‘Brasil é o rock and roll da propaganda’, afirma CEO do D&AD
Em entrevista exclusiva ao propmark, Dara Lynch também falou sobre a relação da inteligência artificial com a criatividade humana
Indagada sobre o que achava do ‘brazilian advertising’, Dara Lynch, CEO do D&AD, foi direta: “Mais do que em qualquer outro mercado, em qualquer outro país, é definitivamente o rock and roll da propaganda”, respondeu Dara, que é irlandesa.
Na entrevista a seguir, a nova CEO do prestigiado festival britânico, com júris de 86 países, dá a mensagem do D&AD em relação ao uso de IA: “Uma das coisas que nós queremos garantir é que a indústria criativa acredite que o poder da criatividade humana não será substituído por tecnologia”.
Ela comenta ainda sobre relatório exclusivo produzido pelo festival sobre inteligência artificial. Por essência e tradição, o D&AD (que nasceu em Londres, em 1962, como uma exposição de peças) reúne as melhores ideias e mentes criativas - o prêmio é conhecido por ser um dos mais difíceis de se ganhar no mercado.
“É difícil mesmo vencer um Pencil”, disse. A executiva também fala sobre a importância de fomentar a indústria, com programas gratuitos de educação e formação de talentos emergentes, como o D&AD Shift (já em São Paulo) e o New Blood. Dara tem uma visão otimista sobre a IA e a criatividade humana.
Há quanto tempo você é CEO do D&AD?
Eu fui indicada como CEO no verão passado. Antes disso, eu era a COO (chief operating officer), e juntei-me ao D&AD há 18 anos. Meu trabalho era reestruturar a organização, redesenhar a estratégia do negócio. E então, me foi oferecido o papel de COO oficialmente, e eu decidi que o que o D&AD precisava era uma grande personalidade, uma grande figura na indústria, porque eu não era muito conhecida naquela época. Foi aí que trouxemos o Tim Lindsay, que se tornou nosso CEO. Quando o Tim se retirou, essa oportunidade surgiu novamente, e o board me perguntou se eu consideraria ser CEO.
Quais são os seus desafios?
Eu acho que o principal desafio como CEO do D&AD é permanecer relevante para a maior parte da indústria. Particularmente agora, quando o mercado está se transformando. Isso tem a ver com a tecnologia, especialmente entre as empresas e as redes, mas também a economia criativa está se descentralizando, está mudando. Então, a criatividade está em todos os lugares. Pode estar na economia criativa, na in-housing. O design permaneceu relativamente consistente, em termos de preços e de clientes, mas eu acho que o lado comercial está se descentralizando massivamente. E, portanto, nós temos de pensar agilmente, nós temos de pensar para a frente, nós temos de entender o que está acontecendo lá fora, para que possamos resolver alguns dos problemas que a nossa indústria está enfrentando.
E qual legado o D&AD pode levar para a indústria?
Uma das coisas que nós queremos garantir é que a indústria criativa acredite que o poder da criatividade humana não será substituído por tecnologia. Pessoalmente, eu sinto que quanto mais a tecnologia evolui, mais a criatividade humana pode expandir, porque o cérebro humano se adapta rapidamente. Se a criatividade humana, a humanidade da criatividade humana, a emoção, a relevância, a autenticidade permaneceram, isso seria um dos legados do D&AD. A segunda coisa que nós destacamos, principalmente como organização, e que eu me sinto apaixonada, é por formação de talentos. Nós somos sobre talento no fim do dia. Um dos legados que queremos deixar para a indústria é garantir o desenvolvimento dos talentos, de um pensamento mais amplo e diverso. Se você pensar em um mercado que é totalmente alimentado por pessoas que se parecem, pensam igual, você não pode ter o melhor pensamento criativo e diverso. É bom para as marcas ter talentos que entendam das próprias comunidades. As pesquisas mostram que, com mais pensamento diverso, o valor do negócio aumenta. Esses são os dois pontos fundamentais para alimentarmos na indústria: a importância da criatividade humana e a importância dos talentos diversos.
Você acredita que a IA traz riscos para a criatividade humana?
Eu acho que há uma ansiedade que ela vai deslocar a criatividade do pensamento humano para o pensamento tecnológico. Pessoalmente, acho que o cenário é realmente emocionante. As pessoas se preocupam se os robôs vão fazer o seu trabalho, ocupar o seu lugar. E haverá um pouco disso, sem dúvida. Mas, será que a tecnologia vai ser capaz de reproduzir realmente a emoção humana? Eu não sei. E eu acho que ninguém ainda sabe disso. Mas, até que saibamos disso, eu acho que temos de assumir que não.
O cérebro é um órgão adaptativo, acho que ele vai mudar, vai expandir e a tecnologia libertará a humanidade para pensar diferente. Então, eu acho que o quadro é otimista. Mas, sim, eu acho que haverá deslocamento dentro da nossa indústria, a indústria mudará por causa disso. Isso já está acontecendo com o aumento das redes independentes, por exemplo. Aqueles que querem transformar seus modelos de negócio com mais dados e ainda colocar a criatividade no centro, se adaptarão. Mas eu acho que a criatividade vai surgir mais forte e mais poderosa como resultado disso.
E a questão ética que a IA implica, como fica isso na prática?
É definitivamente uma das preocupações que notamos no relatório sobre IA que divulgamos durante o festival neste ano. Mas nós acreditamos que há formas de ajudar a indústria a formar princípios para guiar o mercado. Uma das ideias é criar um tipo de código de comportamento para uso de IA. Mas isso é um trabalho em progresso, em colaboração com o mercado.
Leia a entrevista completa na edição do propmark de 18 de agosto de 2025