Brasil, quanto mais muda, mais fica igual
O Brasil recomeçou, mas não a toda como se esperava e sempre tem acontecido quando o Carnaval invade março.
Há, sem dúvida, um país “diferente” dos anteriores, mantendo o mesmo noticiário político e o “constrangimento” de autoridades máximas do Poder Judiciário ao mudarem para pior o que nem deveria ter sido objeto de análises que culminariam com as mudanças agora ocorridas.
Referimo-nos à decisão do STF, que entregou à Justiça Eleitoral, doravante, casos como o da Lava Jato, enfraquecendo a nosso ver a ação da Lava Jato sobre os mesmos. As razões dessa decisão do Colegiado não ficaram claras, tendo em vista principalmente que a corrupção política foi duramente atingida durante o status anterior.
Acreditamos que essa decisão mudará seriamente o curso das futuras investigações e dos procedimentos judiciais até então em vigor, fazendo-nos correr o risco de darmos um passo atrás no combate à corrupção política.
Trata-se de um fato negativo logo no início do ano, a se juntar a tantos outros que já ocorreram em nosso país, marcando 2019 como um ano ruim, pelo menos neste seu início que pode contaminar todo o seu transcurso.
Na atividade publicitária, porém, que é o foco principal deste semanário, assistimos a uma evolução acelerada das agências, anunciantes e da mídia, em direção à conquista do consumidor.
Em que pese, como no início dissemos, que esta quadra do ano não tem sido como se esperava, há todavia uma luta pela indiferença do mercado da comunicação em relação aos acontecimentos ruins que nos cercam.
Esse comportamento pode ser comparado a uma espécie de rede de proteção, para isolar quem esperava por tanto em termos de rápidas mudanças no estamento nacional, deparando-se agora e aos poucos que tudo pode permanecer como dantes no quartel do Abrantes e até pior, dizem alguns, se dermos muita importância ao fato.
Então, o que nos resta e recomendamos aos nossos leitores é fazermos a nossa parte, cada vez com maior brilho, deixando nossas cercanias e suas contumazes trapalhadas, movidas quase sempre por escusos interesses, à margem se não dos fatos, ao menos do nosso círculo de trabalho e atuação, sempre que possível.
Porque é inevitável: vamos ter de reconhecer uma vez mais nestes últimos tempos, que há uma imensa dicotomia entre o Brasil oficial e o país que em muitos segmentos particulares moderniza-se, luta para se equiparar aos melhores do planeta, ganha prêmios e é extremamente reconhecido lá fora e ainda é obrigado a pagar a conta dos descalabros que aqui se repetem entra ano e sai ano.
Há solução? Se há, ainda não a encontramos. As que tentamos, dentro da normalidade democrática, não deram certo. E não queremos outra forma de condição política a prevalecer em nosso país, porque o que está ruim tenderá sem dúvida a piorar.
Assim sendo, caros leitores, vamos cuidar de melhorar o nosso entorno, aquilo que nos cerca de forma muito próxima, caprichando ainda mais desses limites para dentro, servindo como exemplo a quem souber aproveitá-lo, de que existe, sim, uma atividade que se espalha por todo o país e, tendo fincado suas fronteiras na mágica palavra que designa o marketing, foi sucessivamente influenciando o seu território interior.
Todas as subfunções do marketing aqui no Brasil, com destaque para a propaganda, são realmente de Primeiro Mundo, contrastando com os absurdos de algumas outras atividades profissionais e empresariais com que nos deparamos diariamente do lado de fora da nossa fronteira e precisam melhorar muito para se aproximarem dos nossos limites.
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A maior delegação estrangeira presente ao SXSW (South by Southwest), que acaba de se realizar em Austin, no Texas, mostrou como o mundo abaixo da linha do Equador pode melhorar muito, se cuidar de seguir as inovações nele exibidas.
Trazemos um pouco desse festival aos nossos leitores nesta edição, em um trabalho invejável da nossa Redação, executado por quem foi até o festival e por quem ficou na retaguarda, cuidando de transformar rapidamente em notícia as informações que não paravam de chegar. Note-se como o brasileiro está a fim de mudar o seu país, embora ainda sem muita força política para isso: a delegação estrangeira de maior presença no evento foi a nossa, atestando nossa inquietação por mudanças, ainda que num festival em sua maioria de objetivos tecnológicos, o que em nosso país estamos bem, embora de forma limitada quando lembramos do tamanho da nossa população.
Na verdade, o que mais queremos e precisamos é também frequentar eventos de formação política, que ensinem principalmente como dirigir um país sem a criação inevitável de castas, como ocorre entre nós desde 1500.
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Imperdível o artigo assinado por Guilherme Stoliar, presidente do Grupo Silvio Santos, apresentando uma reflexão sobre a internet e a TV aberta, na Folha de quinta, 14/3.
Com a propriedade de quem está profundamente mergulhado no meio e de há muito, Stoliar parte de três dados fundamentais para responder ao final o que acontecerá com a TV aberta diante da internet banda larga nos próximos cinco anos: antes da internet banda larga, 100% da população brasileira frequentava a TV aberta; em nosso país, mais de 70% das famílias vivem com uma renda familiar inferior a R$ 3 mil/mês; os demais 30% até podem ter banda larga, Netflix, cabo e outras formas de se informar e entreter. O que se constata, porém, é que todos prosseguem vendo a TV aberta.
Concluindo seu artigo por partes, Stoliar se fixa inicialmente na TV aberta, que segundo ele ainda não se estabilizou. Confessa que a receita neste começo de ano está menor, apontando porém para a falta das verbas de governo neste período. Garante que o público da TV aberta ficará restrito às pessoas com renda familiar de até 3 mil/mês, observando que esse grupo é representado por 70% da população brasileira. E lembra que a TV aberta tem 80% da sua receita advinda de aproximadamente 100 grandes clientes, que a partir da crise de 2015 e as novas possibilidades da internet reduziram suas verbas na TV aberta, que hoje fatura 70% do que faturava em 2014.
Mas, para encerrar, Stoliar dá a chave da questão: chamando a Globo de Cirque du Soleil, informa que um anunciante aplicará R$ 800 mil para uma audiência de 30 pontos, enquanto que fazendo um anúncio nas novelas do SBT, Record e Band, que ele chama de Circo Garcia, para atingir os mesmos 30 pontos gastará R$ 250 mil.
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O Grupo Globo (somadas todas as empresas) teve receita de R$ 14,6 bilhões no seu ano fiscal de 2018, apresentando queda de 1% em comparação com 2017.
Seu lucro líquido alcançou em 2018 R$ 1,2 bilhão, frente a R$ 1,9 bilhão em 2017.
Armando Ferrentini é presidente da Editora Referência, que publica o PROPMARK e as revistas Marketing e Propaganda (aferrentini@editorareferencia.com.br).