Bots do bem criam nova relação de cidadania com os usuários

No best seller “Eu, Robô” (1950), Isaac Asimov eternizou as três leis da robótica que determinam a relação dos máquinas com humanos para que sua convivência seja harmônica. Mais tarde, uma quarta lei foi criada sintetizando todas as outras: “um robô não pode causar mal à humanidade ou, por omissão, permitir que a humanidade sofra algum mal”.

Passado pouco mais de meio século, o russo provavelmente não poderia prever tamanha revolução tecnológica que favoreceu o avanço da sociedade em diversas esferas. A lua de mel, no entanto, não durou muito, e a mesma tecnologia também tem sido responsável por disseminar ódio na internet e pela interferência direta na democracia por meio da propagação de notícias falsas.

Reprodução

Rosie, a babá e governanta de Os Jetson, inspirou robô brasileiro que monitora gastos de políticos

Às vésperas das eleições presidenciais no Brasil, o Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS) acaba de lançar um serviço gratuito que ajuda os usuários a identificar nas redes sociais perfis que utilizam robôs. Segundo Marco Konopacki, coordenador do projeto, a ideia não é demonizar os bots, mesmo porque muitos estão sendo utilizados para promover a democracia e os direitos humanos (confira a lista abaixo), mas educar os usuários a saberem identificar o mau uso dos bots.

Reprodução

Por enquanto, serviço está disponível apenas para monitorar perfis no Twitter

“O Pega Bot surgiu em resposta ao cenário eleitoral complexo que vem se desenhando neste ano. Em 2014 e 2016 já percebemos aqui o crescimento do uso de notícias falsas e outros mecanismos não convencionais para influenciar os processos eleitorais”, explica o especialista. “Observando o que tem acontecido nos EUA e Reino Unido, a gente percebe que há grupos especializados nesse tipo de manipulação narrativa na internet para influenciar processos de decisão coletiva. Pensamos, então, em uma plataforma que ajude os eleitores a identificarem esses robôs”.

O serviço já está disponível para que os usuários testem os perfis do Twitter. A ideia é que pelo menos um mês antes das eleições, o Facebook e Instagram também estejam inclusos no projeto. Para averiguar se determinado perfil utiliza bots e se eles são benignos ou malignos, basta que o usuário acesse o site pegabot.com.br e digite o nome do perfil. A plataforma, então, fornece alguns gráficos com indicadores para que o usuário possa avaliar a procedência e intenção dos robôs, se utilizados.  

“Pensamos na plataforma como medida educativa para esclarecer o que são bots e como atuam. Nem todo o bot é ruim. Você tem robôs muito úteis, a maioria, aliás, mas eles acabam ofuscados por robôs que tentam manipular a esfera pública e desestabilizar emocionalmente as pessoas com o uso de fake news. A gente espera ter essa função pedagógica porque a linguagem sobre tecnologia não atinge a grande massa. Quando você torna mais lúdica essa interação, ajuda a democratizar o debate”.

A seguir, listamos alguns dos melhores robôs brasileiros em atividade.

@RosieDaSerenata

Bot do coletivo Operação Serenata de Amor que audita em tempo real a prestação de contas de deputados federais e senadores ao Tribunal de Contas e avisa em seu perfil no Twitter se algo suspeito no pedido de ressarcimento de gastos desses políticos é identificado. Desde que foi lançado em 2017, a robô já identificou R$ 3,6 milhões em reembolsos suspeitos. Nesta terça (17) a robô acaba de anunciar em sua página no Facebook que vai ampliar seu monitoramento para os gastos municipais  também. Vereadores, aguardem.

@BRWikiedits

Assistente de verificação que monitora a edição de verbetes da Wikipédia a partir das redes dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Usando machine learning, o bot  sinaliza em seu perfil no Twitter todas as atualizações feitas na enciclopédia virtual a partir de conexões do governo.

Betânia

Beta para os íntimos, a robô feminista foi criada pelo laboratório de ativismo Nossas. Além de receber denúncias de violência contra a mulher por meio de chat no Facebook, a Beta também fornece informações sobre a luta feminista, como projetos que estejam sendo debatidos no Congresso ou dicas de como lidar em situação de violência.