Aruanas e o Dia da Amazônia: quando a ficção vira realidade
Em 5 de setembro, comemoramos o Dia da Amazônia. Esta deveria ser uma data para celebrar um dos patrimônios ambientais mais valiosos do planeta. Entretanto, a cobertura de mídia no Brasil e no mundo só divulga as queimadas criminosas, o desmatamento ilegal, a grilagem e a corrupção. Esta realidade não é nova, mas tem de mudar. Todas as pesquisas de opinião constatam índices acima dos 80% confirmando que o brasileiro zela pelo meio ambiente, é contra o desmatamento e sabe o que é a crise climática. Por que seguimos testemunhando a destruição da floresta amazônica? Uma das explicações poderia ser a hipótese de que a sociedade brasileira não se engaja com ações concretas para mudar esta realidade.
ONGs do campo ambiental e dos direitos humanos organizam campanhas para engajar as pessoas. Entretanto, a falta de inovação em suas campanhas e a dificuldade de ampliar o engajamento do público acabaram criando uma audiência cativa, a chamada “bolha dos convertidos”. A série Aruanas (Globo/Maria Farinha Filmes) é um thriller ambiental que vem justamente responder a esse desafio: furar a bolha, conquistar novas audiências para os temas ambientais e comunicar de forma mais efetiva e eficaz o conteúdo socioambiental. A tese de Aruanas está dividida em duas partes: a primeira, acreditando que o entretenimento é a melhor ferramenta para mobilização de causas; a segunda, que o público aprecia o conteúdo de causas na forma de séries. Escrita por Estela Renner e Marcos Nisti, Aruanas tem um propósito claro: alertar para a crise ambiental mundial e valorizar e proteger o trabalho de ativistas.
A série contou com a parceria técnica do Greenpeace e o apoio de mais de 20 organizações de atuação nacional e internacional. Foi recentemente lançada no Brasil, pela Globoplay, e no exterior, pelo aruanas.tv. Nessa plataforma, o assinante cujo coração e mente for impactado pela trama poderá tomar ações concretas para cuidar da Amazônia conhecendo as organizações parceiras e apoiando as suas campanhas. Além disso, parte da receita líquida internacional será revertida para um projeto que beneficiará a Amazônia. A participação das organizações não se restringe a oferecer um cardápio de opções. Através do envio de códigos promocionais gratuitos para todos os interessados e envolvidos das organizações parceiras, podemos promover a série apostando no compartilhamento de opiniões.
A potência do conteúdo relevante fazendo a vinculação com as emoções das pessoas, a conexão mais rápida e profunda com o público e as redes sociais têm um papel crucial no engajamento da audiência, como disse Mariano Cesar, VP da Turner América Latina, em entrevista ao PROPMARK. Ella Saltmarshe publicou na Stanford Social Innovation Review, há pouco mais de um ano, um artigo muito comentado: Usando histórias para mudar o sistema. Nele, a autora identifica três aspectos fundamentais para fazer uma transformação: as histórias como luz, cola ou rede.
A história como luz joga o holofote nas falhas do sistema e nas soluções. Em Aruanas, a ativista Luiza (Leandra Leal) denuncia o desmatamento ilegal, o genocídio indígena e o garimpo ilegal de ouro, que contamina os rios e as comunidades. A jornalista Natalie (Débora Falabella) apresenta a solução da bioeconomia e uso sustentável de ativos florestais: um exemplo é a descoberta de que a ucuuba, semente de uma árvore tradicionalmente cortada para o comércio de madeira, tem propriedades hidratantes incríveis. A história como cola cria uma relação empática com a audiência através de relações pessoais e humanizadas. Em Aruanas, a advogada Verônica (Taís Araújo) se apresenta como uma profissional respeitadíssima por amigos e inimigos, que precisa lidar com os próprios fantasmas e dramas pessoais. A estagiária Clara (Thainá Duarte) foge de um relacionamento abusivo.
A história como rede é aquela que nos permite escrever novas narrativas. Em Aruanas, reafirmamos que a floresta amazônica em pé vale mais que derrubada, pela sua rica biodiversidade, serviços ambientais e cultura. Aruanas ou a celebração do Dia da Amazônia são oportunidades de contar histórias potentes e transformadoras e com isso engajar milhões de pessoas que querem a Amazônia viva.
Marcelo Furtado é ambientalista, diretor do Alana Foundation e um dos produtores-executivos de Aruanas (info@believe.earth)