"Aplico a publicidade em toda a minha carreira", diz Danilo Gentili

Comemorando dez anos de atuação na televisão, Danilo Gentili está pronto para continuar surpreendendo o público com entrevistas bem-humoradas e boas piadas. Segundo dados do Kantar Ibope Media, o The Noite, programa que apresenta no SBT há quatro anos, vem conquistando bons índices de audiência e só em 2018 já alcançou a liderança em 34 exibições. Nesta entrevista, o apresentador comenta os desafios na produção de conteúdo, da onda do politicamente correto, sobre a sua relação com a publicidade e da agência de influenciadores e marcas que vai abrir.

Lourival Ribeiro/Divulgação

Danilo Gentili: “Faço as coisas para as pessoas comuns”

Você começou na televisão no extinto programa CQC, da Band, em 2008. Como avalia a sua performance nestes dez anos de carreira?
Puxa vida! Agora que você falou estou parando para pensar. Que legal, dez anos de televisão. Nestes anos tive sorte e trabalhei muito. Comecei no CQC como repórter temporário. Fui o único cara que começou lá com data para sair e, hoje, tenho o próprio programa. Demorou uns anos para convencer a televisão em me dar essa oportunidade, porém o mais difícil é se manter. Em todo esse período sempre tentei pensar com a cabeça de quem assiste televisão e não com a cabeça de quem está fazendo. Lembro-me quando eu tinha 12, 13 anos, morava em Santo André (SP) e ouvia meus pais e meus vizinhos conversando sobre o que eles gostavam ou não de assistir na televisão. Então, a minha formação de público é essa. Faço as coisas para as pessoas comuns. É com essa cabeça que penso televisão.

Você é um artista multifacetado, mas prefere trabalhar como ator, comediante, escritor ou apresentador?
Prefiro trabalhar como criador e idealizador. Antes de tudo sou um criativo. O The Noite funciona não porque venho aqui, apresento e vou embora, mas, sim, porque ele tem todo um conceito. O cenário, as entrevistas são pensados para quem vai assistir. Gosto de sentar como telespectador para idealizar.

O The Noite completou quatro anos no SBT, o programa está do jeito que você quer?
Na verdade, ele está melhor do que pensei. Uma coisa que acredito ser importante é trabalhar com pessoas que pensem e busquem o mesmo objetivo. Não que apenas endossem as suas palavras. Elas não precisam ter medo de dizer que a sua ideia não é legal, que a piada não tem graça e tal coisa não vai funcionar. Como a minha escola foi o stand up comedy não tenho medo de ser criticado, pois lá você fica meses pensando em piadas e, quando sobe ao palco, está em busca de uma reação imediata, mas quando você percebe que ninguém riu, não há ego que resista. Não estamos no palco para nos agradar e, sim, para agradar o público. Quanto mais pessoas você tiver ao seu lado falando a verdade, maior a chance de as coisas darem certo.

A que você atribui a expressiva audiência do programa?
Quando o programa dá uma grande audiência, obviamente, toco trombeta e coloco em todas as minhas redes sociais, pois sei que essa é a melhor propaganda que posso fazer para o mercado. Na minha cabeça isso não é uma coisa pessoal, é uma propaganda. É igual a Coca-Cola anunciando que vende mais produto que o concorrente. É celebrar uma conquista, pois quanto mais o mercado souber que o programa está indo bem e ganhando da TV Globo, mais anunciantes teremos e as pessoas que trabalham comigo continuarão empregadas. Então, tudo isso é o combustível para que essa máquina continue funcionando.

Você é formado em publicidade, chegou a trabalhar na área?
Não cheguei a trabalhar em nenhuma agência grande. Mas cheguei a atender alguns clientes em Santo André antes de seguir outros caminhos. Aplico a publicidade em toda a minha carreira. Quando comecei a fazer stand up, eu mesmo realizava os cartazes, marketing e as redes sociais. Aliás, até um tempo atrás, não sei se ainda continua assim, era o humorista mais seguido em toda a América Latina nas redes sociais. O logo do programa, o cenário, a publicidade, tudo é acompanhado de perto e administrado por mim.

Você não faz publicidade, por quê?
Poxa, também não sei. Acho que trabalho muito. No programa faço merchandising, mas gostaria de fazer mais propaganda, pois me divirto muito. Como sou de publicidade, valorizo bastante o trabalho.

Como são realizadas as ações de merchandising?
Neste último mês tivemos cinco ações de merchandising no programa. Participo muito de perto de toda a parte de publicidade, do roteiro à apresentação. Tem um que gosto muito de ter criado, que foi para o shampoo anticaspa Clear. No filme estou bancando Cristiano Ronaldo (jogador) no espelho e tal, quando de repente aparece o Diguinho (locutor do The Noite) só de toalha e corta o clima ao deixar a toalha cair. Foi uma ideia muito engraçada, mas que demorou um pouco para convencer a marca de que ficaria legal. No final, eles ficaram muito felizes com o resultado.

Então dá para criar um merchandising fora do convencional?
Sempre que vou às reuniões com anunciantes sugiro um merchandising de um serial killer, que mata as pessoas, corta os membros e usa o ar-condicionado da LG para conservar o corpo. As pessoas ficam assustadas e dizem que isso seria uma coisa que a marca jamais toparia. Mas esse é um merchan real na série americana Dexter. Então, tenho uns cinco exemplos diferentes que apresento nas reuniões. Claro que no final das contas entrego o que o cliente quer, pois ele tem sempre razão. Mas como criativo, antes de entregar o convencional, tento sempre dar outras ideias que podem ser diferentes e legais.

Qual a importância do humor para a publicidade?
O humor faz com que as pessoas memorizem um comercial. Por exemplo, me lembro de em 2010 assistir ao talk show do David Letterman e acompanhar uma ação de uma empresa chamada Jamba Juice. Nela, o apresentador chamava a audiência para acompanhar quantos homens-aranhas cabiam dentro de uma loja da marca. Então, a gente acompanhava pela fachada de vidro, um monte de gente vestida de homem-aranha enchendo a loja. É muito bizarro e engraçado. Então, eu nem sabia que existia Jamba Juice, nem existe no Brasil e olha quanto tempo faz que vi essa ação e estou comentando com você. Se não fosse o humor, não teria lembrado.

Na onda do politicamente correto você pensa mais na hora de falar?
Não, pois sempre acabo pensando como uma pessoa comum. Percebo, muitas vezes, que as pessoas comuns estão meio de saco cheio disso. Se você pegar a palavra “politicamente correto”, ela se trata de uma correção política. Então, se é uma correção política é uma forma de controle. As pessoas acham que o politicamente correto é evitar cometer gafes, magoar, não fazer as pessoas se sentirem mal, mas trata-se de uma correção política. Significa que existe uma corrente política específica tentando ditar o que é certo ou errado. E isso é muito sufocante, as pessoas comuns não querem isso. Se parar para pensar, isso significa que estou me dobrando a essa corrente política, seja ela qual for. A opinião pública entende que uma piada é só uma piada, que um filme é uma obra de ficção. Quem tenta fingir que não entende é uma minoria que fala em nome de uma ideologia que está tentando corrigir as coisas segundo a sua visão política. O humor é o válvula de escape do que é proibido, do que não pode.

Como avalia essa onda de influenciadores?
Vivemos uma fase em que ocorre muita coisa. Todo mundo está em todo lugar e vendo tudo, mas no final não retém e guarda nada. No momento, todo mundo é influenciador digital, mas está influenciando o quê, quem e onde? Quando era criança, não tínhamos muitos influenciadores, mas o Michael Jackson, respeitando as suas devidas proporções, atingia minha mãe, pai, avó, enfim, pessoas de todas as idades. Todo mundo sabia o que era. Hoje, vemos muitos influenciadores digitais que estão em uma bolha e, às vezes, a bolha vai até os 12 anos. Depois, quando completa 13 anos, a pessoa fica com vergonha do que gostava antes. As coisas estão muito descartáveis. O tempo é que vai dizer quem fez um trabalho consistente e de fato é um influenciador.

Quais são os seus próximos passos?
Estou gravando Os exterminadores do além contra a loira do banheiro, um filme que
vai misturar terror e comédia, com Léo Lins, Murilo Couto, Ratinho e várias pessoas. A estreia deve ocorrer entre os meses de novembro e dezembro deste ano. Estou tentando fazer uma coisa diferente, que, mais uma vez, não vejo por aqui. Depois do cinema ele vai virar uma série de dez episódios da Warner Bros com o SBT. Em cada episódio contaremos um caso diferente envolvendo fantasmas ou lenda urbana. Fora isso, estou abrindo uma agência de influenciadores e conexão de marcas com a minha sócia Bruna Sinhorini, que vai se chamar Publination. Então, é isso, o programa, o filme e a agência.

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