Aplicativos mudam modelos de negócios em grandes cidades

Eles estão em todos os lugares: nos pontos de ônibus, nos carros, nas mesas dos restaurantes, nos ambientes de trabalho e nos sofás das casa. Difícil mesmo é encontrar alguém que ainda não tenha se beneficiado das suas comodidades. Mais difícil ainda é encontrar quem não os conheça.

Os smartphones mudaram a forma como as pessoas se relacionam, se organizam, se comunicam e também como consomem e se informam. Consequentemente, as estruturas sociais e os serviços precisam se adaptar, constantemente, a esses novos hábitos. Em uma cidade como São Paulo, isso se torna ainda mais evidente ao levar em consideração que as novidades chegam antes nas grandes metrópoles por serem pioneiras em várias inovações. Além disso, o povo brasileiro é muito receptivo e assíduo para as redes sociais.

Nesse contexto, os aplicativos surgem como ferramentas para facilitar o dia a dia e dar esse significado de “item indispensável” aos smartphones. Os aplicativos de serviços movimentam o mercado porque conseguem forte adesão pelo baixo custo e praticidade. Muitas startups surgem focadas em colocar ideias simples em prática e causam uma ebulição de discussões e comportamentos, como é o caso do Uber, aplicativo de transporte.

Eric Messa, coordenador do núcleo de inovação em mídia digital da Faap, comenta a atual fase de implantação de novos paradigmas e modelos de negócio vividos pela sociedade e aponta os aplicativos como exemplos disso. “Algumas ideias vão vingar e se estabelecer. No meio desse processo, o tradicional e o moderno entram em conflito, como é o caso dos táxis, que estavam acostumados com um tipo de serviço e foram impactados por um novo modelo de negócio, que é o Uber”, fala.

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Uber chegou ao Brasil em 2014 e já travou uma polêmica com o serviços de táxis, por ser mais barata oferecendo o mesmo serviço

As startups passam a ser fruto desse novo paradigma, explica. Se elas forem comparadas, superficialmente, às pequenas empresas individuais de antigamente, São Paulo continua sendo um local que recebe esses novos negócios que serão construídos. “Nos modelos tradicionais, de anos atrás, era mais difícil encabeçar uma ideia, porque se era sozinho. Hoje temos mecanismos, anjos, feiras, empresas patrocinadoras”, reforça Messa.

A regulamentação desses novos serviços digitais, no entanto, será inevitável, opina Messa. A discussão entre governo e sociedade vai gerar um modelo ideal, mas no momento ainda não existem respostas para definir esses serviços.

Outro ponto destacado por Messa se refere a um novo paradigma relacionado à propaganda. “O consumidor sempre se sentiu explorado, na condição de ser convencido a comprar algo, mesmo sem reciprocidade. Em um novo contexto, o consumidor está engajado ou com potencial de engajamento, que pode perceber como aquela marca atende às suas necessidades, podendo não só consumir, como colaborar com o processo de construção de uma identidade. Inclusive esse é o conceito dos aplicativos. A maioria envolve algum quesito de colaboração e, sem a participação dos clientes, eles não existem”, afirma.

Um exemplo de startup paulistana é o aplicativo iFood. A ideia surgiu em 2011 como um site para facilitar o processo de pedir comida. Logo depois, evoluiu para um aplicativo e, em 2013, recebeu um aporte de R$ 5,5 milhões da empresa Movile. Um ano depois, realizou uma fusão com o concorrente RestauranteWeb, da britânica Just Eat. Movile e Just Eat se uniram com um investimento de R$ 125 milhões.

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O iFood nasceu em São Paulo como uma startup, recebeu aporte e hoje são mais de 15 mil restaurantes e 3 milhões de pedidos por mês

De acordo com o diretor de marketing da iFood, Arthur Santos, a plataforma está presente em mais de 150 cidades, tem 15 mil restaurantes e processa 3 milhões de pedidos por mês, gerando um valor transacionado anual de R$ 1 bilhão aos restaurantes. São Paulo foi escolhida como primeira cidade de atuação por ser diversa, ter diferentes tipos de estabelecimentos e ser formada por um público consumidor com costume de pedir comida em casa ou no trabalho. “Os paulistanos são exigentes e gostam de serviço de qualidade. Todos os dias pensamos, executamos e testamos novas maneiras de levar a melhor experiência, desde o pedido até a chegada do prato, onde quer que nossos consumidores estejam. Atualmente temos mais de 4 mil restaurantes cadastrados em São Paulo, e 30% do volume de pedidos do iFood vem dessa cidade, que também vem apresentando um crescimento de 20% a cada trimestre”, conta.

Quando questionado sobre o tipo de empresa que o iFood é, Santos afirma ser mais que um aplicativo. “Somos uma empresa de tecnologia, focada em soluções para o mercado de alimentação. Uma empresa que busca a melhor qualidade e serviço para os consumidores, seja via site ou app”, analisa.

Outra startup nascida em São Paulo é a GetNinjas, fundada pelo CEO Eduardo L’Hotellier. O aplicativo oferece diversas categorias de serviços com profissionais para ser contratados. A cidade representa 30% da operação atualmente.

“Todo mundo em São Paulo precisa contratar serviços e, no GetNinjas, temos a possibilidade de contratar facilmente e em poucos cliques desde um profissional de construção ou reformas até um professor de idiomas, faxineira, motorista etc. Além disso, como empresa, temos um impacto social muito grande ao conseguir ajudar profissionais liberais a terem clientes para os serviços deles. Muitos perderam o emprego no momento de crise e encontraram no aplicativo uma nova forma de conseguir clientes e ter uma renda fixa para sustentar suas famílias”, explica L’Hotellier.

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Get Ninjas é um aplicativo de serviços, que vão desde assistências técnicas até reformas e reparos, com profissionais dos mais variados e de diversas categorias

O Uber, por sua vez, não é nada paulistana, mas a sua chegada na cidade causou uma discussão que tornou a marca conhecida em todo o país. Presente em mais de 40 cidades, já são mais de 50 mil parceiros no Brasil. Nos últimos três meses, são mais de 8,7 milhões de usuários ativos.

Segundo a empresa, São Paulo é uma cidade que já ultrapassou a marca de 8 milhões de veículos e está entre as cinco do Brasil que mais têm carros por habitantes e, para encarar o desafio da mobilidade nas grandes cidades, é preciso oferecer uma gama cada vez mais ampla de opções de transporte às pessoas. “Uber é mais um modo para se locomover pelas cidades, possibilitando que as pessoas deixem o carro particular em casa e utilizem outros modais”, informa a empresa por meio de nota.

A empresa chegou ao Brasil em junho de 2014. O país já é o maior país da América Latina e representa hoje o terceiro maior mercado no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da Índia. Para o Uber, São Paulo é uma cidade cosmopolita, que recebe empresas e ideias do mundo inteiro. O serviço é oferecido em São Paulo há quase dois anos e meio e, segundo o Uber, a cidade adotou uma postura de liderança na América Latina na regulação do compartilhamento de veículos.

O Uber não se posiciona nem como um aplicativo nem como um serviço de transporte, mas como uma empresa de tecnologia que oferece uma plataforma para que motoristas parceiros se conectem mais facilmente a usuários que buscam se movimentar pelas cidades.

De acordo com a empresa, os motoristas-parceiros que geram renda pela plataforma do Uber são totalmente autônomos e livres para exercer suas atividades da forma como melhor lhes convier, onde, quando e como quiserem.