Camil: “A gente abraçou essa coisa de ensinar as pessoas a cozinhar”
“Como setor de alimentos, a Camil não parou em momento algum e a grande missão foi manter as gôndolas cheias. No começo da pandemia, as pessoas estavam com medo de faltar alimentos no Brasil. Colocamos todos os colaboradores em home office, coisa que a gente nunca imaginou fazer porque, diferentemente das multinacionais, nós somos uma empresa brasileira, familiar. A presença física sempre foi muito valorizada. A gente não tinha o hábito de videoconferência porque era tudo presencial. E tivemos um grande desafio de manter os caminhoneiros girando, já que começou a fechar tudo e não tinha posto de abastecimento aberto, nem onde eles comerem.
Então, começamos a dar cesta básica para os caminhoneiros, kit de higiene,
álcool em gel e máscaras para eles poderem circular. Depois iniciaram os protocolos de segurança e não tínhamos, por exemplo, uma filial na Europa para nos iluminar, foi tudo muito na raça. O marketing andou de mãos dadas com o departamento de RH, gerenciando a crise, toda a parte de reputação para fora e ajudando na comunicação interna. A gente adesivou todas as instalações para distanciamento, demos máscaras e álcool em gel para todo mundo.
E do ponto de vista das marcas, a nossa principal preocupação foi estar do lado do nosso consumidor, porque ninguém nunca passou por nada parecido na vida e as pessoas estavam muito ansiosas. A gente focou todo o nosso investimento em search, no CyberCook, que é um parceiro nosso, para ensinar as pessoas a prepararem a comida, com parceria com a Rita Lobo também, porque elas se abasteceram e muita gente não sabia diversificar o cardápio. Hoje não dá para viver só de delivery e as pessoas tiveram de aprender a cozinhar.
A gente acredita muito que o marketing transforma a sociedade. No caso do arroz com feijão, que é a base da alimentação do brasileiro, a gente abraçou essa coisa de ensinar as pessoas a cozinharem, trazendo serviços com a Rita Lobo como embaixadora. Com a marca União, a gente abraçou a causa do fique em casa. Nas redes sociais, pegamos as artes dos nossos sachês de açúcar e falamos coisas do tipo: ‘sorria mais… em casa’; ‘curta momentos a dois… em casa’. A campanha (criada pela Lew’Lara\TBWA) foi tão bem recebida que tanto a JCDecaux quanto a Otima nos deram os out of home, em São Paulo, para que nos meses de abril e maio a cidade inteira ficasse vestida com essas mensagens para as pessoas ficarem em casa.
A Camil tem mais de 20 marcas e a comunicação foi muito importante no sentido de ajudar a ser mais assertivo na colocação de produtos. Como companhia, a gente acredita que o cozinhar também é um formador de caráter da família e a gente acha que a pandemia resgatou um pouco isso, de as pessoas passarem mais tempo juntas, criarem novos rituais, novas receitas.
A gente vê a pandemia da seguinte forma: o primeiro momento foi de pânico, do medo do desabastecimento; daí veio a acomodação; num segundo momento, as pessoas aprenderam a cozinhar, teve a questão da goumertização. Agora, com a reabertura, a gente vê muito a questão da comida de mobilidade. As pessoas estão fazendo marmita para levar ao trabalho, seja por uma questão de segurança ou econômica. Também estamos trabalhando muito a questão do reaproveitamento da comida. Esse Natal, por exemplo, vai ser superdiferente. A gente imagina que vai haver pequenas e várias confraternizações, serão vários ‘Natais’ com pequenos grupos em casa.”