Brics ganham destaque em inovação

 

Os países que constituem os Brics ganham destaque no novo ranking global de inovação “Global Innovation Index”, em especial a Rússia, que subiu 13 posições e ocupa o 49º lugar; e a China, atual 29ª colocada no ranking geral e que subiu seis posições no último ano. O Brasil, apesar de ser a oitava maior economia do mundo, subiu apenas três posições e ocupa a 61ª posição, revelando sua fragilidade na área ao manter-se abaixo de países como Barbados, Chile e Panamá (veja tabela abaixo), mas está entre as nações consideradas de maior potencial de crescimento nessa área, segundo os analistas envolvidos no estudo, nesse jogo de dimensões globais chamado inovação.

A Suíça é – pelo quarto ano consecutivo – o país de economia mais inovadora do planeta, segundo o raking que pesquisa 143 países produzido pela Cornell University, pela escola de negócios Insead e pela WIPO (Organização Mundial de Propriedade Intelectual). Os países mais inovadores, segundo o ranking, são aqueles que conseguiram criar ecossistemas inovadores em que o capital humano é combinado a infraestruturas inovadoras, contribuindo para altos índices de criatividade.

Rússia e China são, por sinal, os países mais surpreendentes do ranking, próximos de diversos países de economia altamente desenvolvida, pois têm claramente investido forte em ecossistemas inovadores e monitorado a qualidade de seus indicadores de inovação. Na América Latina e Caribe, considerada no ranking uma só região, o Brasil aparece em quinto, sendo que os quatro primeiros colocados são Barbados (41º no ranking geral), Chile (46º ), Panamá (52º) e Costa Rica (57ª).

Melhorias

Entre as economias menos desenvolvidas, a região da África ao sul do deserto do Saara – que inclui Quênia, Congo, Zâmbia, Uganda, Senegal, Nigéria, entre outros – foi considerada a que apresentou melhoria mais significativa nos índices do estudo. A Costa do Marfim, por exemplo, subiu 20 posições, sendo que Maurício assumiu a liderança da região, em 40º lugar no ranking.

Bruno Lanvin, diretor-executivo para índices globais da Insead e coautor do relatório, diz que como a inovação se tornou um jogo global, um número crescente de economias emergentes está sendo confrontado com questões bastante complexas, em que o chamado “ganho cerebral” (Brain Gain) só se conquista através de um delicado equilíbrio entre a saída e a entrada de talentos – buscando formação fora, por exemplo, e retornando com novas ideias, abrindo empresas e criando empregos, e contribuindo para ampliar a competitividade do país. “No mundo inteiro encontramos sinalizadores encorajadores de que isso vem de fato ocorrendo”, disse Lanvin.

Há no estudo outro ranking, que se refere à qualidade da inovação – como a performance de universidades, o alcance de artigos acadêmicos e a dimensão internacional de aplicação de patentes. Nesse ranking os Estados Unidos lideram entre as economias desenvolvidas, seguidos de Japão, Alemanha e Suíça, embora no ranking geral os Estados Unidos apareçam na sexta posição, seguidos de Cingapura, Dinamarca, Luxemburgo e Hong Kong.

O relatório geral trabalha com a média de dois subíndices. O primeiro é chamado Innovation Input Sub-Index e combina elementos da economia de cada país a atividades de inovação baseadas em cinco pilares: instituições, capital humano e pesquisa, infraestrutura, sofisticação de mercado e sofisticação de negócios. O segundo é o Inovation Output Sub-Index e considera a produção de cada país em conhecimentos e tecnologia e criatividade.

Eficiência

Os critérios do GII são bastante rígidos e complexos, o que justifica a posição do Brasil ainda pouco representativa. Mas há otimismo no fim do túnel, apesar dos problemas enfrentados para evoluir. É interessante observar que o país, em 2011, encontrava-se na 47ª posição; em 2012, na 58ª; e caiu para a 64ª no ano passado, recuperando-se um pouco este ano. Segundo o estudo, a recuperação maior foi em eficiência, e no ranking específico desse índice o Brasil aparece na oitava posição na América Latina – abaixo ainda de Venezuela, Panamá, República Dominicana, Costa Rica, Argentina, Paraguai e Guianas – na frente do Uruguai e do México.

A pontuação brasileira em ambos os subíndices citados anteriormente – Input e Output – se mantém praticamente estagnada desde 2011. Mas a performance brasileira é sensivelmente melhor no subíndice de Output (que considera produção de conhecimento e tecnologia e criatividade) do que no Input. Algumas outras forças apontadas no Brasil, em especial, são a qualidade das três melhores universidades, força no cenário da internet, absorção de conhecimento e pagamentos de royalties e licenciamentos, entre outros.

Segundo o relatório, nenhuma das cinco principais economias da América Latina avaliadas conseguiu pontuação suficiente para ingressar no que eles denominam “Aprendizes de inovação” (Innovation learners). São economias de médio porte que conseguem superar, no PIB, em pelo menos 10% os demais países de sua região e apresentam níveis de inovação crescentes. Estão neste grupo, por exemplo, China, Malásia, Tailândia, Uganda, Moçambique, Ruanda, Mongólia, Índia e Vietnã.

Se a inovação é um fator fortemente dependente de pessoas e qualificação profissional, entre as nossas mazelas estão, certamente no topo da cadeia, a educação – o maior influenciador no atraso da inovação. Entre as maiores fraquezas apontadas pelo ranking estão capital humano e pesquisa – e estes consideram, por exemplo, o ranking Pisa de educação mundial, em que o Brasil se mantém no 38º lugar e cujas primeiras posições são dominadas pelos asiáticos – Cingapura, Coreia do Sul, Japão e China.

Escola

A Times Higher Education divulgou recentemente o ranking das melhores universidades do mundo – no qual oito americanas estão entre as 10 primeiras, sendo que lideram a Harvard, o Massachusetts Institute of Technology e a Stanford University, seguida das britânicas Cambridge e Oxford. A única brasileira entre as 100 – a USP (Universidade de São Paulo) – aparece entre a 80ª e a 90ª posição.

Outras fraquezas apontadas são a dificuldade de iniciar novos negócios, altos impostos, baixos índices de graduação em ciência e engenharia, entre vários outros. A baixa cooperação entre a iniciativa privada e as universidades, por exemplo, também prejudica o Brasil – basta lembrar que algumas das maiores empresas da atualidade, como Google e Facebook, nasceram nos domínios de universidades americanas.

No Cannes Lions deste ano, o astrofísico “pop” Neil deGrasse Tyson disse que, embora os países desenvolvidos ainda sejam aqueles onde a ciência é mais criativa, a tendência aponta para mudanças importantes: Ásia, Brasil e outras regiões emergentes tornam-se mais criativos cientificamente. O segredo, segundo ele, está em valorizar a resolução de problemas e correr mais riscos. É necessária certa “cultura da irreverência”. “É preciso continuar errando para buscar o acerto. Sem errar não se vai além. Nunca se ultrapassa os limites já conquistados”, disse.