. Pois bem, as séries que eu mais gosto foram sucesso de público e mostram exatamente o inverso. São elas: A Sete Palmos, Família Soprano, Breaking Bad/Better Call Saul. Outra que me emociona e vai nesse caminho é This is Us. Podemos e devemos aprender a mostrar um lado mais verdadeiro.

Divulgação

Fabio Seidl – diretor executivo de criação da Velocity NYC

The Marvelous Mrs. Maisel (Amazon Prime) é um golaço do casal Amy Sherman-Palladino e Daniel Palladino. Tipo de série que pega redator. Eu assisto tentando adivinhar no final quem escreveu cada episódio, já que eles se revezam na função e tem estilos bem particulares (Amy criou a série, dirige boa parte dela. Daniel dirige em alguns momentos e os dois produzem). Eu imagino que o “elevator pitch” tenha sido algo como “Imagina se Seinfeld fosse uma mulher de família tradicional, recém-divorciada e rebelde na época ultramachista de Mad Men”. Os textos são afiados e absolutamente contemporâneos mesmo a história se passando 60 anos atrás. A produção é impecável e a atriz principal, Rachel Brosnahan e o pai dela na série, Tony Shalhoub (de Monk) são brilhantes. Outra série que gostei muito foi Genius (National Geographic). A primeira temporada teve Geoffrey Rush como Albert Einstein e a segunda, Antonio Banderas como Picasso; ambos dos 40 anos até a morte (com caracterizações e a atuações impecáveis). O que me pegou na série foi mostrar o processo criativo e as influências e inspirações, da família à política. Genius só tem um problema: como os atores “medalhões” tem que aparecer em cada episódio pra segurar a audiência, todo capítulo tem vários saltos temporais (os atores que interpretam os gênios quando jovens e velhos tem que aparecer) o que provoca uma desnecessária macarronada narrativa. Mas relevando isso, vale muito a pena.

Daniele Marques – sócia e CCO da agência Bold 

Sou suspeita porque meu screentime é bem maior do que eu considero saudável. Mas acredito que quase qualquer série colabora com o trabalho. Para o que a gente faz, referência é sempre bom. Até do que não funciona. 🙂 Gosto muito do talk show do Seinfeld dentro do carro: “Comedians in cars getting coffee”. Acho legal ouvir as mazelas dos comediantes, entender de onde vêm as referências, o quanto eles lapidam o humor até virar o produto final que faz a gente querer assistir. Ouvir pontos de vista diferentes de pessoas interessantes é sempre uma boa fonte de inspiração. Outra série que entrega algo muito legal, nesse mesmo desafio da busca por refinamento de mensagem para atingir um objetivo final, é: The Marvelous Mrs Maisel. De quebra, ainda tem uma protagonista feminina ocupando um espaço tradicionalmente dominado por homens – os palcos de stand up comedy. Essa parte, certamente, é inspiradora para qualquer mulher que trabalha com criação no nosso mercado. 

Divulgação

Felipe Andrade – diretor de criação da Rapp Brasil

Particularmente, gosto de roteiros com aquela pitada meio latina. “La Casa de Papel” e “Narcos” de fato me prenderam atenção na ideia, atores e roteiro. Na publicidade, todo dia precisamos pensar em sair do tradicional. “La Casa de Papel” é um exemplo disso. Pensando em argumentos, ‘persuasão’ é uma boa palavra. O personagem do Professor é excelente, cuidadoso e um baita líder, não deixando a peteca cair nunca. A direção artística e fotografia também colaboram demais para novos caminhos estéticos no campo das ideias.

Divulgação

Paulo Sanna – sócio e CCO da Mestiça

Lucifer! Essa é a minha série do momento. Tô viciado a ponto de ter baixado a 3a temporada no iTunes. Não esperei o Netflix. E a razão é porque é muito idiota! A vida na agência é cheia de grandes propósitos, desafios de negócio, big ideas, incêndios de todos os tipos. Nada mais incrível do que chegar em casa e ver algo que te faz lembrar como era bom assistir aos Trapalhões. Adoro.

Divulgação