BETC e WMcCann devem reabrir nos próximos meses
Não há uma data em comum para o retorno dos profissionais de agências e clientes aos escritórios em São Paulo, principal mercado do país, embora o setor já esteja autorizado pela Prefeitura da capital a reabrir suas sedes, respeitando as regras de distanciamento social, recomendações sanitárias e o protocolo aprovado em conjunto com entidades. O mercado publicitário trabalha remotamente desde março em razão da pandemia da Covid-19.
Agências como BETC/Havas e WMcCann, duas das maiores no Brasil, podem retornar este ano e estudam uma volta parcial em outubro e novembro. A BETC/Havas informa que está estudando o retorno para outubro, mas ainda sem data definida. “A BETC tem uma cultura muito própria e admirada por todos os colaboradores, por isso acreditamos que essa proximidade, respeitando todos os protocolos de segurança, será positiva para as equipes”, comenta Daniel Jotta, general manager da agência.
“Criamos um comitê com a participação de colaboradores de todas as áreas, que se reúne duas vezes por semana e discute vários pontos, desde os protocolos de segurança até as solicitações das pessoas. Além disso, realizamos pesquisas com todos da agência para entender melhor a data ideal, com sugestões e opiniões. E após o período da pandemia a agência adotará o home office, para parte da agência e em formato de rodízio, definitivamente”, revela ele.
Na WMcCann, a previsão é de uma reabertura de forma voluntária em novembro de 2020, com até 10% da capacidade do escritório. “A previsão é que a partir de 2021 a gente adote o regime híbrido, em que será possível trabalhar presencialmente ou em home office, de acordo com a demanda de cada função”, afirma Paula Molina, diretora de RH da agência.
Mas boa parte das empresas criativas consultadas pelo PROPMARK não tem uma data preestabelecida. A Wunderman Thompson, por exemplo, informa que este ano não retorna ao escritório, pelo menos de forma total e compulsória, e a partir de 2021 volta em algum modelo mais flexível. Uma tendência é que, após o período da pandemia, as agências adotem o home office, para parte do pessoal e em formato de rodízio, definitivamente.
As agências acompanham um movimento dos próprios clientes, que estão trabalhando majoritariamente em home office e a maioria não tem previsão de retorno, segundo pesquisa feita pela ABA (Associação Brasileira de Anunciantes) com seus associados. Entre as razões estão a percepção de que o trabalho remoto tem funcionado bem, a otimização de custos e a segurança das pessoas.
“Há, porém, diversos casos em que as diretorias estão convidando seus funcionários a voltar aos escritórios se assim quiserem e puderem. O retorno voluntário é uma realidade para diversas empresas, mas com limitação de capacidade e com cuidados redobrados de higiene”, conta Sandra Martinelli, presidente-executiva da ABA.
De acordo com o levantamento da entidade, 66% dos respondentes ainda não têm previsão de retorno, 12% pretende retornar até março de 2021, 12% ainda em 2020, 8% até outubro de 2020 e 2% apenas após a vacina. “A ABA, sendo uma associação que promove boas práticas dentro do contexto da publicidade e propaganda, não orienta seus associados quanto às suas diretrizes operacionais. Sendo assim, não há orientação referente ao retorno aos escritórios”.
Segundo a ABA, alguns associados têm percebido que o home office está funcionado muito bem entre todos os funcionários administrativos e o rendimento e as demandas nesse regime são superiores. Há também a necessidade de cautela extrema no caso de grandes empresas, já que o alto número de executivos pode significar a intensificação de casos de contágio. “Nesse sentido, acompanhando as discussões do mercado quanto à qualidade de vida dos funcionários e otimização de custos das empresas decorrentes do home office, nos parece que este modelo, instaurado de maneira periódica, será uma nova tendência mesmo após a situação pandêmica estar controlada”, completa a presidente-executiva.
“Fomos uma das primeiras agências a optar pelo home office, no dia 13 de março, e estamos trabalhando a distância sem prejuízo em nossas entregas. Como temos escritório em vários estados e os riscos de contágio ainda são instáveis, optamos por aguardar, em respeito à segurança e ao bem-estar dos colaboradores que são do grupo de risco, têm filhos ainda em ensino domiciliar ou outras questões pessoais geradas pela pandemia”, ressalta a executiva.
Já na Ogilvy não há uma data definida para a volta dos funcionários ao escritório. “Estamos trabalhando num plano de retomada para garantir que, quando isso ocorra, a volta seja gradual, segura e atenda a todos os protocolos estabelecidos”, diz Karina Ribeiro, new business leader e CMO da Ogilvy Brasil.
“Nós fomos rápidos em nos adaptar a uma estrutura de trabalho remoto, oferecendo às pessoas todo suporte de RH, TI e infraestrutura necessário para que pudessem trabalhar integralmente de suas casas. Além disso, ferramentas tecnológicas nos ajudaram a manter a conexão e a integração entre os times, assim como nos permitem participar de processos de concorrência e produzir campanhas e materiais para os nossos clientes. Tudo isso nos deixa tranquilos para planejar uma volta cautelosa. E por mais que a volta esteja autorizada, ainda temos variáveis importantes que compõem a atual situação específica de cada um dos nossos colaboradores (por exemplo, convivência com pessoas de risco, filhos em idade escolar que não vão para escola e precisam da supervisão de um adulto, entre tantas outras situações)”, completa Karina.
No caso da Leo Burnett Tailor Made, a conduta é seguir as orientações do Grupo Publicis e analisar a situação mês a mês. “Temos já traçado o plano estratégico da volta, com todos os cuidados e providências que o momento pede. Mas o cenário atual é o de que ficaremos em home office até o fim de setembro e depois avaliaremos a situação da Covid-19. Nossa prioridade número 1 é a segurança e o bem-estar dos nossos funcionários”, informa Marcio Toscani, co-CEO e COO da agência.
O executivo destaca que, no momento, o plano é manter 100% das pessoas em home office. Apesar da autorização do governo, prossegue Toscani, a contaminação do vírus segue em patamares elevados. “Entendemos motivos específicos que façam com que algumas empresas necessitem da presença das pessoas nos locais de trabalho (como fábricas, estabelecimentos comerciais, hospitais e afins). Não é o caso da Leo Burnett e nem de grande parte das agências de publicidade. Por isso, inclusive, pouquíssimas voltaram. Nossa ‘produção’ é a criatividade e, em função dessa entrega, conseguimos segurar por mais tempo as pessoas em home office”, conclui ele.
Alinhamento global
A FCB Brasil também afirma que tem um plano de retomada desenhado e alinhado com a FCB Global. “Antes de tomarmos qualquer atitude faremos uma pesquisa para entender com os funcionários quem gostaria de voltar ou não. Uma preocupação é em relação ao retorno das escolas e outra com a questão da vacina. Só tomaremos alguma decisão final após a análise de todos estes cenários. Temos monitorado periodicamente os funcionários, suas dificuldades e anseios”, afirma Ricardo John, CEO & CCO da FCB Brasil.
A ideia na agência é que os funcionários voltem em ondas e em turnos e períodos diferenciados. “Além disso, pessoas do grupo de risco ou que tenham convívio com o grupo, pais com necessidades específicas em relação aos filhos e aqueles que tenham desconforto sobre o retorno, não retornarão até segunda ordem”.
Pedro Reiss, CEO da Wunderman Thompson Brasil, detalha que até o fim do ano a agência possivelmente abra alguns dias para eventos e com protocolos específicos. “Se mais para frente a gente sentir segurança podemos oferecer a agência para alguns colaboradores que têm precisado de um espaço para trabalhar. Mas provavelmente só voltaremos no ano que vem e com flexibilidade entre a jornada presencial e o home office. A gente está trabalhando em planos para adotar um regime mais flexível de trabalho para 2021, onde as pessoas estariam de vez em quando na agência e de vez em quando em casa buscando o melhor dos dois modelos no contexto de cada pessoa”.
A MullenLowe Brasil, cuja sede está em reforma, também não trabalha com uma previsão. “Queremos voltar o quanto antes, claro que de um jeito diferente, mas optamos pela cautela. Nos primeiros meses, estávamos sempre estipulando datas, mas o tempo nos fez entender que a ansiedade não resolve nada. Não há pressa quando o tema é a segurança de todos. E, afinal, o trabalho segue sendo muito bem executado no modelo 100% home office”, destaca André Gomes, CEO da agência. O executivo conta que o escritório passa por modificações. “Na verdade, iniciamos uma reforma importante do espaço. Será um novo local de trabalho, atualizado ao que aprendemos nesse período de home office”.
Dudu Godoy, presidente do Sinapro-SP, ressalta que o protocolo aprovado pela Prefeitura de São Paulo é a referência a ser adotada por outros municípios do estado, respeitando as respectivas fases de retomada das atividades locais. Assim, quando as agências puderem retomar suas atividades presencialmente e optarem por fazê-lo, deverão seguir o que foi determinado neste protocolo. “A tendência, quanto a retomar ou não as atividades, de forma integral ou parcial, é que as agências acompanhem o movimento dos próprios clientes. Temos visto que algumas estão voltando aos escritórios lentamente, no ritmo em que seus clientes também estão retomando as atividades presenciais. De qualquer forma, todas as agências devem estar atentas à instabilidade das fases de reabertura, pois algumas cidades retrocederam em suas decisões e isso pode causar um grande prejuízo às agências”, diz ele.
Na Artplan, a visão é de que não dá mais para imaginar e não faz mais sentido todos os dias 100% da operação no escritório. “O trabalho a distância funciona bem e garante mais conforto e comodidade aos nossos colaboradores. Faremos revezamentos entre as squads, aumentaremos os espaçamentos físicos entre as pessoas, marcaremos reuniões presenciais e viagens com uma menor frequência e, obviamente, ficaremos cada vez mais atentos às medidas de higienização e assepsia dos escritórios”, assegura Antonio Fadiga, CEO da Artplan SP e Rio.
Segundo ele, não há uma data prevista para o retorno presencial ao escritório. “Estamos avaliando uma reestruturação interna para entendermos o que faz mais sentido neste momento de readequação aos protocolos. Nosso objetivo é não termos pressa, pois temos de assegurar que todos voltem com segurança, garantindo bem-estar e também a qualidade das nossas entregas”.
Maior agência do país pelo ranking da Kantar Ibope Media, a Y&R informa que o escritório já está preparado para receber os colaboradores de acordo com a orientações e protocolos de saúde. Porém, a preocupação não é localizada, mas sim no impacto que a movimentação e a circulação que os colaboradores teriam para chegar até o escritório pode causar em suas vidas e dos outros. “Entendemos que o momento que vivemos deve ser visto com cautela. Mês a mês estamos acompanhando as evoluções referentes à vacina e também a pandemia em nossa cidade, e serão essas informações científicas que nos ajudarão a deliberar a volta ao escritório. Por hora, não há previsão”, diz o CEO David Laloum.
O presidente da SunsetDDB, Pipo Calazans, afirma que o espaço físico da agência estará disponível a partir de outubro, mas que, “neste momento tão incerto, queremos que o time se sinta 100% seguro para tomar a melhor decisão de acordo com a realidade individual de cada um. “Cada um terá a liberdade de ir até o escritório quando quiser e pelo tempo que quiser. Não temos a menor necessidade de voltar antes do momento em que o time se sinta seguro para se dedicar ao trabalho presencial no escritório e, por este motivo, preferimos já estruturar um novo formato que prioriza a autonomia para cada integrante do time tomar sua decisão sobre o local de onde ele prefere trabalhar”, explica Calazans.
Sobre o trabalho remoto, Fadiga acrescenta que os últimos meses foram de muito trabalho e readaptações. “Desde a implementação do home office, nossa equipe está muito unida e comprometida. Buscamos realizar ações que, de alguma forma, aliviem o momento delicado que todos estamos vivendo, e entramos constantemente em contato com nossos colaboradores”. Reiss explica que, no geral, o home office tem funcionado bem. “Para algumas pessoas tem sido melhor, para outras pessoas tem sido pior. E isso nos forçou a mudar alguns processos, a melhorar alguns formatos da nossa comunicação para garantir que todo mundo possa desempenhar o seu melhor”