Automóvel deixa de ser “carroça”

É impossível prever o momento exato que marca o início da inovação na indústria automobilística do Brasil. Talvez esse momento tenha acontecido a partir de 31 de janeiro de 1956, quando Juscelino Kubitschek foi empossado como presidente da República, sendo responsável pelo impulso necessário à implantação definitiva da indústria ao criar o Geia (Grupo Executivo da Indústria Automotiva). Ou, quem sabe, graças ao ex-presidente Fernando Collor, que abriu o mercado brasileiro para montadoras estrangeiras, após ter dito que “comparados com os carros do mundo, os carros brasileiros são verdadeiras carroças”. Mas, de certa forma, Collor tinha razão. Antes disso, os veículos brasileiros eram precários, praticamente sem tecnologia e com pouca segurança.

No entanto, a história automobilística brasileira também passa pelo romantismo do Fusca e da Kombi, que se “aposentou” recentemente deixando um testamento para os seus “filhos”. Outro marco histórico foi a inauguração da unidade Anchieta (SP), em 18 de novembro 1959, com a participação do ex-presidente da República Juscelino Kubitscheck, que desfilou pela fábrica num Fusca conversível.

O Fusca, aliás, é outra marca na indústria automotiva do Brasil. O carro reuniu milhões de apaixonados que, até hoje, colecionam o automóvel. Com base neste sucesso, talvez um dos maiores da história, a montadora relançou uma nova versão: o New Beetle, que nasceu depois de um estudo profundo no design e hoje trocou de nome, voltando a adotar o Fusca como identidade.

Outra inovação da montadora foi o lançamento do seu primeiro modelo com motor refrigerado a água e tração dianteira: o Passat (1974), uma revolução para a época. Em 1976, implantou a fábrica de Taubaté, com o propósito de fazer outro “brasileiro famoso”: o Gol. Lançado em 1980, o modelo logo tornou-se o maior sucesso da indústria automotiva nacional. Ele foi líder muitos  anos consecutivos e já soma mais de sete milhões de unidades produzidas.

Já nos anos 1980 a plataforma Gol ganhou derivados: o sedan Voyage, a perua Parati e a picape Saveiro, igualmente campeões de vendas em seus segmentos. Ainda naquela década, a Volkswagen do Brasil entrou no segmento de luxo, com o Santana (1984) e a Quantum (1985). Em 1988, a marca produziu o primeiro carro nacional com injeção eletrônica de combustível e ignição digital com mapeamento eletrônico, o Gol GTI.

Em 1996, inaugurou a fábrica de motores de São Carlos e, em 1999, a unidade industrial de São José dos Pinhais (PR). Chegando inicialmente como carro importado (1994), o Golf logo se tornou um grande sucesso, introduzindo novos níveis de qualidade e dirigibilidade no mercado.

Para receber o Polo (2002) e o Polo Sedan (2003), a fábrica de São Bernardo do Campo teve seus meios e processos produtivos completamente modernizados. Em 2003, a área de engenharia criou mais um carro revolucionário, o Fox, que tem um melhor aproveitamento do espaço interno, como dizia a propaganda: “Compacto para quem vê, gigante para quem anda”. Atualmente, a Volks tem em seu portfólio carros como a nova versão do Passat, um dos mais modernos, que traz injeção direta de gasolina e turbo com 211 cv e a transmissão DSG de dupla embreagem.

DO OPALA AO FIAT MIO

O primeiro carro de passageiros da Chevrolet produzido no Brasil foi o Opala, em 1968. Anos depois, a montadora resolveu lançar um carro que fosse bem menor que o Opala – foi assim que nasceu o Chevette, que chegou ao mercado com duas portas, diferentemente do primeiro. Na sequência foi a vez do Chevrolet Comodoro e da Caravan. Mas a inovação da marca começou a aparecer em 1979, quando, em setembro daquele ano, a GM deu início à venda de veículos a álcool, o que, para a época, era considerado uma revolução. E, por falar em revolução, o Monza foi lançado no início da década de 1980. O carro foi um marco na trajetória da montadora – o modelo foi líder absoluto de vendas no país, com 53 mil unidades comercializadas em 1984 e 1985.

A partir daqueles anos, a inovação acabou se tornando algo mais “comum” dentro da empresa. Um exemplo: no fim da década de 1980 a GM introduziu no Opala o câmbio de quatro marchas automático. Depois foi a vez do Monza Classic, que acabou indo para o mercado com injeção eletrônica de combustível.

O Omega foi outro carro lançado pela Chevrolet que mostrou bem a inovação. No início da década de 1990, o veículo chegou a ser eleito um dos mais modernos e sofisticado do país. O Omega foi uma porta de entrada para  outros carros ainda mais modernos: depois foi a vez de Vectra, Astra e Blazer, até chegar nos carros que são produzidos atualmente, como Cruze, Onix e Spin. O Cruze, por exemplo, tem um sistema multimídia chamado de MyLink, com reconhecimento de voz. Com ele, o usuário é capaz de acessar diversas informações como emissoras de rádio, determinada música para ser ouvida e o acesso aos comandos do sistema de navegação.

A Fiat é outra montadora que também sempre teve a inovação em seu DNA. Inovação esta que começou, por exemplo, com o Fiat 147, que foi destaque por ter o porta-malas livre, já que o estepe ficava na parte da frente. Essa mudança também evoluiu, ganhou novas formas e conquistou o mercado. Exemplo disso é o Fiat Uno, que foi repaginado e lançado para um mercado que o abraçou e o colocou entre os mais vendidos do país.
Mas essa inovação também pode ser traduzida pelo Fiat FCC4 – a novidade trata-se de um exercício de design desenvolvido pelo Fiat Design Center Latam com dimensões generosas e altura do solo elevada. De acordo com a Fiat, “nele, o DNA da marca se une com o luxo e o espaço interno de um grande sedã. Um verdadeiro ‘Four Door Coupe’ com alma aventureira.”

O modelo mostrou o design a ser usado pela futura picape média da marca. O Fiat FCC4 tem um conceito wrap around que une para-brisa, área envidraçada lateral e vidro traseiro reforçando ao caráter extremamente dinâmico do concept.

A montadora também lançou, em 2010, o Fiat Mio, um carro-conceito que foi construído com a participação dos consumidores. A colaboração foi aberta aos consumidores, formadores de opinião, especialistas e acadêmicos, que deram contribuições de todos os tipos, técnicas ou não.

CONECTIVIDADE
A última aposta da Ford, com o novo Ford Ka, foi a conectividade. Para Oswaldo Ramos, gerente-geral de mar- keting da Ford, a principal inovação do setor nos últimos 50 anos da montadora está ligada à conectividade. “Em uma era em que a internet está tão presente no dia a dia das pessoas, faz-se fundamental o carro acompanhar esta evolução e deixar de ser apenas um meio de transporte. Estamos investindo fortemente em pesquisas e novas tecnologias para facilitar a vida das pessoas”, afirma.

Ramos conta que inovação é uma palavra que já está no DNA da Ford. “Nosso fundador, Henry Ford, revolucionou a indústria mundial ao criar a primeira linha de montagem móvel há 100 anos. De lá para cá, seguimos impulsionando a inovação em todas as partes do nosso negócio para ser tanto uma empresa de produtos como de mobilidade”, lembra. Ainda de acordo com ele, esse espírito inovador também está presente aqui no Brasil, onde a montadora tem uma longa história de pioneirismo.

“Fomos a primeira indústria automobilística a se instalar no país, lançamos o primeiro caminhão inteiramente produzido no Brasil, o F-600; lançamos o primeiro veículo movido exclusivamente a álcool, o Corcel II; entre tantas outras inovações ao longo desses últimos 50 anos”, diz. “Um ótimo exemplo é o EcoSport, veículo desenvolvido no Brasil que criou um novo segmento no mercado automotivo nacional e, mais recentemente, tornou-se o primeiro veículo global desenvolvido no Brasil”, complementa.

ESTRANGEIRAS

Foram várias as fases da indústria automobilística do Brasil. A de mais destaque, que mais contribuiu para um aquecimento do segmento, ocorreu no início da década de 1990, quando o mercado foi aberto para as marcas estrangeiras. E isso aconteceu por meio de medidas econômicas e de infraestrutura que foram promovidas pelo governo. Após essa abertura, no entanto, cinco grandes montadoras entraram no Brasil – Renault, Peugeot Citröen, Toyota, Daimler Chrysler e a Honda, que sempre buscou inovação. E o pontapé se deu com o lançamento do carro esporte S500 e do minicaminhão T360, em 1963. Nascia ali o compromisso de “redesenhar o mapa da indústria automobilística”. E este “redesenho” só foi possível com muita inovação tecnológica, como diz Carlos Eigi, vice-presidente da Honda do Brasil.

“A partir daí, a Honda vem comprovando seu pioneirismo por meio de lançamentos de produtos e sistemas cada vez mais eficientes e tecnológicos, de veículos elétricos e movidos a hidrogênio a produção de jatos e projetos de carros autônomos. Por tudo isso, a empresa se orgulha em ser sinônimo de alta tecnologia e inovação em todos os países que atua”, afirma.

Eigi contou que a substituição gradativa dos comandos mecânicos e manuais pelos equipamentos eletrônicos fez os veículos ficarem mais precisos nas leituras de dados para uma melhor performance em aspectos como segurança, economia, conforto e desempenho. “A matéria-prima também evoluiu muito e hoje nos permite substituir a chapa de aço por materiais plásticos em vários pontos do carro, contribuindo para o aumento de eficiência no desempenho e no consumo. Já com a evolução do metal também foi possível utilizar chapas de menor espessura com maior resistência, influenciando novamente no desempenho e no consumo, além de trazer maior segurança para os usuários”, diz.

Parceria histórica

A AlmapBBDO e a Volkswagen formam uma das principais parcerias agência-empresa da história da publicidade. A montadora trabalha com a agência desde 1956 e teve o contrato renovado em 1993, quando Marcello Serpa e José Luiz Madeira assumiram o comando da agência. A Volkswagen é uma das montadoras com mais prêmios em festivais de publicidade do Brasil e do mundo. Por 20 vezes, os anúncios da Volkswagen, criados em parceria com a AlmapBBDO, receberam o maior prêmio da publicidade mundial em Cannes.
Alex Periscinoto, um dos fundadores da Almap, ficou conhecido, entre outras coisas, pelas campanhas desenvolvidas para a montadora, que ficaram importantes por terem sido veiculadas quando Juscelino Kubitschek fez um grande incentivo ao transporte rodoviário no Brasil, introduzindo as fábricas de automóveis no país.

As campanhas publicitárias da Volkswagen sempre foram marca registrada da empresa. Criativas e irreverentes, as ações ajudaram a fortalecer e ressaltar as principais características dos produtos da marca: inovação tecnológica, qualidade, conforto e segurança.

Para o gerente-executivo de marketing comunicação da Volkswagen do Brasil, Artur Martins, a conexão com o público é feita por meio de histórias relacionadas ao dia a dia das pessoas, contadas de forma original, criativa e autêntica, sempre com um “tom de voz” Volkswagen. “O slogan segue esta mesma linha de comunicação, ressaltando também a imagem e os valores de marca junto aos seus consumidores. O conjunto desses quesitos é o grande diferencial da propaganda da Volkswagen”, argumenta o executivo.

Os slogans “Bom senso em automóvel” e “Bom senso sobre rodas” foram os primeiros a serem utilizados pela Volkswagen em seus anúncios. Eles surgiram no início dos anos 1960, num momento em que a empresa tinha se estabelecido no país e vinha se consolidando no mercado brasileiro, com a fabricação do Fusca e da Kombi. Com estas assinaturas, a Volkswagen procurava reforçar a imagem de uma empresa que, ao fabricar seus produtos, buscava aliar qualidade, versatilidade e economia no consumo de combustível, marcas registradas que destacavam os veículos da montadora e fazia com que ganhassem a preferência do grande público com valores acessíveis. Aí estaria o bom senso.

Dentre as ações feitas pela agência para a Volks, destacam-se “Os Últimos Desejos da Kombi”, uma das mais recentes, que recebeu diversos prêmios nos principais festivais de publicidade do mundo.

Além dessa, a AlmapBBDO também foi a responsável por outras campanhas, como a feita nos anos 1970 que teve como slogan “A marca que conhece nosso chão”. Essa assinatura buscava identificar cada vez mais uma marca que já era conhecida dos brasileiros com o Brasil. Os anúncios desse período procuravam mostrar os veículos da Volkswagen nas mais diferentes paisagens. Outra campanha de destaque foi a “30 anos de liderança e tecnologia”, lançada em 1983, que tinha como objetivo ressaltar a busca por inovação nos produtos da Volkswagen.

Já nos anos 2000, a Almap criou o slogan “Perfeito para sua vida”, que trouxe a ideia de um veículo para todos os estilos, segmentos e ocasiões, ou seja, para todos os públicos, bem como o objetivo de ressaltar os valores da marca como alta tecnologia, acessibilidade, design contemporâneo, resistência, durabilidade, confiabilidade, modernidade e inovação.
A assinatura da Volkswagen no Brasil e no mundo é “Das Auto”. A campanha mais recente da montadora contou com o jogador Neymar Jr., embaixador da marca.