Beyond the line: Jovem esperança
Sou do time dos otimistas, mas está difícil acreditar numa virada desse jogo sujo no curto prazo. À iniciativa privada cabe a missão de tocar seus negócios da melhor maneira possível, lutando contra os desmandos dos governantes.
Mas será que tem jeito? Sim, sempre tem. A corrupção não é algo novo no Brasil, tampouco a inépcia governamental. Se muitos estão apavorados com inflação a mais de 8% ao ano, vale lembrar que já vivemos momentos de taxa inflacionária de 80% ao mês. E sobrevivemos!
Mas o que preocupa não é a superação de crises econômicas, mas a dos desvios éticos e morais que assolam nosso país. Para isso, a solução é ainda mais difícil. Imagino que uma possível depuração só aconteça numa próxima geração. Isso porque acredito que só mesmo os jovens que vivenciam esse momento negro serão capazes de mudar o futuro. Para nós, que já estamos jogando esse jogo de caneladas e arbitragem duvidosa há muito tempo, é mais difícil. Nós tapamos o nariz, colocamos a faca entre os dentes e vamos à luta, jogando o jogo que precisa ser jogado para sobreviver. Para os jovens que estão começando uma carreira, o quadro de opções é maior.
Tenho vivenciado exemplos que nos dão esperança numa nova geração que começa a despontar. Faço parte do conselho consultivo da Enactus, uma ONG de abrangência internacional que oferece a jovens estudantes universitários a oportunidade de desenvolver projetos que melhorem a vida de pessoas. O que os motiva, além do espírito altruísta, é um concurso internacional de projetos sociais. São times de escolas superiores participantes que se submetem a um júri nacional, sendo que o melhor deles tem o direito de competir na etapa mundial.
Assistir à apresentação dos projetos sem se emocionar é uma tarefa impossível. Até porque o que eles apresentam não é só um projeto, mas os resultados da ação colocada em prática, comprovando a mudança efetiva da vida de pessoas. Esses são os jovens que poderão virar o jogo.
Mas há também aqueles que resistem ao mundo do capitalismo selvagem e optam por uma vida alternativa, longe do vale-tudo, do pragmatismo inconsciente dos que querem apenas acumular riqueza. Também vivencio esse grupo de perto, já que tenho um filho que adotou o caminho alternativo, guardando uma boa distância desse mundo dos negócios escusos.
Tenho lidado sempre com jovens trainees e profiro palestras em universidades. Aproveito essas oportunidades para empoderá-los e alertá-los da importância que eles têm na construção de um futuro melhor. Se você tem estagiários ou trainees na sua empresa, não deixe escapar a chance de direcioná-los para o norte da ética e da atuação responsável.
O Cannes Lions, por exemplo, tem feito sua parte dedicando ao festival não só uma premiação específica (Grand Prix for Good), como também um espaço especial para iniciativas sociais. Acho que temos uma responsabilidade enorme de estimular os jovens a uma atuação responsável. Todos nós, do marketing e comunicação, sabemos da visão crítica de consumidores cada vez mais conscientes da responsabilidade das empresas por um mundo melhor. É preciso que eles saibam que já não se aceita (e não se aceitará) mais empresas que só pensam no lucro, doa a quem doer.
O que se cobra hoje das empresas é uma postura solidária e responsável em todos os aspectos. Mas, além disso, espera-se a verdade, a transparência, a prática coerente com o discurso. Lembro-me de uma palestra que fiz numa universidade do Sul do Brasil quando previ uma maior valorização do profissional de comunicação que se proponha a conduzir sua carreira dentro dos princípios éticos que a sociedade tanto espera. No dia seguinte, recebi email de um dos alunos presentes dizendo que pretendia abandonar o curso de comunicação, mas resolveu continuar após minha palestra. Fiquei preocupado com a responsabilidade, mas acho que essa é nossa missão.
Que venham os jovens! E, com eles, a esperança de um mundo melhor.