Agropecuária urbana

Se as profecias, na música de 1977, “Sobradinho”, de Sá e Guarabira, eram de que o sertão iria virar mar, repetindo o Beato Antônio Conselheiro, na vida e nos “Sertões de Euclides da Cunha, 1902, a agropecuária urbana começa a invadir São Paulo, e outras grandes cidades em todo o mundo”.

E na semana passada, novembro de 2021, especificamente na cidade de São Paulo, os números apontam de forma insuspeita e superlativa, nessa direção. A vacância nos edifícios corporativos – também conhecidos como “prédios de escritórios” – multiplicou-se por três em 18 meses… E não para de crescer. Quase 500 mil metros quadrados a caminho de se converterem em hortas verticais e fazendas verticais para a produção de alimentos de toda a ordem.

Em 30 anos, 2050, parcela expressiva do que os habitantes das grandes cidades do mundo comerão será produzida nas esquinas próximas. Isso mesmo. Parece um exagero e é. Mas, em hipótese alguma, uma impossibilidade. Já comentamos com vocês sobre a urbanização da agropecuária. De forma muito lenta, mas, acontecendo. Mais especialmente na agricultura, mas, e mais adiante, na pecuária, também.

Bois, galinhas e porcos produzidos no prédio ao lado. Na agricultura, com mais e novas fazendas urbanas. Na pecuária, com a edição genética da bicharada.

Na cidade de São Paulo, algumas fazendas urbanas já instaladas, produzindo, vendendo e alcançando resultados surpreendentes. Na pecuária, um pouco mais adiante, e com todas as conquistas da edição genética, repito. Diferentes espécies animais produzidas em laboratórios urbanos. A urbanização da agricultura começa pelas denominadas “folhosas” – alface, couve, rúcula, espinafre – e uma das primeiras e mais emblemáticas referências é uma fazenda de 56 metros quadrados, no bairro de Pinheiros, cidade de São Paulo. A fazenda Cubo. Realizou sua primeira colheita no mês de junho de 2019. Nos primeiros meses trabalhou exclusivamente com duas folhosas, e hoje já conta com 13 cultivos diferentes sendo seis tipos só de alface. Em 56 metros quadrados, uma sucessão de paredes, estantes, calhas e painéis de led, fornecendo luz para o cultivo.

Vem produzindo uma média de 800 quilos por mês, e a quase totalidade da produção é vendida diretamente para os moradores da vizinhança. Os que têm mais curiosidade, quando da compra presencial, podem através de uma janela conhecer todo o sistema.

Além de manifestações como a da Cubo, muitas outras vão se multiplicando. Alguns restaurantes decidiram tornar-se autossuficientes em algumas matérias-primas e estão utilizando espaços disponíveis ou “mortos” de sua instalações, incluindo tetos, para a adoção e cultivo de hortas.

Claro, tudo ainda muito no início, mas, com o esvaziamento das lajes corporativas em todos os próximos anos, em decorrência da mudança na forma de trabalho das empresas, muitos edifícios comerciais de hoje, até o final da década dos 2020, estarão convertidos para FVUs – Fazendas Verticias Urbanas. Os primeiros registros manifestam-se em outras cidades de todo o mundo, passando pelo Rio de Janeiro, e ganhando maior adesão e consistência no Japão, onde já existe um total de 200 fazendas verticais.

É o admirável mundo novo revelando suas mais emblemáticas e revolucionárias manifestações. Em 100 anos as florestas do mundo resgatarão os espaços perdidos para bois, vacas e alface. E falaremos de outros assuntos…

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)