O último dia de debates do “CMO Insights 2020”, evento da rede Makers com apoio de mídia do PROPMARK, contou com o painel “Liderança: Uma conversa sobre o mundo que nos espera pós pandemia”.

Participaram Paulo Correa, CEO da C&A, e Luiz Sabatino, CEO da Petronas. A mediação foi feita por Thiego Goularte, fundador da Makers.

Confira abaixo alguns insights do debate com Correa e Sabatino.

PRIMEIRO IMPACTO

Paulo Correa, CEO da C&A: “Naquele momento existia uma teoria de que em países mais tropicais não haveria uma disseminação tão forte, e ao mesmo tempo em outros diziam que teria. Era muita incerteza. Fechamos todas as lojas em aproximadamente 48 horas, algo que a gente também nunca tinha visto. Só nos sobrou a nossa loja online, na qual a gente viu uma queda na primeira semana. Foi um movimento brusco e de alguma maneira a gente foi se preparando para migrar o escritório central para o home office. No intervalo de tempo de uma semana a gente conseguiu levar todo mundo para casa, mobilizar e montar a infra. Até agora temos apenas 60% das lojas abertas. Esse foi um elemento bem crítico e bem importante para a energização da companhia. O mais importante foi entender desde o dia que a nossa única loja aberta era a loja online e a gente colocou toda a energia da companhia para fazer dela a melhor possível. Isso trouxe legados tem importantes no que diz respeito ao olhar omini do nosso negócio.”

Luiz Sabatino, CEO da Patronas: “A queda da mobilidade urbana afetou um pouco. A composição de saída dos clientes da fábrica tem dois caminhos. Primeiro para revenda, que produz e entrega para postos de gasolina, por exemplo, e a outra saída para indústria. Como a nossa matriz é na Malásia e estava muito perto, de alguma forma o grupo conseguiu ler o ‘caminho do vírus’. Temos operação na China, na Malásia e na Itália. Então nos chamou atenção, conseguimos nos organizar internamente muito preocupados com as pessoas e com toda a cadeia de fornecedores e parceiros. Um país que tem o modal rodoviário como principal modal sofreu muito. Houve uma queda em torno de 40% no volume, em grandes linhas de 400 milhões de litros do ano. Foi muito sensível, uma pancada grande e o nosso negócio.”

OPORTUNIDADE NO DIGITAL

Sabatino: “No nosso negócio de lubrificantes ainda não tem um DNA forte digital, com aquele guarda-chuva com diversas iniciativas. Estamos na fase da home page bem feita para consulta. Não gosto de jogar tudo na Covid, mas no nosso caso funcionou um pouco no acelerador. Como indústria, o que a gente faz é produzir e entregar para o nosso cliente. A gente na ponta automotiva que também vende autopartes teve uma movimentação em direção ao mundo digital. Alguns que estavam fora e alguns que estavam embrionários aceleraram esse processo. Em auto-peça principalmente foi mais latente essa sensação. Em lubrificantes ainda estamos um step atrás, mas tem oportunidade para gente explorar futuramente.”

ENGAJAMENTO

Correa: “Temos um público muito jovem trabalhando na nossa empresa, pessoas super antenadas e preocupadas. Começamos progressivamente a levar as pessoas para casa. Tem um legado sério do home office. Estamos fazendo nesse momento um redesenho do nosso escritório. Não vamos voltar agora, mas vamos rearranjar o nosso escritório para absorver a prática do home office para todos os funcionários com algum revezamento, áreas comuns e mais colaborativas. Estamos aproveitando essa oportunidade para revisar porque encontramos um jeito de trabalhar que tem sido efetivo e acelerado. Tínhamos que ter um lhar muito duro, muito sério em relação com o caixa, uma vez que mais de 90% da sua receita para de entrar, mas ao mesmo tempo abrimos outro foco para olhar as oportunidades, o que poderia ser feito. Você você tem que criar as condições para ter equilíbrio entre olhar duramente para as questões mais pragmáticas e manter a capacidade de sonhar e de criar novas visões para construir outros horizontes de crescimento de desenvolvimento a companhia. Intensifiquei pessoalmente o número de interações em várias camadas e em várias áreas da companhia exatamente porque eu queria passar essa mensagem com transparência e colaboração. O diálogo foi um elemento chave nesse processo para manter a energia da galera, a moral do time e ao mesmo tempo criar as condições para ter as soluções.”

Sabatino: “Temos 72 mil m² na planta da fábrica. Dentro desse cenário de pandemia o primeiro ponto foi convencer as pessoas, colocar na realidade de que está acontecendo, é sério e vamos precisar agir. Nos comunicamos e estruturamos todo o processo fabril. Além da preocupação com as pessoas e com o caixa, tivemos uma preocupação adicional com a saúde financeira dos nossos clientes, alguns fecharam as portas. Conseguimos reunir o grupo dentro de uma realidade nova de forma bastante rápida. Um traço novo dessa liderança que está aparecendo, não só apenas pela questão da Covid, é ser mais solidário, colaborativo e humanizado. Estar numa reunião, o cachorro late, o filho chama. Tem que entender isso. A realidade é outra. E por outro lado eu tenho sentido que a velocidade aumentou, aumentou também o senso de urgência. Fazer gestão a distância, online, sem olho no olho, é tudo muito novo. E vamos aprender muito com isso. Também estamos no caminho de redesenhar o escritório. Vai voltar por fases e intercalado. Tenho a tendência de olhar o copo mais cheio. Há uma oportunidade gigante dessa transformação digital ajudar os líderes nessa nova gestão.”

BARREIRAS PARA AMPLIAR O ONLINE

Correa: “Comparar o share do comércio online por categoria com países mais avançados como Estados Unidos e Inglaterra talvez a categoria moda tem um dos maiores gaps entre o share aqui e fora. E tem vários motivos. Sim, tem uma grande oportunidade e a pandemia está acelerando a captura disso. O ponto dois tem um tabu de ter que tocar, experimentar e tem a visão de ter o shopping como um programa, como entretenimento. Tem outro pedaço muito importante aqui no Brasil que a logística. Uma coisa é comprar um celular que custa R$ 1000 e pagar R$ 30 de frete, outra é comprar uma calça jeans que custa R$ 80, colocar numa embalagem similar a do celular pagar R$ 30 também por conta da cubagem. Isso coloca muita pressão no modelo de negócios online dos varejistas de moda porque eles têm que incorporar muitas vezes esse frete grátis e isso significa uma redução violenta nas margens. Há uma barreira grande, mas acho que as pessoas vão aprender ao longo do tempo como é que funcionam esses outros mercados. Tem muita coisa para andar. O nosso propósito é juntar as duas coisas, online e físico. A jornada de canais passa a ser cada vez mais fluida e mais complexo. O percentual de novos clientes que não era nem do físico nem do online foi impressionante e rapidamente se tornou a maioria do fluxo adicional. Muitas vezes clientes que nunca tinham comprado online mesmo. Desenvolvemos rapidamente dois formatos diferentes de venda, uma via WhatsApp, e a passiva no site e nas redes sociais, que a pessoa tem dúvidas e chega a colaboradores que vão ajudar na jornada. É impressionante como essa digitalização do consumidor aconteceu de maneira rápida e meio que na marra. O aprendizado foi acontecendo.”

Sabatino: “A gente toca pela necessidade. Um pouquinho diferente de combustível, porque a gente herda um pouco do contexto do período da inflação onde automóvel é patrimônio e patrimônio precisa se protegido, então lubrificante é importante. Então ainda o consumidor tem que ir pessoalmente. Nos Estados Unidos já tem algumas operações com e-commerce. Essa questão dessa revolução digital no caso da indústria entra num contexto um pouquinho diferente. A sociedade se transforma basicamente em função de um tripé: revolução, guerra e pandemia. Falando em digital estamos falando de revolução. Como eu vejo isso no meu negócio: as coisas vão se relacionar, é minha máquina de enchimento falando com o estoque do meu distribuidor, meu distribuidor falando com minha central de atendimento… O canal não vai ser tão ortodoxo como era antigamente. No nosso negócio a revolução digital começa fortemente dentro da fábrica, dentro do pilar de robótica com inteligência artificial e bigdata. Dá um pouco de medo porque são os Jetsons né? Mas tá batendo na porta.”

Confira a íntegra do debate no canal da Makers no YouTube: