Considerado um dos profissionais do marketing digital mais importantes do mundo, Neil Patel defende que o Brasil ainda é um “oceano azul” na área. Para o americano, as empresas locais têm muitas oportunidades já que ainda falta conhecimento no uso das ferramentas e das redes sociais na área. “Se a empresa tem um conteúdo bom e boas estratégias de marketing digital, com certeza, ela vai chamar a atenção de sua persona”, fala. Confira os principais trechos da entrevista concedida ao PROPMARK. 

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Na sua opinião, como está o mercado brasileiro de marketing digital?

O Brasil está de cinco a oito anos atrás de outros países, como Estados Unidos ou os países da Europa e da Ásia neste sentido. É por isso que existe um grande potencial no mercado brasileiro, pois foi pouco explorado, principalmente por pequenas e médias empresas. Enquanto nos Estados Unidos existem mais anunciantes do que espaço no Facebook, aqui é o contrário, e não existe concorrência por falta de conhecimento no uso de ferramentas digitais e, até mesmo, redes sociais. Por um bom tempo, o Brasil ainda será visto como um “oceano azul”.

As agências de publicidade, os veículos e os anunciantes estão acompanhando bem a revolução digital? O que poderia melhorar?

Estão acompanhando, mas de acordo com a particularidade do mercado brasileiro. Quando digo que o Brasil está atrás, um dos exemplos é esse. Agências, veículos e anunciantes podem até estar pareadas a esta revolução, mas será que os clientes estão? Sabemos o quanto é difícil colocar na cabeça de um pequeno e médio empreendedor a necessidade de investimento em ferramentas de marketing digital. Às vezes, é necessária apenas a adesão, mas como conseguir, se o primeiro pensamento é austeridade nos gastos, sendo colocado dentro de despesas investimentos em marketing digital, publicidade e comunicação? As empresas no Brasil também não são tão íntimas das plataformas online. Investem apenas para testar, usam por um mês e partem para outros testes. No marketing digital, as coisas não funcionam dessa forma. É necessário investir em longo prazo e em várias estratégias simultâneas. Por isso, as empresas não lucram como deveriam.

Como o digital pode contribuir para ajudar o Brasil a sair da crise?

Tenho sido bastante enfático no meu discurso: o momento ideal para investir e crescer é agora. Pelo que tenho acompanhado, o país está saindo do período mais tenso desta última crise e o caminho deve ser o mesmo que ocorreu quando startups de tecnologia tiveram um boom nos Estados Unidos, após a crise mundial de 2008. As empresas crescem quando mais precisam crescer, ou seja, as crises criam oportunidades. Hoje a forma de vender mudou, principalmente pela internet. Não se vende apenas por preço e facilidades de pagamento. O produto precisa ter uma boa reputação nas redes, ir ao encontro da necessidade do consumidor etc. Tudo isso é construído por meio de conteúdos relevantes e com estratégias de marketing digital de curto e longo prazo. Esses conteúdos podem contribuir para ampliar o alcance e ampliar a margem de lucro. Sem contar que o digital é uma excelente alternativa sob o ponto de vista de custo x benefício e traz uma facilidade de mensuração de ROI que as ações de marketing tradicional não possuem.

No seu blog, você afirma que quer fazer as empresas crescerem. Como?

A maioria das empresas brasileiras está pouco estruturada em relação a processos, pois não entende a real importância em tê-los bem definidos e focados para atuarem no crescimento. No digital, o nicho é maioria. Se a empresa tem um conteúdo bom e boas estratégias de marketing digital, com certeza ela vai chamar a atenção de sua persona. Mas, para isso ocorrer, profissionais competentes devem estar envolvidos, e as ferramentas e estratégias corretas devem ser aplicadas. O que funciona para uma empresa não é regra que vai funcionar para outras, mas em todas elas existe, sim, uma “base”. E é isso que defendo nas consultorias que presto às empresas brasileiras. Em grande maioria, eu trabalho durante seis a 12 meses, arrumo a casa (as bases), aponto os caminhos e dali para frente a empresa está pronta para caminhar sozinha se quiser. Não gosto que o cliente seja refém da agência ou do consultor. Sempre busco resultados em tempo recorde e cobro isso das pessoas. Crio um relatório de tendências para alertar os clientes do que eles precisam ter atenção, o que vai crescer e o que vai passar e sempre proponho que eles preparem bases bem estruturadas e processos com estratégias de marketing digital.

Quais características os profissionais devem ter para fazer um bom marketing de conteúdo?

Nos dias de hoje, um bom profissional de marketing de conteúdo deve ter quatro elementos essenciais: ter excelência em redação voltada para SEO, com bom conhecimento na produção de artigos que sejam de interesse do público e, ao mesmo tempo, que contenha fatores de otimização compatíveis com as exigências do Google; ser jornalístico, já que para chamar a atenção do público é necessário produzir textos que sejam úteis para eles, igual os jornais fazem: escutar fontes, mencionar pesquisas, justificar por meio de dados, determinando posicionamento etc.; gostar de números, porque é por meio do número de compartilhamentos, acessos e visualizações que será possível medir o resultado dos posts e seu impacto; e ter planejamento de publicações, pois é importante que exista um cronograma de publicações baseado nas dúvidas e dificuldades dos clientes e que os posts estejam de acordo com a estratégia.

No Brasil, temos bons exemplos de conteúdo de marca? E no mundo? Você pode citar alguns cases?

Eu já ajudei a construir cases muito famosos trabalhando para marcas como General Motors, Salesforce, Ebay, Microsoft, Airbnb, American Greetings, Intuit, Thomson Reuters e outras, mas vocês devem estar cansados de ouvir falar dessas marcas. No Brasil, tenho acompanhado várias empresas de nicho. Eu gosto de citar exemplos fora dos tradicionais, que estão fazendo um ROI incrivelmente alto com bastante inteligência no marketing digital. Veja o Grupo Voll Pilates (blogpilates.com.br), por exemplo. É uma empresa de nicho que simplesmente dominou o mercado de pilates através de conteúdos e produtos digitais de extrema qualidade — e eles criaram um modelo tão bom que estão caminhando para dominar outros mercados também. Outro exemplo é o escritório de advocacia focado no direito de trânsito conhecido como Doutor Multas (doutormultas.com.br). O blog já tem mais de 1 milhão de visitas e gera um volume de negócios impressionante. O simpático professor de inglês Mairo Vergara (mairovergara.com) criou um portal de conteúdo com milhões de visitas por mês e também é um caso de sucesso unânime de conteúdo de marca, posicionamento e recordista de vendas. O que todos eles têm em comum? Excelente conteúdo de marca, que ajuda a resolver os problemas dos seus clientes. Junto com isso, um forte posicionamento, um funil de vendas otimizado com ofertas de produtos acessíveis financeiramente e de extrema qualidade. O resultado é que seus clientes não param de comprar e espalham espontaneamente sua mensagem.

O marketing de conteúdo veio para ficar?

Ele já está aí faz tempo. Agora é só ganhar escala e crescer. Não é mais uma tendência, mas uma realidade. O que vai ocorrer é que mais empresas vão passar a acreditar e investir pesado nisso.

Quais as próximas tendências de marketing de conteúdo?

Vou citar cinco tendências que estão saltando aos meus olhos. A primeira é que, a cada ano que passa, eu vejo mais concorrência de anúncios em todos os mercados. Para quem investe em anúncios, eu posso dizer que os custos vão aumentar. Isso nos leva para a segunda tendência: com o aumento do custo por anúncios, as empresas vão procurar uma forma de gerar audiência fiel em canais que você não precise necessariamente pagar para conseguir resultados. Outra coisa que percebo que vai ocorrer é empresas criando pequenos produtos online para aumentar a sua receita. Por exemplo, se você tem um serviço de consultoria, você pode pegar uma pequena parte do seu negócio e fazer disso um “relatório inicial” como um produto digital e vender online. Isso vai te ajudar a ter um produto mais barato que seja de entrada para criar mais clientes. Depois você poderá fazer upsells com esses clientes. A quarta tendência é que vejo o crescimento de produção de vídeos para vários propósitos: anúncios, conteúdos educativos e até mesmo central de ajuda. Por último, o atendimento a distância, com auxílio de tecnologias, vai ajudar muitas empresas a aumentar sua carteira de clientes e também a atender melhor os clientes atuais.

Recentemente, o Facebook alterou o algoritmo mais uma vez, reduzindo ainda mais a penetração das marcas. O quanto isso impacta o mercado?

O Facebook tem o controle de audiências nas suas mãos. Ele sabe que consegue gerar um grande tráfego comprador para as empresas e marcas — ele vai cobrar cada vez mais por isso. O impacto dessas mudanças do algoritmo para o mercado é totalmente financeiro.

Há muitas ferramentas para auxiliar o trabalho do marketer. Como escolher o melhor parceiro?

As ferramentas mais eficientes são aquelas que trazem dados analíticos sobre seu negócio. Pelo simples fato de que elas ajudam a eliminar as opiniões. Uma opinião é um ponto de vista pessoal cheio de preconceito. Isso não vale de nada para a condução de um negócio. Todo mundo pode ter uma opinião sobre alguma decisão, mas se ela não estiver acompanhada de dados, para mim, ela não serve.

Você já desenvolveu algumas ferramentas. Tem mais algum produto no qual está trabalhando? Qual solução acha que está faltando no mercado?

No momento, pretendo investir aproximadamente US$ 10 milhões na aquisição de empresas brasileiras. Estou procurando negócios que já tenham tráfego orgânico acima de 50 mil visitas por mês, que faturam aproximadamente R$ 100 mil por mês, de preferência, que tenham base tecnológica e vendam online. Estou muito feliz com os resultados que tenho conseguido no Brasil e vou investir cada vez mais no país.

Quem é seu público-alvo?

No meu site neilpatel.com, tenho milhões de acessos, e o Brasil tem uma grande representação disso. Já são mais de 100 mil acessos únicos diários, exclusivamente do Brasil. Atualmente tenho uma operação no Brasil para ajudar as empresas a crescerem. Eu e minha equipe local prestamos consultoria para empreendedores e grandes empresas que desejam crescer do zero com um produto novo ou melhorar o seu ROI atual em campanhas recorrentes. Embora não possa citar nomes, posso dizer que, em alguns casos, conseguimos ampliar para mais de 1 milhão de visitas por mês. Antes de aceitar um cliente, faço uma entrevista bastante exploradora para conhecer o mindset das pessoas que estão por trás do negócio. Somente consigo ajudar empresas que realmente estão dispostas a quebrar paradigmas e lutar contra conceitos ultrapassados que as atrapalham de crescer. Já tive pedidos de consultoria vindo de empresas gigantes brasileiras que eu simplesmente tive de negar porque elas não estavam dispostas a mudar. Para que qualquer empresa cresça, é necessário que esteja aberta para novas ideias e novas iniciativas dentro do marketing. O marketing digital é um combustível do foguete para empresas que estão prontas para ele.