Busca por relevância e imediatismo
O designer Leonardo Massarelli, sócio da paulistana Questto|Nó – que mantém parceria e presença também na Suíça, na cidade de Kreuzlingen –, nunca foi ao Festival de Cannes, mas já inscreveu por lá algumas vezes e no ano passado levou Leão em Innovation com o projeto “Fiat Live Store”, da Isobar Brasil, para o qual desenvolveu o capacete. Massarelli afirma que está tranquilo para realizar, no júri de Product Design, o que ele chama de “julgamento por merecimento”. Confessa ser do tipo “chato” em júris, mas por um bom motivo: a busca meticulosa pela relevância e pelo ineditismo. O propmark conversou com ele sobre a futura experiência, cujos principais trechos reproduzimos aqui.
A ESCOLHA
“Acredito que fui escolhido para ser jurado pela experiência nos múltiplos mercados em que atuamos, pelo reconhecimento internacional que alcançamos e pela simpatia, é claro… (risos).”
PRÊMIOS
“Valorizamos e nos inscrevemos em muitos prêmios. Temos mais de 130 prêmios conquistados, entre nacionais e internacionais. Prêmios são uma ferramenta de promoção do trabalho, uma ferramenta de motivação da equipe, além de ser um selo de qualidade do trabalho.”
CANNES
“É um grande festival voltado para temas criativos, mas que ainda está muito focado em publicidade.”
CHATO
“Gosto de ser jurado. Já fui júri de alguns festivais e acho interessante poder contribuir com uma avaliação criativa sobre os projetos. Sou do tipo ‘chato’, detalhista. Procuro não me espantar com uma boa apresentação apenas, mas com a essência da proposta, com sua relevância e ineditismo. Pretendo ser dessa mesma forma em Cannes. Quero ver coisas realmente novas. Conversei com alguns jurados de edições anteriores e a impressão que tive é que Cannes tem um processo realmente bastante sério, onde o júri deve ser forte em sua votação.”
EXPECTATIVA
“Espero ver projetos grandes e transformadores. Espero também que possamos ter muitos premiados brasileiros. Não sinto pressão não. Estou totalmente tranquilo para fazer um julgamento por merecimento.”
DESIGN EM CANNES
“Trata-se do mais tradicional prêmio da publicidade, que vem se esforçando para ampliar os horizontes. Ainda não consigo fazer uma avaliação precisa, pois tudo é muito novo. Acho a inclusão do Design, especialmente Product Design, muito simbólica, já que retrata a grande transformação pela qual o mercado criativo está passando. Criar mensagens apenas não se mostra mais tão eficiente. É preciso criar experiências inteiras e nesse lugar design é fundamental. Costumo dizer que os produtos de uma empresa são sua maior forma de expressão, a maior experiência de marca, sua maior comunicação. A linha está cada vez mais fina entre os universos criativos que agregam valor às marcas.”
RELEVÂNCIA
“Muitas vezes design ainda é confundido com estética, sendo essa apenas uma das dimensões trabalhadas pela disciplina. Espero entregar prêmios além disso, prêmios para propostas que entregam relevância, eficácia e novidade.”
AGÊNCIAS
“Vejo de forma muito tranquila as muitas agências de publicidade que conquistam prêmios em Design. É um festival historicamente da comunidade da publicidade, que, aos poucos, se deixa mais poroso para outras áreas, como a nossa. Sendo assim, ainda são poucos os inscritos nessa categoria. Poucos estúdios de design inscrevem seus trabalhos por várias razões. O mercado, comparado ao da propaganda, ainda é jovem. Existem muitos escritórios de design pequenos de excelente qualidade, mas para os quais inscrever em prêmios como esse é um esforço hercúleo. Vejo uma transformação ao longo dos próximos anos. É sentar e esperar.”
BRASILEIRO
“Criatividade certamente não falta às empresas de design no país, até porque a maioria esmagadora de trabalhos de design que existem no mundo é realizada por agências de design e não de publicidade. É um ecossistema pronto, que ganha cada vez mais força. O que falta é tempo para plugar em Cannes, achar a melhor maneira de comunicar seus cases para o formato do festival. Especificamente falando sobre o design brasileiro, que frente a alguns países ainda está em fase de amadurecimento, somos cada vez mais competitivos. Por exemplo, nos grandes prêmios de design internacional, como Idea, Reddot ou IF Design Awards, temos o Brasil como um dos principais e mais premiados países. O design no Brasil também é crescente e cada vez mais poderoso. Ele está intimamente ligado às marcas e às indústrias. Se esse ambiente evolui, o design evolui. Se tivermos uma estagnação no cenário econômico e educacional, certamente frearemos o processo do design também. Temos grandes nomes do design, grandes agências, cases importantíssimos e estamos, cada vez mais, exportando serviços de design. Engana-se quem pensa que exportamos apenas para países menores que o nosso. Exportamos também para países como Alemanha, EUA e França, entre outros.”
DESAFIOS
“Sinto verdadeiramente que já vencemos grande desafios. O desafio maior agora é o do tempo, de pulverizar os aprendizados e benefícios que a inovação pelo design pode trazer às empresas do mundo todo. Recentemente saiu mais um estudo londrino sobre o impacto do design nas empresas, comparando o desempenho de uma centena de empresas de capital aberto na bolsa de valores. Aquelas que se utilizam de design de forma estratégica (design no DNA da empresa) têm um desempenho para lá de superior às demais.”
TENDÊNCIA
“A tendência é, claramente, estudar o ser humano. Apreender o que é valor de fato para ele. Diria também que as questões da tecnologia, internet das coisas e sustentabilidade são extremamente importantes para o futuro do design.”
HISTÓRIA
“Comecei meu estúdio quando me formei. Nunca estagiei e com isso pude criar as coisas da minha forma. Acredito que o design tem um potencial muito grande de transformação. Ele pensa em coisas perenes que as pessoas vão usar por muito tempo. Sinto que podemos transformar. Olhe para os lados, tudo foi projetado por alguém.”