As séries que estão inspirando os produtores brasileiros

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Aline Magalhães, Cassiano Prado, Urso Morto, Paulo Corcione e Rafael Castro

PROPMARK resolveu ouvir alguns profissionais de produtoras brasileiras sobre quais séries eles estão assistindo e de que maneira o formato tem servido como fonte de inspiração para seu trabalho. As narrativas e padrões estéticos desse tipo de atração tende a estar mais presentes na publicidade, conforme se fazem mais presentes na cultura popular. De boas ideias a técnicas novas de produção, atrações como The Americans, Wild Wild Country e Fargo foram mencionadas entre aquelas que estão ensinando algo para o mercado. Confira o que disseram os profissionais de produção:

Cassiano Prado – diretor de cena da Stink Films

Succession é uma série do ano passado que me lembra os velhos tempos das séries robustas da HBO. O produto impressiona pela qualidade da atuação e a profundidade psicológica de cada um dos personagem. A dramaturgia da série reforça a prática do bom diretor que não faz escolhas deliberadas – se está lá, dialoga diretamente com a premissa. Algo que parece óbvio mas ainda não praticamos com destreza. A linguagem semi-documental de Succession também abre mão de qualquer virtuosismo estético em prol da narrativa. Um trabalho tão bom que, ao invés de enaltecer o diretor, faz com que ele desapareça por trás da obra.

Rafael Castro – diretor de conteúdo de vídeo e roteirista da Massiv

Acompanhei You porque estava todo mundo falando e eu achei o tema um pouco problemático. No fim das contas é uma boa série que é criativa na hora de lidar com alguns clichês que já estamos acostumados. Ela trabalha muito bem o foco. O personagem principal é um stalker e quando sua vítima fala o foco da câmera fica somente nela. Eles trabalham essa mudança de foco a série quase inteira, sem contar com a forma diferente e econômica com que fazem alguns flashbacks. Isso deve variar de diretor pra diretor, porque essas técnicas não são usadas em todos os episódios. É sempre bom poder absorver conhecimento técnico de produções, mesmo que essas não sejam o tipo de conteúdo que você costuma consumir. Sempre tem onde aprender, até em produtos considerados ruins.

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Urso Morto (Fabrício Brambatti) – diretor de cena da Spray Filmes

Fargo me impactou pela qualidade da narrativa. A personalidade que as histórias são contadas e vontade que a série tem de imprimir uma linguagem visual impecável. No meu trabalho eu sempre busco trazer a realidade de forma mais crua. Fargo consegue contar histórias baseadas em fatos reais de uma forma mais leve sem perder com isso. Algumas cenas de violência da série deixam no espectador aquela sensação estranha de ver uma coisa horrível e achar aquilo bonito. Você sabe que não deveria, mas é inevitável ver aquele sangue misturado com milk-shake e não achar maravilhoso.

Aline Magalhães – coordenadora de conteúdo e roteirista da Bufalos

O que acontece quando dois diretores coletam mais de 110 horas de entrevistas, reúnem mais de 300 horas de imagens de arquivo e se dedicam a estudar e apurar uma história por mais de quatro anos? Desse esforço nasceu Wild Wild Country, uma série documental dirigida pelos irmãos Chapman e Maclain Way que conta a polêmica e controversa história do guru indiano Osho e a criação de Rajneeshpuram, uma comunidade formada por seguidores do líder espiritual que transforma completamente uma pacata cidadezinha no interior do Oregon e abala os Estados Unidos nos anos 1980. Disponível na Netflix, a série consegue criar uma narrativa extremamente envolvente. São seis episódios de tirar o fôlego, construídos essencialmente a partir de depoimentos e de uma quantidade surreal de imagens de arquivo. Ah, e de muito estudo, é claro! Em entrevista a um site gringo, os diretores afirmaram ter lido mais de 20 livros para entender toda a complexidade da história. E é essa construção que faz dessa obra uma referência para ter pra vida! Como roteirista e jornalista da Bufalos, busco perseguir a maneira mais cativante de contar uma história, vou atrás de grandes personagens, tenho a missão de extrair tudo que posso de suas entrevistas e estudo muito, muito sobre o que vou contar. O trabalho da série é primoroso nesse sentido. Os caras conseguem trazer depoimentos inéditos e viscerais sobre personagens que mais parecem ter saído de uma grande ficção e nos ajudam a entender, a partir de dois lados opostos e rivais, toda a loucura dessa história que envolve filosofia, espiritualidade, fé, política, traição, conspiração e violência.

Paulo Corcione – sócio e produtor da Lucha Libre Áudio

A última série que vi foi The Americans. Sim, um pouco atrasado. Mas como produtor musical, preciso usufruir daquele ditado: “Em casa de ferreiro…”. Digo isso pois a trilha tem que ser muito boa para fazer com que eu vá pesquisar mais sobre a composição, mixagem e arranjo. Não gosto de assistir uma série pensando primeiramente em trabalho. A referência surge naturalmente não apenas da música, mas do que a série ou filme me passa de uma maneira em geral. E se você não está preocupado com novidades e modernidades, “The Americans” é um bom setlist. Patti Smith, Leonard Cohen, Dire Straits, Kenny Rogers, Pete Townshend… Coloque no carro e bom proveito. Aliás, o proveito é perceber que o moderno é um conceito ultrapassado.

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