B.O.

Na noite de quinta-feira, eram mais ou menos 2 horas da manhã, eu estava deitado lendo. Ao meu lado, minha mulher dormia. De repente vejo um revólver apontado para minha testa, com um sujeito encapuzado a gritar: “Fica quieto, não se mexa!” Um outro ameaçava Silvana com uma faca. Controlamos o pânico e nos mostramos dispostos a colaborar. Falei onde estavam as minhas coisas, expliquei como era a casa e que estávamos sós. Eles perguntavam pelos dólares, pelo ouro e pelo dinheiro. Ameaçavam nos matar caso a quantia não fosse de seu agrado. Minhas tentativas de valorizar o butim eram ridículas.

Parecia um antiquário elogiando quinquilharias. Meu consolo é que ninguém é muito digno com uma arma apontada para a cabeça. Vendi um relógio que ganhei de brinde da TV Globo como uma peça valiosíssima. Silvana tentou convencer que o tapete do quarto era um raro persa antigo. O relógio foi. O tapete não colou. Foram desmontando tudo e enviando para fora. Deitado, acompanhava como podia a movimentação deles. Abriam armários, remexiam gavetas.

Como numa loja, experimentavam minhas roupas, jogando no chão as que lhes pareciam chinfrins. No lado da Silvana, pegaram bolsas, casacos, carteiras e algumas bijuterias. Apesar do pavor e da necessidade de demonstrar controle emocional, quase dei risada quando um deles achou uma grande pedra de cristal e me perguntou se era diamante. Por quem me tomas?

Numa mala, foram colocando laptops, celulares, tablets e muitas bobagens, como o controle remoto da Apple TV. Do escritório, levaram televisão e alguns troféus. É meu segundo Leão de Cannes que os ladrões levam. Seriam publicitários?

Lula Vieira é publicitário, diretor da Mesa Consultoria de Comunicação, radialista, escritor, editor e professor