Filipe Bartholomeu, sócio e CEO da AlmapBBDO (Crédito: Divulgação)

Nascidos entre a década de 1980 até meados de 1995, os millennials se desenvolveram em uma época de grandes avanços tecnológicos. Com novos pensamentos e comportamentos, eles chegam à liderança das agências com o desafio de humanizar processos, entender a nova sociedade e as possíveis conexões em um momento de diversas transformações do mercado.    

Com apenas 39 anos, Filipe Bartholomeu, sócio e CEO da AlmapBBDO, há seis anos lidera uma das maiores agências do país. “Não é apenas o mercado publicitário que nunca foi tão dinâmico. A vida, na verdade, nunca foi tão dinâmica e multifacetada. O desafio é, portanto, como liderar com tantos desafios ao mesmo tempo. O desafio de conectar as marcas dos clientes às pessoas. O desafio de engajar um mundo totalmente on demand. O desafio de acender a chama de centenas de pessoas talentosas e apaixonadas em uma organização, sedentas por um propósito. E talvez o maior deles, o desafio de ressignificar uma indústria”, diz. 

Marcia Esteves, CEO da Lew’Lara/TBWA (Crédito: Divulgação)

Aos 38 anos, Marcia Esteves, que há pouco mais de um ano comanda a Lew’Lara/TBWA, mas que assumiu uma cadeira de presidente com 34 anos na agência Grey Brasil, o papel de todo CEO é conseguir criar um ambiente em que cada um possa trazer o que tem de melhor. “Além das demandas individuais, há de se pensar também nas necessidades coletivas, internas, externas, locais e globais. Como cada campo de interação tem uma necessidade diferente, o meu desafio diário é conciliar as necessidades dos colaboradores com aquilo que é possível entregar de forma coletiva e dentro da estrutura da agência. Também conciliar as agendas, aqui entendidas não apenas como a gestão de tempo, mas também em sentido lato: o que nossos clientes precisam, os orçamentos, a definição de prioridade para cada caso, as necessidades globais, as demandas culturais e sociais. Conseguir conciliar todas essas necessidades, cada qual com o seu valor e todas importantíssimas, é meu desafio diário”, revela. 

Fábio Meneghati, CEO da Greenz (Crédito: Divulgação)

Com uma vasta experiência de mercado e passagens por várias agências, Fábio Meneghati, assumiu em setembro de 2019 a liderança da Greenz. Para o executivo, a gestão de pessoas é o seu maior desafio. “Como o nosso compromisso é acelerar os negócios dos nossos clientes, precisamos ter uma equipe motivada e estimulada. Desta forma, acredito que conseguimos fazer a roda do negócio girar. Para mim, acelerar a carreira das pessoas também é um dos meus desafios, uma vez engajados certamente conseguem acelerar os negócios. Penso que, durante a pandemia, a maior parte dos gestores, assim como eu, se viu desafiado a fazer uma gestão à distância. Não estávamos preparados para gerir, motivar, desenvolver, estimular pessoas à distância. Minha experiência, até aqui, havia me preparado para uma gestão olho no olho. Contudo, ver a equipe evoluindo, feliz e trabalhando motivada é, com certeza, a melhor parte de ocupar a posição que ocupo”, destaca.

Nova forma de pensar negócios

Formada por pessoas hiperconectadas, a geração de líderes abaixo dos 40 anos vem observando nos últimos tempos uma grande aceleração da digitalização, uma nova relação com os anunciantes e uma comunicação ainda maior através das telas.   

“Não podemos deixar de lembrar que o que mais tem mudado nas relações, pessoais ou profissionais, é a velocidade de informação. Hoje temos que ser muito mais eficientes e antenados constantemente. Para isso, foi necessário rever processos internos, desburocratizar, descentralizar as obrigações em mais pessoas, melhorar a gestão de tempo e produtividade, dando ferramentas que facilitem a gestão de projetos e comunicação entre os times e com os clientes. Sobre mudar a forma de pensar nos negócios dos clientes, vimos cada vez mais a necessidade de termos dados, estatísticas, pesquisas, que garantem justamente a melhor performance possível para os clientes. Hoje não é mais só a melhor ideia que deve ser colocada em prática, mas ter uma análise minuciosa dos resultados que ela pode gerar, até para justificar o seu investimento”, diz Hebert Lacava, CEO da ACuca. 

Hebert Lacava, CEO da ACuca (Crédito: Divulgação)

Fundada por Marcela Ceribelli, 30 anos, a Obvious Agency, que desde 2017 faz parte da Flagcx, já chegou ao mercado trazendo um novo olhar para as marcas. Através de conteúdos criativos, a plataforma trabalha com narrativas femininas que trazem felicidade. “O fato do meu sócio, Renato Galvão, e eu nunca termos trabalhado em agências colaborou a nosso favor, pois não tínhamos referências de processos e timings. Com isso, a gente realizava tudo, da criação à produção audiovisual de uma maneira mais rápida. Existe uma rigidez do mercado, que conseguimos controlar com um olhar totalmente focado no digital. Temos uma mentalidade de startup, mas como temos as nossas próprias plataformas, estamos constantemente testando os formatos e fazendo laboratório. Então, quando vamos apresentar um projeto para uma marca dificilmente estou oferecendo risco para ela, pois o risco eu já assumi. Todo mundo vai ter que ter este pensamento, grandes empresas vão ter que assumir o lugar de acerto e erro”, comenta.  

Oriunda do digital, a Purple Cow observou a necessidade de mudar a forma de pensar os negócios dos clientes há uns quatros anos. Segundo Marcelo Bernardes, 32 anos, sócio e CEO da agência, foi preciso entender o papel estratégico da empresa junto aos anunciantes. “Precisávamos, como agência, descer do pedestal egocêntrico e andar mais próximos. Paramos de atuar no modelo de esteira de produção, em que cada área passa o bastão para a próxima. Esse jeito deixa tudo mais demorado e tem muita ineficiência, uma vez que uma fica tentando corrigir o trabalho da outra. A agência atua no modelo de cocriação. Cada área aporta seu know-how, mas o projeto é construído simultaneamente por todos. Isso dá mais agilidade, mas também dá mais segurança e, principalmente, mais criatividade. O projeto nasce com todos os olhares acreditando no que estamos, como um time, desenvolvendo”, ressalta.

Marcelo Bernardes, CEO da Purple Cow (Crédito: Divulgação)

Cultura e Sociedade 

Nos últimos anos as empresas vêm acompanhando as mudanças da sociedade. Muitas tentam sair do discurso e colocar assuntos como a diversidade de gênero e raça, e a sustentabilidade em prática. Porém, será que mesmo com valores mais alinhados com o lugar para onde a sociedade está indo, a nova geração de líderes precisa revisitar a cultura da agência com frequência? 

“Há um primeiro passo fundamental, ser honesto com os problemas. Reconhecer que a indústria – como tantas outras – vive um gap intolerável sob o aspecto da diversidade e inclusão. E então agir. Não apenas pela necessidade da representatividade, mas porque essa é uma questão que ataca frontalmente o principal asset da indústria, a criatividade. A criatividade vem da adversidade, da coragem, mas fundamentalmente vem dos múltiplos olhares, cores, sotaques, orientações, vivências. Uma sociedade mais plural é uma sociedade mais criativa. E nós vivemos, respiramos, entregamos criatividade. Por isso, temos um comitê que lidera as iniciativas de equidade de gêneros, inclusão racial, inclusão de grupos socioeconômicos e de pessoas com deficiência e de debate de questões LGBTIA+”, comenta Bartholomeu. 

Marcela Ceribelli, CEO da Obvious Agency (Crédito: Divulgação)

Segundo Marcela, a agência já nasceu com uma cultura diversa e está sempre disposta a ouvir as mudanças da sociedade. “O segredo da diversidade está na equipe. É ter lideranças criativas que tenham lugar de fala, que tenham vivência sobre o assunto, senão elas não trazem a verdade. Este foi o erro da publicidade durante muito tempo. Onde 10 homens brancos, cis e heteros entravam em uma sala para discutir uma campanha para mulheres negras com cabelos crespos. Isso é uma coisa que é impossível de dar certo. Essa sempre foi a nossa preocupação na agência, por isso temos uma equipe com mulheres super talentosas. Além disso, durante a pandemia, passamos a contratar pessoas fora do eixo Rio-SP. Queremos aumentar o nosso olhar através de novos olhares. Temos que nos adaptar muito rápido. A geração Z vai chegar e achar que somos muito caretas”, diz. 

Já para Meneghati, a cultura e os valores da agência não precisam ser revistos com frequência. “Porque são as ideias que acreditamos. Eles precisam ser mais sólidos. Por isso, recentemente, contratamos uma consultoria para nos ajudar a institucionalizar essa cultura e esses valores que acreditamos, e a rever nosso branding – algo que é difícil priorizar internamente e sempre escutamos aquela máxima ‘casa de ferreiro, espeto de pau’. Nossa gestão está atenta a todas as questões que são caras à sociedade. Inclusive, iniciamos em 2020 um programa de inclusão de talentos. Contudo, sabemos que, assim como todo o mercado, podemos fazer mais e temos um longo caminho pela frente. Estamos aprendendo e valorizamos isso”, diz.

A próxima década

É inegável que o mercado vai continuar se transformando cada vez mais rápido. As principais mudanças devem impactar os negócios que provavelmente serão mais rápidos e transparentes.  

“A evolução é infinita e acontece à medida que a sociedade evolui e em conjunto com todos os players do mercado, com a adaptação, ajuste e posicionamento que ainda não somos capazes de prever com exatidão. Quem diria, no ano passado, que a gente poderia trabalhar sem aparecer no escritório físico – e mais que isso, que esse tipo de modelo iria funcionar? Que as campanhas fossem para a rua, sem que a rua estivesse disponível para trânsito livre? Entendo que 2030 será um mundo quase irreconhecível para nós em comparação à 2020 – mas espero que a transformação traga somente benefícios para a sociedade”, salienta Marcia.

O CEO da ACuca revela que vem trabalhando para construir um mercado mais ético e que se preocupa com toda a cadeia de stakeholders. “Entendo que as agências deveriam ser vistas como parceiros estratégicos, participando mais ativamente nos planos e objetivos dos clientes, como prestadores permanentes ou por períodos maiores pré-estabelecidos. Nesse formato de trabalho, podemos otimizar investimentos tanto em equipe como em tempo”, diz Lacava.

Já Bernardes, reflete que o pensamento antigo deixa na mesa muitas oportunidades. Porém, o dito novo, deixou tudo mais frio e para trás a essência de envolver e contar histórias. “Acredito que nos próximos dez anos veremos parte da essência da propaganda voltar. Mas só o que faz sentido para os dias de hoje. Isso, junto a um pensamento estratégico moderno e um modelo de remuneração baseado no trabalho propriamente dito, deve criar um mercado mais eficaz para as marcas”, finaliza.