A comunidade de Vigário Geral, no Rio de Janeiro, já estampou os noticiários devido a uma chacina que vitimou 21 pessoas no começo dos anos 1990. Mas o mesmo lugar tem sido ressignificado desde a criação do AfroReggae, entidade sem fins lucrativos que promove cultura e artes como instrumentos de transformação social em favelas do Rio.

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Em abril deste ano, essa história ganha um novo capítulo com a inauguração do AfroGames, primeiro centro de treinamento do mundo para eSports em uma comunidade. O projeto é fruto de uma parceria entre Ricardo Chantilly, empresário  de bandas como Jota Quest e O Rappa, e de José Junior, fundador do AfroReggae.

Com patrocínio da Oi e da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, o AfroGames disponibilizará 100 vagas para que crianças a partir de 12 anos aprendam a jogar League of Legends (Lol), além de ter aulas de programação de computadores, produção de trilha sonora para games e aulas de inglês.

“O projeto está atraindo muita atenção porque abre caminhos para jovens que não têm muita opção de vida. Dá um novo sentido de profissão. Ainda que ele não se torne um Neymar de Lol, pode aprender a falar inglês, ser programador de jogos, produtor de música para games. Tem muitos outros caminhos”, destaca Chantilly.

O novo centro de treinamento está sendo construído no Centro Cultural Waly Salomão, em Vigário Geral, na Zona Norte do Rio de Janeiro. A obra está praticamente finalizada, e seus idealizadores agora se preparam para começar a comprar os computadores, cadeiras e mesas e específicos para os treinamentos em eSports.

“A ideia do AfroGames é usar a tecnologia como ferramenta de desenvolvimento social. Sabemos da importância e do crescimento do mercado do eSport e do desenvolvimento de games, mais uma possibilidade para essas crianças aprenderem de forma divertida uma nova opção de entrada no mercado de trabalho”, diz Bruno Cremona gerente de Patrocínios e Eventos da Oi.

Segundo Chantilly, o apoio das marcas é fundamental para que a iniciativa atinja mais crianças e funcione por mais tempo. O grupo agora está em busca de novos patrocinadores devido ao valor elevado dos equipamentos. Cada computador, por exemplo, não sai por menos de R$ 8 mil. Será preciso pelo menos 20.

“Existe uma barreira a ser quebrada nas comunidades. Quem é o jogador de eSports no Brasil? É geralmente um filho de um cara de classe AB, com internet rápida dentro de casa, uma boa base de inglês. O garoto também dispõe de tempo para jogar porque não precisa trabalhar. Por outro lado, nas classes DE, os eSports podem ser a salvação de famílias. Os garotos precisam apenas ter a oportunidade de desenvolver seus talentos”.

Para José Junior, a questão social de inclusão será a principal bandeira do projeto. “Todos os grandes esportes que conhecemos – futebol, boxe e basquete – eram esportes de brancos. E eles só se tornaram as atrações de massa que conhecemos quando houve a entrada dos negros. E nos eSports não há inclusão do pobre, do negro. Queremos contribuir para mudar essa realidade”, destaca.

Além da capacitação, o objetivo do AfroGames em médio prazo é se tornar um celeiro de talentos, cuidando também da negociação e contrato dos jogadores com times de eSports no Brasil e no mundo. Essa é uma forma de o projeto obter receita própria, além do patrocínio de marcas. “Daqui a um ano temos objetivo de já começar a montar times de dentro da favela. Vamos identificar quem são os talentos e darmos condições para seu desenvolvimento, inclusive, com um salário. E dentro de quatro anos queremos ser celeiro para o mundo todo”, finaliza Chantilly.