Carne humana é a solução para alimentar a população?

A Federação Sueca de Alimentos usou a história de impacto para enaltecer os compromissos da cadeia produtiva de alimentos

Você se assustou com o título deste texto? Pois é... Esse susto fez a campanha “Eat a Swede” (Coma um Sueco) ganhar Grand Prix na categoria Lions Entertainment. Um vídeo de 18,5 minutos com jeito de documentário nos faz acreditar na proposta de um cientista sueco de usar células humanas para produzir e comercializar carne. Até o famoso ator Alexander Skarsgard foi envolvido com a proposta de usar células de seu belo corpo para produzir carne. O suposto documentário trata tudo como se fosse real, mostrando as reações incrédulas de investidores procurados pelo cientista e do próprio ator.

Logicamente, todos rechaçam a ideia veementemente. Mas a explicação só acontece quando você entra no site eataswede.com. Na verdade, o site é da Federação Sueca de Alimentos, que usou a história de impacto para enaltecer os compromissos da cadeia produtiva de alimentos da Suécia em ser mais sustentável até 2030.

São 5 os compromissos assumidos: 1- Tornar-se uma indústria fóssil-free; 2- Cortar desperdício de alimentos pela metade; 3- Usar embalagens 100% recicláveis; 4- Estabelecer boas condições para todos os stakeholders da cadeia alimentar da Suécia e 5- Usar água de forma mais eficiente. E a mensagem final é Don’t eat a Sweden – Go Swegan! Eat like a Swede. (Coma como um Sueco). Muito eficiente!

Com aproximadamente 1/3 das categorias revelando ganhadores até agora, o Cannes Lions 2022 reflete iniciativas mais de cunho institucional do que de marketing, de produto. A maioria dos Grand Prix é assinada por instituições, como a Federação Sueca descrita no case acima, ou por empresas, mas com essa pegada mais institucional. Como o belíssimo case ganhador de GP em Design, da editora Penguin, tratando de uma releitura artística da constituição portuguesa.

Ou o GP da categoria Print & Publishing, do jornal Annahar, dos Emirados Árabes, doando todo o papel que seria usado para impressão de uma edição para o governo, para forçar a realização de eleições naquele país. Ou ainda o belo case da agência Africa, ganhador de Ouro na categoria Outdoor, criando a figura inusitada de um Jatobá Refugiado. Exceções feitas a Adidas e sua concorrente Nike, com GPs nas categorias Outdoor e Entertainment for Sport, respectivamente, ambas focadas em questões femininas.

Há ainda a bela iniciativa de recuperar corais, do fabricante de ração para gatos Sheba. É muito bom ver iniciativas de cunho social e ambiental ganhar prêmios, mas eu ainda fico na expectativa de ver cases de pegada mais comercial, de promoção de produtos, usando os princípios ESG de uma forma mais mercadológica, impregnando a comunicação vendedora com mensagens positivas. Mas ainda temos muitas categorias pela frente. A ver...